Ao comboio de Donald acaba-se o vapor

O pior pesadelo dos militares é quando os políticos se armam em soldados, quando assuntos que pertencem a aqueles que sabem o que fazem, onde e para quê enviam os seus homens são tirados das suas mãos e postos nas dum engravatado qualquer de motivos cinzentos. A guerra no Iraque tem todos os sinais de ser uma daquelas guerras feitas por encomenda dos políticos, por encomenda da Casa Branca e do seu homen no Pentágono, Donald Rumsfeld, uma guerra imposta sobre os militares, esforçados contra a sua vontade de por um plano muito arriscado e a priori, irresponsável, em acção.

O resultado, vê-se. Cada dia que passa neste conflito, fica cada vez mais cristalina que não foi planeada por militares. Primeiro disseram, que uma campanha-relâmpago iria correr pelo deserto dentro como um furacão, levada numa onda de euforia enquanto o regime “odioso” de “Saddam” caísse quando os suprimidos, ora libertados, iraquianos se sublevassem, ansiosos por uma democracia e liberdade estampadas com o carimbo dos Estados Unidos da América.

As declarações iniciais que uma divisão inteira iraquiana, a 51ª, se tinha rendida, levantou o sobrolho daqueles que sabem o que dizem: uma divisão no exército iraquiano tem cerca de 35,000 homens. Mais tarde, disse o Pentágono que o número de prisioneiros de guerra era 8,000 homens e dez dias depois, só quatro mil homens. De 35,000 a 8,000 a 4,000 em dez dias, eis os números do Pentágono, eis a informação “fiel e fiável” de Donald Rumsfeld.

Eram estes os primeiros sinais que as coisas não corriam bem, que corriam bastante mal, que o Pentágono, ou seja, Donald Rumsfeld, tinha feito um erro monumental, como se tivesse esforçado os seus generais a aceitarem um plano para um pacote a curto prazo, com um número mais reduzido de soldados, a um custo mais baixo possível, dando a luz verde a sua fantasia dum a guerra tipo “blitzkrieg” no deserto.

Como sempre, quando os políticos interferem, os resultado é uma catástrofe. “Está tudo a correr de acordo com os planos”, dizem os porta-voz do Pentágono. Com certeza, mas não com o plano original, o plano de Donald Rumsfeld. Não há dúvida que o poderio militar dos EUA e a perícia no campo dos soldados britânicos (como sempre cabe a eles as tarefas mais arriscadas) prevaleceria no longo prazo contra as forças do Iraque.

As forças da coligação têm a capacidade de efectuarem bombardeamentos maciços sobre as cidades do Iraque, assassinando cada homem, mulher e criança. Contudo, não estamos nos anos 1940 e é aí o cerne da questão. Donald Rumsfeld é um anacronismo, um membro dos restos da psicose tipo caça à bruxa iniciada por McCarthy, um reflexo da América Hitleriana.

Hoje em dia, a coligação não pode efectuar bombardeamentos maciços sobre as cidades. A única maneira a conduzir esta guerra, já que é ilegal (não tendo o aval da ONU nem correspondendo a nenhuma das cláusulas sobre as quais a guerra poderá ser travada), teria sido uma campanha com a duração duma semana, seguida por um esforço humanitário em grande escala. Porém os militares sabiam que isso seria impossível porque os militares, nas suas academias, estudam não só a táctica mas também a história. Nas academias, têm contacto com militares de outros países, incluindo os oficiais do Iraque, muitos dos quais estudam em West Point ou em Sandhurst.

Como instituição, os militares respeitem uns aos outros, sejam estes amigos ou inimigos e os militares bem sabiam que qualquer invasão do Iraque encontraria uma resistência feroz. A realidade actual, o resultado da guerra de Rumsfeld, é um desastre. Às forças da coligação acabou-se o combustível, acabou-se a comida, estão parados, não conseguem tomar uma única cidade, encontrando uma reacção que consideraram impensável quer do exército regular, quer da Guarda Republicana e entre os civis, um ódio crescente.

Rumsfeld diz tudo quando afirma que não pode haver um cessar-fogo, ao mesmo tempo que fontes militares norte-americanos declaram à imprensa internacional que deveria haver uma pausa de entre quatro a seis semanas. Prevê-se um aumento de tensão entre os políticos e os militares, entre os britânicos e os norte-americanos, entre a população no Iraque e no Médio-Oriente e entre a comunidade internacional.

Este conflito tem todos os sinais duma guerra política. Os políticos frequentemente falam muito sem dizer nada mas no caso de Rumsfeld, é mais grave: a abordagem tipo Alzheimer à gestão de crises morreu com a presidência do Ronald Reagan, mas é precisamente esta abordagem tipo Alzheimer a esta guerra que põe a vida de milhares das suas tropas e centenas de milhar de civis inocentes em risco.

Rumsfeld, como Bush e Blair, é um criminoso de guerra e um assassino não só dos civis iraquianos mas também das suas próprias tropas e as dos seus aliados.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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