Saudação fraternal aos camaradas gregos

Ao observarmos o desenvolvimento da luta de classes na Europa, designadamente nos países que integram a UE, torna-se manifesto que na Grécia se estão travando os combates mais renhidos. Este país, transformado no alvo prioritário da recuperação da ofensiva neoliberal no palco europeu, vive actualmente sob uma violenta ofensiva do capital, através da acção do seu “novo” governo “socialista” do PASOK, acabado de ser “eleito” e já transformado em autêntico aríete contra os direitos dos trabalhadores gregos e apostado em destruir conquistas sociais dos assalariados, alcançadas pela luta conduzida ao longo da vida de várias gerações, cumprindo caninamente as directrizes dos grandes da UE.

Cortes nos salários e nas pensões, redução de 30% nos subsídios de Natal e nas férias, aumentos drásticos nos produtos de primeira necessidade, em numerosos serviços, aumentos nos impostos directos e indirectos, tudo orientado pelo propósito de descarregar sobre os rendimentos do trabalho o custo de uma política económico-financeira desastrosa para o povo e destinada a fomentar a concentração e a centralização do capital, tudo sob o “manto diáfano” da “crise” provocada por este último.


Numa manifestação de grande combatividade e dignidade, os deputados comunistas eleitos no Parlamento grego decidiram abandonar o local, no momento da votação destas medidas anti-operárias e anti-nacionais.


Opondo-se a esta ofensiva do neoliberalismo, na primeira linha do combate está o PC grego, cumprindo honrosamente o seu papel de partido da classe operária e dos trabalhadores gregos, denunciando vigorosamente as políticas anti-populares e anti-nacionais dos governos de serviço, organizando a resistência, mobilizando as energias dos segmentos mais avançados do operariado e de outras camadas assalariadas, conclamando-as à luta, insuflando vontade e determinação, apontando o caminho dos combates contra o capital e iluminando o seu rumo na direcção do Socialismo.


Sob a direcção política dos comunistas marxistas-leninistas gregos, os Sindicatos e outras organizações de classe vêm organizando e concretizando uma vaga de greves e manifestações que colocam, sem dúvida, o proletariado grego na vanguarda da luta de classes nos nossos dias. Demonstrando um ânimo e uma combatividade admiráveis, este último ano e meio ficará a assinalar um dos períodos mais ricos da história contemporânea da Grécia. O ascenso das lutas de classe é particularmente notável neste último mês, com a convocação de quatro greves nacionais e gerais, paralisando os mais importantes sectores de actividade, acompanhadas de grandes acções de rua em mais de sessenta cidades gregas, com uma participação continuada e aguerrida de muitas dezenas de milhares de manifestantes. As imagens e os vídeos destas manifestações, divulgados pelos sindicatos e pelos camaradas gregos, são verdadeiramente impressionantes, pelo seu carácter massivo, pela presença de muitos milhares de jovens, pela determinação combativa.


Considerando a sua importância política, justifica-se a transcrição da última posição do KKE sobre a luta de 11/3, numa tradução pouco rigorosa mas na qual – nisso confio – se procura garantir o seu sentido essencial.

“Na quinta-feira 11 de Março, as ruas em 68 cidades e vilas foram rios caudalosos, com a determinação de trabalhadores, jovens, mulheres e pensionistas demonstrada pelo PAME.


Foi a quarta greve em um período de um mês, que ficou marcada pela participação do povo em massa e pela sua dinâmica.
Dezenas de milhares de pessoas protestaram contra os cortes graves e as medidas fiscais que foram iniciadas pelo grande capital e votadas pelo governo social-democrata do PASOK, junto com o LAOS, nacionalista, e também apoiados pelos liberais da ND e pela Federação Helénica de Empresas.


As classes assalariadas, orientando as suas forças, travaram mais uma dura batalha contra a intimidação lançada pelos patrões e seus agentes, o que enriqueceu a experiência militante do povo trabalhador. Muitas pessoas conseguiram superar as suas hesitações e entraram em greve pela primeira vez.


Mais uma vez, a demonstração prática da experiência de mobilização do PAME foi muito maior do que o trabalho de sapa organizado pelas lideranças de sindicatos e confederações dos amarelos, GSEE ADEDY. Mais uma vez os grevistas viraram as costas aos sindicalistas amarelos.

Tanto a preparação da greve, bem como o planeamento para o próximo período, consolidou a necessidade de organização da classe trabalhadora. Além disso, deixou claro para amplos segmentos das camadas populares que a derrota do ataque não será concretizada através de uma demonstração ou em um dia. E este é o medo da plutocracia: o facto de que os milhares de trabalhadores aguerridos, através das mobilizações multiformes da PAME, constituem uma base importante não só para a resistência da classe trabalhadora, mas também para o seu contra-ataque. E a razão é porque participaram de uma luta que não se vira contra um governo ou uma mera lei, mas contra o próprio desenvolvimento capitalista que serve as empresas multinacionais, ou seja, contra o cerne do problema e não apenas contra alguns aspectos do problema.


Mais uma vez, lutaram pela PAME piquetes de greve de grandes fábricas e superfícies que paralisaram desde o amanhecer. Além disso, portos, aeroportos e estações de metro fecharam, enquanto em Atenas a circulação ferroviária foi operada por algumas horas, a fim de facilitar aos trabalhadores a participação na manifestação.


