Eleições no Irão

A convincente vitória de Mahmud Ahmadi Nejad nas presidenciais iranianas não causa dúvidas. Quanto ao número de votos obtidos, a "distância" em relação ao seu concorrente é tal que invalida logo todas as especulações de "falsificações" e de eventual "emprego de alavancas administrativas". É muito mais difícil prever as consequências desta vitória.

O triunfo foi mais que um "acontecimento sensacional", tendo chocado aqueles que acompanharam de perto o decurso da maratona presidencial, sobretudo nos EUA e no Ocidente. Aconteceu que um político "pouco conhecido" e reputado como um "outsider" participa nas eleições e, de repente, inflige uma estrondosa derrota aos seus opositores. Mas, para dizer a verdade, após a primeira ronda, as chances de Nejad e Rafsanjani eram quase iguais. O primeiro goza de popularidade entre a população e o segundo, devido ao "peso político" do presidente do início dos anos 90, tinha a reputação de reformador e autor de transformações liberais.

Lembre-se que a derrota, na primeira volta, de dois políticos liberais - Mehdi Karrubi e Mostafa Moin - foi um alerta tanto para a ala reformadora da elite política iraniana, como para o Ocidente e os EUA. Nos oito anos da presidência, o reformador de ânimos liberais Mohammad Hatami não conseguiu implementar a maior parte dos programas anunciados. Por isso, as reformas económicas ou permaneciam num estado embrionário, ou não eram levadas a bom termo.

Hatami não acabou com o isolamento do país, organizado pelos EUA, nem soube definir o posicionamento em relação a Washington. Mas para tal, verdade seja dita, "contribuíram" também os líderes religiosos do Conselho de Discernimento, chefiado, aliás, por Rafsanjani.

Seja como for, Hatami perdera, já no fim do segundo mandato, o "crédito de confiança" dos eleitores, cujo número ultrapassa o de analistas e peritos que estão a par de "colisões políticas" nos bastidores do poder.

Apesar das críticas veementes, lançadas a Hatami por Karrubi e Moin, a imagem da ala reformadora foi seriamente afectada. Tudo indica que, após a mudança radical ocorrida no clima social, ultimamente têm vindo a reincidir as tendências políticas prevendo a "desliberalização económica". E, neste ambiente, acaba por vencer o candidato Nejad que se aproveita do conhecido "slogan" de "distribuição justa dos bens materiais". Foi isso bem ou mal - os iranianos sabem melhor.

Outra coisa é de saber como será encarado o programa de Nejad no Ocidente e, antes de mais, nos EUA. Washington, sem esperar pela segunda volta das eleições, qualificou-as de "não democráticas e incapazes de assegurar a legitimidade do poder". O Ocidente preferiu esperar pelos resultados finais e só depois exprimir a sua "profunda desilusão".

A declaração de Nejad sobre o "imperativo de colocar os interesses nacionais por entre os maiores objectivos do governo popular" e a necessidade de "rever os projectos de petróleo e gás a favor de empresas iranianas" irá, sem dúvida, agravar os ânimos pessimistas nos EUA e no Ocidente. Se tivermos em conta que, na solução do "problema nuclear" visto como o mais importante, o novo Presidente já lançou um desafio aos líderes ocidentais, tendo-se manifestado pelo seu "desenvolvimento legítimo e integral", pode-se esperar, já em Agosto, a intensificação das polémicas e afrontas em torno do "tema nuclear" iraniano. Desta feita, ninguém poderá impedir que os EUA coloquem a questão de entregar o famigerado "dossier" ao exame do CS da ONU.

Este "sonho" da Casa Branca poderá tornar-se realidade se o Irão declarar oficialmente o fim da moratória à realização do programa de enriquecimento do urânio. As consequências de tal passo seriam imprevistas, tomado em linha de conta a política imprevisível da Administração norte-americana. O Irão poderá estar isolado ou até agredido. Ambas as "opções" já foram examinadas.

Neste âmbito, os EUA pretende decretar novas sanções contra as empresas que ajudem o Irão a desenvolver os programas de armamentos. A respectiva portaria presidencial ainda não foi assinada, podendo ser redigida ainda antes da cimeira do G-8 na Escócia. Não restam dúvidas de que tal passo se prende com os resultados das presidenciais iranianas. De notar que os respectivos planos foram levados ao conhecimento dos principais aliados dos EUA - a Grã-Bretanha, França e a RFA.

É evidente, porém, que as sanções serão orientadas contra as empresas russas. E não só porque a Rússia continua a ser o maior parceiro do Irão na realização do programa atómico. Moscovo anunciou "encarar as eleições como um evento importante" na vida daquele país, tendo prometido "respeitar a escolha dos milhões de cidadãos iranianos".

Altura houve em que os politólogos russos apelavam aos EUA para "não democratizarem o Irão a todo o custo" na tentativa de o libertar do regime de "ayatollahs não eleitos". Na sua opinião, não era necessário "violar os processos históricos", devendo-se "dar tempo ao tempo". Mas, a julgar por tudo, a "omnipresente" Administração dos EUA vê o mundo sob um prisma diferente e vantajoso somente para si.

Piotr Gontcharov observador RIA "Novosti"

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