A Semana Revista

Para pensarmos neste Natal

O número de pessoas que morre a fome está a aumentar Enquanto são gastos centenas de bilhões de dólares em armas, guerra, matança, destruição e mais bilhões são gastos em prendas e comida e bebida no Natal o número de pessoas que nem têm uma crosta para colocar na mesa está a aumentar, em vez de diminuir.

Por aborrecidos que são aqueles indivíduos que pensam que é um crime divertir-se, especialmente neste quadro do ano, espalhando histórias deprimentes que nos fazem sentirmos culpados quando cortamos o peru, o chester ou o tender, seria crime ignorar o recente relatório emitido pela FAO.

“O Estado de Insegurança Alimentar no Mundo 2004” é o nome deste relatório da Food and Agriculture Organization da ONU.

Enquanto alguns países gastam centenas de bilhões de dólares na destruição e reconstrução (à sua imagem) do estado do Iraque, e na destruição de dezenas de milhares de vidas inocentes, aumentou na última década o número de pessoas com fome por quase 20 milhões.

Além disso, entre 2000 e 2002, o número chegou a 852 milhões de pessoas. Quase um bilhão. No início do terceiro milénio, o quê é que andamos a fazer?

Por esse caminho, os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM), que tencionavam cortar por metade o número de pessoas com fome até 2015, nunca serão alcançados e que comentário perfeito sobre a Humanidade, a nossa Humanidade nos nossos tempos, que gastamos tanto em guerras e chacina, em deitar bombas de fragmentação em áreas residenciais e na procura quixotesca para Armas de Destruição Maciça, que continuam a teimar em não aparecer quando por outro lado o número de pessoas para quem colocar uma refeição na mesa todos os dias é um sonho, aumenta em flecha.

A esta situação e este comentário sobre o estado de desenvolvimento da nossa sociedade, se junta a afirmação de Hartwig de Haen, Director Geral da FAO, que disse no seu relatório que “Se sabe o suficiente acerca de como terminar a fome e é agora a hora para ganharmos o momento no sentido de atingirmos o objectivo” mas que “é uma questão de vontade política e de prioridades”.

Vemos, então, a vontade política e as prioridades do grupo de sicofantas que apoiaram o acto de chacina de George Bush no Iraque. Primeiro, rastejaram-se a volta das pernas de Washington, esperando apanhar umas migalhas em contratos de armamento e petróleo e que se lixe o resto da humanidade.

A história faz julgamentos sempre em retrospectiva e será interessante ler o livro de história que descreve as nossas gerações, que gastam mais em matar e em sistemas bélicas do que em salvar vidas.

Há no entanto luz no fundo do túnel. Presidente Lula de Silva no Brasil se juntou à ONU, ao Chile, França e Espanha, formando o quinteto contra a fome, estimulando contactos bilaterais que financiam fazendas-escolas, enquanto o Reino Unido está a tentar organizar um fundo internacional que irá pagar 50 bilhões de USD todos os anos para financiar os países com mais necessidades até 2015.

Quanto mais pensarmos nessa situação e quanto mais iniciativas criarmos, melhor será o nosso epitáfio no livro de história de amanha. Por agora, o autor deste artigo sente uma profunda vergonha em pertencer a uma espécie tão egoísta e tão reles como a Humanidade de hoje.

A ver se possamos fazer qualquer coisa para melhorar a situação, em conjunto.

Cantinhos esquecidos do nosso mundo

Eritreia e Somália, onde o único pedido é a sobrevivência

Enquanto o circo internacional fica focado no Iraque, onde George Bush gastou centenas de bilhões de dólares dos seus contribuintes espalhando liberdade e democracia e ganhando corações e mentes, chacinando dezenas de milhares de pessoas inocentes, ao sul e um pouco ao oeste do Iraque, no Corno de África, continua quase sem reparo uma crise humanitária que afecta milhões de pessoas, num dos cantinhos esquecidos do nosso mundo.

Na Eritreia, cerca de um quarto da população depende de apoio alimentar e a ONU avisou que a comunidade internacional tem de continuar o seu nível de apoio senão põe-se em risco a existência de um milhão de pessoas.

900.000 pessoas na Eritreia sofrem as consequências duma seca de duração de quatro anos e/ou guerra em algumas regiões e de acordo com os relatórios da ONU, a taxa de subnutrição chega a 19% da população. A colheita falhou outra vez este ano, aumentando e complicando o problema.

Em termos de emergência internacional, uma taxa de subnutrição de 15% se classifica como “emergência” por isso, onde está esta história na imprensa internacional? Ainda por cima, a ONU indica a evolução duma situação de calamidade num futuro próximo, dado que 66% da população não consegue satisfazer as necessidades diárias básicas em termos alimentares.

Na Somália, a leste da Eritreia, existe uma crise humanitária há muito tempo devido a uma seca e ciclos de pobreza endémica, que destroem o tecido da sociedade. Jan Egeland, Coordenador de Apoio de Emergência da ONU, pediu que a comunidade internacional preste mais atenção à situação nesta zona, esquecida no rescaldo da guerra ilegal de Bush.

