O ramo de "revoluções das rosas"

A reacção dura do Ocidente aos resultados das eleições do presidente ucraniano provocou uma reacção idêntica e, talvez, sem precedentes de Moscovo. Podemo-nos lembrar da confrontação durante a guerra na Jugoslávia, mas naquela altura a Rússia tinha um outro presidente e outra política externa e interna.

Hoje, porém, Putin, cujo motivo dominante na diplomacia se tornou a parceria real com o Ocidente, é duro como nunca. Por quê?

Evidentemente, por força de laços históricos e culturais milenários, a Ucrânia tem uma importância quase sagrada para a Rússia.

Evidentemente, numa altura em que Moscovo está preocupada com a aproximação da NATO não é do seu interesse admitir a entrada de mais uma potência na esfera de influência da aliança.

Evidentemente, a Ucrânia, como país de trânsito dos hidrocarbonetos russos, tem para Moscovo uma grande importância geopolítica.

Evidentemente, está em jogo o prestígio internacional do Presidente, que deve provar em que grau é real a sua influência no país vizinho, o mais importante para a Rússia no espaço pós-soviético.

Contudo, há ainda outra causa que faz com que Putin não tenha o direito de perder a "partida" ucraniana.

Tudo o que agora acontece em Kiev está ligado directamente às eleições do presidente russo em 2008. Por mais que a elite política de Moscovo fale sobre os métodos de manutenção do poder por Putin após o fim do seu mandato, as eleições terão lugar. A questão é em que ambiente elas irão decorrer.

Em algumas antigas repúblicas soviéticas, os próximos anos poderão ser marcados por uma série de "revoluções das rosas". A antiga elite soviética, que hoje está no poder, deverá passar mais cedo ou mais tarde a prova das eleições. A Ucrânia pode ser seguida pelo Cazaquistão, Quirguízia e Uzbequistão. É pouco provável que o Ocidente concorde com a transferência suave do poder para os herdeiros de nomenclatura. A alternativa tornou-se evidente há um ano em Tbilissi e hoje em Kiev.

Moscovo participou muito activamente na campanha eleitoral na Ucrânia, actuando abertamente do lado de Yanukovitch. Na véspera das eleições, Putin visitou duas vezes a Ucrânia. Mas não nos devemos esquecer que este ano em Kiev estiveram também Bush-sénior, Albright e Brzezinski. Trata-se apenas do primeiro escalão. Nos bastidores encontram-se 600 conselheiros que trabalharam na campanha de Yuschenko, significativos meios financeiros e organizativos utilizados para a organização de comícios e manifestações que actualmente decorrem em Kiev. Quando se vê as filas de tendas alinhadas na Praça de Independência, é difícil livrar-se da impressão de que tudo isto não foi preparado de antemão.

Em Kiev já estiveram também representantes das principais organizações europeias. Contudo, é pouco provável que estes emissários sejam considerados imparciais depois das declarações sobre a ilegitimidade das eleições. Pelo contrário, impõe-se a conclusão sobre o apoio financeiro e ideológico dos países ocidentais às acções anticonstitucionais da oposição. As formulações vagas das declarações da UE e Estados Unidos não dão razões para demarches diplomáticas, mas são avaliadas pela opinião pública como apoio a Yuschenko.

A repetição do cenário de Tbilissi em Kiev e a perspectiva do mesmo desenvolvimento da situação nas repúblicas da Ásia Central tornam actual a questão de como irá evoluir a situação na Rússia na véspera das eleições em 2008.

Se o Ocidente oferecer a Putin um ramo de "revoluções das rosas" no espaço pós-soviético, ele terá as seguintes alternativas: seguir o caminho do presidente bielorrusso Lukachenko, rejeitando as ideias sobre a adesão à comunidade ocidental, ou conformar-se com a intervenção activa do Ocidente nas eleições agora na sua própria casa.

A Europa e os Estados Unidos optaram abertamente pela confrontação com Moscovo na questão ucraniana. Tal significa que no Ocidente ocorrem mudanças na compreensão do carácter da cooperação com a Rússia. Não se trata apenas da tentativa de indicar a Moscovo o seu lugar modesto. Trata-se também de uma mudança em relação a Putin. No fundo, está a ser recusado o futuro político a ele e ao seu partido.

Será que o presidente da Rússia irá conformar-se com isso? Hoje Putin insiste em que as eleições na Ucrânia foram legítimas. E nisso estão solidários com ele não apenas os mencionados Cazaquistão, Uzbequistão e Quirguízia, mas também a China.

Andrei Iliachenko observador político da RIA "Novosti"

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