Guerra no Iraque

A coligação está na defensiva. Perdem terreno em Basra, são atacados em grande escala no centro e há chacina num mercado em Bagdade. Entretanto, os meios de comunicação preparam as populações americanas e britânicas para um elevado número de vítimas.

O dia começou com a história que afinal aquela rebelião em massa na cidade de Basra, aquela sublevação popular contra as forças do governo de Saddam Hussein, pelo povo xi’ita oprimido, afinal não fora mais do que uma fantasia dos média americana e britânica. Simplesmente, não aconteceu. Al-Jazeera começou o dia a mostrar uma cidade resoluta e uma população determinada a lutar em favor do regime.

Começamos a ver agora que as coisas são bem diferentes do cenário que Washington e Londres queriam apresentar. A população no sul do Iraque não está a levantar-se contra o governo. Em vez disso, cada vez que os jornalistas perguntam à população qual é a sua opinião sobre o seu Presidente, recebem um sinal de vitória e palavras como “Saddam...good! Good Saddam Hussein!” Ou “Saddam, como um Deus!” Dai que nos próximos dias não deverá haver mais entrevistas nas ruas.

Isso no sul. Mais a norte, a Guarda Republicana começa a contra-atacar. Elementos em Basra estão a organizar a resistência e esta noite, um grupo de tanques, que alguns órgãos de informação estimam em entre 70 e 120, rompeu a barreira imposta pelas forças da coligação, que pedem mais fundos e mais tropas. Com certeza, esta guerra não está a correr de acordo com os planos iniciais de Washington e Londres, que conseguiram habilmente colocar o mundo inteiro contra eles e a favor de Saddam Hussein.

A ironia é risível...o suposto ditador Saddam Hussein goza do estatuto de coitadinho e Bush e Blair, os grandes cruzados, aparecem como tiranos perante a comunidade internacional. É isso que acontece quando os países se isolam diplomaticamente. Aconteceu com o Slobodan Milosevic, aconteceu na primeira Guerra do Golfo. Só que Saddam Hussein aprendeu a sua lição. Foi Saddam Hussein que colaborou com a ONU e foi o Bush e Blair que a desprezaram, não só esta organização mas também a comunidade internacional, a lei internacional, os princípios básicos duma nova ordem mundial e as forças do Bem.

Em Nassiriya, elementos da Guarda Republicana começam a movimentar-se à volta das posições americanas e espera-se uns dias de violentos combates, apesar desta coligação gozar de supremacia aérea a 100%. Nos números proferidos pelos órgãos de informação desta coligação, vemos que há outra história por contar. Como seria possível a Guarda Republicana perder 750 elementos e os americanos nenhuns?

A campanha de sensibilização pública já começou nas estações de televisão nos EUA e no Reino Unido, pelo que vemos que o número real de mortos entre as tropas desta coligação poderá atingir já duas centenas ou mais. Lamentável é qualquer morte, seja de quem for...as lágrimas correm tanto no Iraque como nos EUA.

Mais lamentável ainda é a chacina de civis por militares, o que aconteceu hoje num mercado lotado no centro de Bagdade às 11.30 locais quando as mulheres estavam a comprar os alimentos para o almoço. O Pentágono admite que uma bomba ou um míssil poderá ter caído entre os civis. A revolta, o ódio popular estava bem visível. Quem consegue cerrar as fileiras do povo iraquiano em favor do seu líder são os senhores de guerra, Bush e Blair.

Numa guerra legal, ou seja, de acordo com as normas da lei internacional, as baixas civis são consideradas um mal necessário para chegar ao fim do mandato e o número deverá ser sempre o mais reduzido possível. Neste caso, não se trata duma guerra. Trata-se dum ataque ilegal contra uma nação soberana, fora da autoridade da ONU, o que quer dizer que qualquer morte civil é crime de guerra.

Por isso se declara aqui categoricamente que George Bush, Donald Rumsfeld, Richard Cheney (conhecido por Dick), Colin Powell, Condoleeza Rica, Anthony Blair, Geoffrey Hoon, Jack Straw e os seus seguidores em Portugal, Espanha, Polónia e Austrália, são criminosos de guerra, são associados ao assassínio de civis inocentes e por isso terão de responder para os seus crimes nos foros de lei nacionais e internacionais.

Com cada dia que passa, estes crimes aumentam. A lista está a crescer e o registo fica cada vez mais repleto.

Os EUA e o Reino Unido fizerem um erro de tamanhos nunca antes imagináveis na comunidade internacional quando decidiram atacar o Iraque à margem dos debates na ONU. O Iraque prova já ser um osso muito mais duro de roer do que estes dois governos ignorantes imaginavam. Prevê-se que haverá um grande número de baixas entre os civis e soldados iraquianos e também entre as forças da coligação.

Seria uma boa altura para os senhores de guerra, Bush e Blair, reconsiderarem as opções, envolver desde já outros países e escutarem os planos de paz, antes que se envolverem num dilema de proporções imprevisíveis.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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