Falando de Somália e Eritreia, invadimos o mundo confortável daqueles que gostam de receber suas notícias filtradas num prato cuidadosamente confeccionado e pedimos desculpas para tal, especialmente nesta altura do ano, em que queremos ouvir histórias de fadas e ursinhos dourados que vivem na floresta mas de facto há uma crise humanitária e milhões de pessoas precisam de ajuda.

Não querem ser bombardeadas, nem libertadas, nem invadidas, nem querem liberdade e democracia, nem querem que lhes ganhem a confiança dos corações e mentes. Simplesmente querem colocar uma refeição básica na mesa para suas famílias, e simplesmente, exigem o direito à sobrevivência.

Condoleeza Rice: É este o estado que apoia?

Abusos de direitos humanitários por efectivos da IDF

Apresentamos aos nossos leitores uns testemunhos sobre maus tratamentos de civis por efectivos da Força de Defesa de Israel (Israeli Defence Force, IDF), registados em formulários oficias e documentados antes de investigação. Antes de apresentar estes documentos, deve lembrar-se que a IDF tem procedimentos internos para a investigação de reclamações contra seus soldados.

Porém, nem sempre as investigações são levadas a cabo. Lendo os ficheiros, estamos perante uma série de contos horríficos de abuso de poder num nível que se esperaria encontrar numa república das bananas, não num estado que se proclama civilizado e protegido de Washington. Dado que este tipo de comportamento é aparentemente endémico em Israel, o quê é que Washington está a fazer, apoiar um regime que comete actos de tortura e abuso, quando simultaneamente Washington está sempre a falar em confrontar tiranos e regimes parias?

Ou será mais um caso de Washington dizer uma coisa e fazer outra atrás das costas? Apresentamos uns relatórios ainda não investigados para a Condoleeza Rice ler enquanto ela considera como justificar o apoio a tal regime como Secretária de Estado.

Caso 1

No posto de controlo de Baka, um tenente na IDF prendeu um palestiniano diminuído mental, com algemas nas mãos e pés, vendado, durante cinco horas com uma pistola enfiada na nuca. Gesto simpático, não é?

Caso 2

Em Belém, Har-Gilo, um sargento da IDF levou um civil palestiniano para um beco, colocou uma pistola na sua nuca e disse-lhe que iria ser executado. Quando o palestiniano começou a gritar em pânico, o sargento se riu e disse que era brincadeira. Que engraçadinho.

Caso 3

Em Mevo-Beitar, o vice-comandante da 932º batalhão, brigada Ezion, tenente-coronel, fez destruir uma casa inteira, quando tinha ordens para demolir só uma extensão. Vandalismo. Terrorismo.

Caso 4

Em Beit Rima, um sargento e quatro cabos reclamaram às autoridades acerca dum incidente em que efectivos das forças especiais da Unidade Duvdevan espancaram prisioneiros civis na cabeça, no abdómen e entre as pernas, quando estavam vendados. Parece mesmo aquelas cenas horríficas em Abu Ghraib.

Caso 5

Em Hebron, a população local judeu entrou em distúrbios de confrontação contra a população palestiniana, que num dia festivo vendia frutas e outros comestíveis. Sem qualquer provocação, entornaram bancadas e abusaram os palestinianos. Efectivos da polícia Magav apoiaram estes judeus, batendo nos árabes e dizendo para eles se calarem. Justiça à Sharon.

Caso 6

Em Bet Lechem, Dehaisha, Julho de 2002. Uma criança foi esforçada a caminhar descalço num esgoto aberto numa “operação” em que efectivos da IDF utilizaram granadas de choque e balas de borracha contra rapazes que atiravam pedras. Empurrado para o chão, vítima de pontapés, o rapaz foi interrogado pelos “soldados” da IDF que perguntaram por quê é que ele não se explodia como os amigos dele, e se era atrasado mental. Ele não. Eles com certeza.

A lista destes abusos continua, e continua, e continua, página após página. Foi providenciada a Pravda.Ru por fontes em Israel que zelam por um estado de lei no seu país, não uma repetição de Belsen ou Auschwitz ou Dachau, que Sharon teima em tentar criar.

Todos estes relatórios foram assinados por membros da IDF que se reclamavam contra as acções de outros elementos às autoridades israelenses. Por isso, há que lembrar que nem todos os israelitas são assassinos e nem todos os palestinianos são terroristas.

A Condoleeza Rice, futura Secretária de Estado dos EUA, dizemos “Mostre-me os seus amigos e eu digo-lhe quem é”. Apoiar Tel Aviv, quando efectivos da IDF se comportam como os efectivos das Forças Armadas dos EUA em Abu Ghraib, é sinal claro que Washington dá seu aval a estes actos de depravação.

Será estes Estados Unidos da América que Condoleeza Rice quer representar e defender?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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