Vasilis Petropoulos, membro do Secretariado Executivo da PAME, que foi o principal orador do comício da greve, mencionou: “Não há riscos a nível nacional, nenhum dever nacional apela aos trabalhadores para sacrificar os seus direitos, existe apenas a ganância dos capitalistas para o lucro“.


Aleka Papariga, secretário-geral do CC do KKE disse na média de massa: “Não confie nas declarações do governo. Não confie no patrão e nos seus agentes mandados. Eles mentem, eles intimidam os trabalhadores, eles esperam que parem de lutar, de modo a promover medidas piores. O pior está para vir. Assim, é necessário continuar e intensificar a luta. “


As manifestações foram muito fortes. Quando os blocos de massa passaram em frente à sede da Federação Helénica de Empresas jogaram tinta vermelha, o que simbolizava que os seus lucros estão pingando com o sangue dos trabalhadores. No início desta semana o presidente da Federação tinha feito declarações provocatórias afirmando que, na Grécia, “os industriais são os únicos que fizeram sacrifícios” …


A mobilização dos trabalhadores em greve se reuniu com o bloco dos trabalhadores despedidos das companhias privatizadas “Olympic Air” que não receberam qualquer indemnização por despedimento e bloquearam a Panepistimiou Street, a rua mais central de Atenas, desde o último dia 8, reivindicando o seu direito ao trabalho.


O PAME esteve ao seu lado apoiando-os desde o primeiro momento. O governo e o capital exigiu-lhes, com ameaças e intimidações, para acabarem com a concentração e até os seus lacaios foram mobilizados: Alexis Tsipras, chefe da SYRIZA e presidente da SYN, que é membro do Partido da Esquerda Europeia (ELP), afirmou que: “Se 200 pessoas bloqueiam a Panepistimiou Street, eles próprios têm de perceber que essa forma não vai fazê-los ganhar os direitos que reivindicam “. Completamente de acordo com a sua declaração foi também a MP do SYRIZA, Papadimoulis, que disse: “Não concordo com essa forma de luta, porque prejudica a sua luta”. As suas declarações apoiaram a intervenção do Ministério Público, com o objetivo de intimidar os trabalhadores despedidos, que impuseram com a luta que “a lei é o que é justo para os trabalhadores”, um slogan que só os oportunistas de SYN que representam o Partido da Esquerda Europeia e os sindicatos das centrais amarelas GSEE e ADEDY(*) não entendem, bem como a CSI e a CES, que também se opuseram activamente à luta.

A greve em 11 de Março, enviou uma mensagem clara: a multiforme mobilização dos trabalhadores vai continuar no próximo período, afirmando que os trabalhadores não farão sacrifícios para os lucros da plutocracia.

Pelo acompanhamento que é possível fazermos, designadamente na net, a par do que esta nota relata sobre a passada jornada de 11/3, o sítio do KKE ( http://inter.kke.gr/ ) divulga também vídeos nos quais se vê edifícios do Estado por todo o país ocupados pelos trabalhadores em greve, nomeadamente o edifício sede do Ministério das Finanças. Em alguns panos e faixas, os manifestantes escreveram: “Não queremos ser os escravos do século XXI”.
Sabemos que os trabalhadores

e o povo gregos são no momento um alvo prioritário na campanha mediática orquestrada pelos meios de manipulação do grande capital que dirige a UE, com o objectivo de um selvático ensaio intimidatório daquilo que os dirigentes desta Europa dos monopólios querem desencadear sobre todos os trabalhadores e povos europeus.


Em Portugal, com o anunciado “Programa de Estabilidade e Crescimento” do governo “socialista”- já justamente alcunhado como um autêntico “Programa da Exploração Capitalista” -, é manifesto que a cartilha capitalista é a mesma, só diferindo nas tácticas usadas. Outros países estão igualmente na mira do capital – Irlanda, Espanha, Itália, como mais adiante também a França, a Inglaterra e outros.


As notícias que vão chegando da Europa apontam para um novo período de intensificação das lutas dos trabalhadores e dos povos, resistindo à nova vaga neoliberal em desenvolvimento. É necessário, é imperioso tudo fazer para assegurar o sucesso das lutas em preparação, alargando o campo proletário e democrático de resistência e combate contra as manobras do capital.


Entretanto, o exemplo exaltante dos camaradas gregos aí está a apontar o caminho correcto a todos os revolucionários na Europa e no mundo. A sua firmeza ideológica, a sua determinação combativa, a sua capacidade política para unir e organizar os trabalhadores e a juventude, trazendo-os à luta pelos seus direitos e apontando-lhes corajosamente o socialismo como a única alternativa actual ao capitalismo, são factos que para todos os comunistas os tornam um exemplo e um poderoso estímulo. Por tal razão, é nosso dever prestar todo o apoio e toda a solidariedade militante e internacionalista aos camaradas gregos, verdadeiros lutadores de vanguarda, inteiramente merecedores do nosso apreço e da nossa fraternal saudação.


julio filipe
(*) Nota: Em imagens que já se tornaram corriqueiras por todo o mundo, constituindo em várias latitudes um instrumento da ideologia reformista da conciliação de classes, enquanto os trabalhadores iam corajosamente à luta os dirigentes amarelos posavam para as câmaras de televisão e jornais do grande capital, empenhados nos enganosos “diálogos sociais” com os representantes do governo e das confederações capitalistas.

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