Reino Unido: Conservadores querem converter as eleições num referendo contra a imigração

Sua proposta, que implicaria que o Reino Unido renuncie à Convenção da ONU de 1951 para refugiados, procura polarizar o debate eleitoral e empurrar o atual governo trabalhista a responder com fortes medidas contra os imigrantes. Diversas personalidades acusaram aos 'tories' de estar atiçando a carta racista para angariar votos.

Os milhões de pessoas que vivem neste país e que provém já seja diretamente ou através de seus pais e avôs de outras nações podem criar um pólo de opinião contrapondo.

Howard: limitar a imigração

Michael Howard é o líder conservador que acaba de propor um programa de drásticas reduções no número de gente que vem de outros lugares para o Reino Unido. Segundo ele, quando foi ministro do interior durante Margaret Thatcher, a Grã-Bretanha recebia uma média de 50,000 imigrantes anuais e o "Home Office' (Ministério do Interior) tinha um orçamento anual de 200 milhões de libras. Agora, o orçamento do dito ministério se multiplicou por dez enquanto o número de imigrantes se aproxima dos 160,000 a cada ano. Se esta tendência se mantiver teriam 5 milhões de imigrantes nos próximos 30 anos, uma quantidade equivalente a 5 vezes a segunda cidade inglesa (Birmingham). Howard propõe uma cota para todo tipo de imigrantes, inclusive o de parentes.

O dito pacote de medidas está orientado a evitar que seu partido siga sendo minado pelo crescimento de forças xenofóbicas a sua direita e também aponta a golpear o trabalhismo num ponto que os “tories” crêem poder ganhar popularidade

As críticas a Howard

O editorial do diário “The Guardian” do dia 24 de janeiro afirma que é errado argumentar que o Reino Unido está absorvendo uma cifra demasiado alta de asilados.

A União Européia mal acolhe 3% dos refugiados de todo o mundo e a Grã-Bretanha é dentro desta o oitavo país em aceitar asilados em relação a sua própria população. Os laboristas, ademais, cortaram num 70% as petições de asilo. Agora há campos especiais para os asilados e muitos destes estão privados de benefícios e direito à apelação.

Para Maere Sherlock, chefe do Conselho do Refúgio, não se pode estabelecer um cota para os solicitantes de asilo. Se vêem gente escapando de um genocídio ou perseguições não se lhe pode fechar as portas afirmando que já se chegou ao número limite aceitável. Um repórter da ITV questionou Howard que suas atuais políticas talvez tivessem impedido seu próprio pai de escapar do horror hitleriano. Howard retruca dizendo que sua política diferenciará os verdadeiros solicitantes do 80% que são falsos, mas não pode responder o que aconteceria se o número de verdadeiros refugiados ultrapassasse os 10 a 20 mil anuais que está preparado para aceitar. Também não explica como pensa incrementar o pratulha das costas e os custos para impor estas medidas se está querendo cortar o orçamento público e do Home Office em um bilhão de libras.

Yasmin Alibhai do diário “The Independent” argumenta que pedir quotas para asilados e imigrantes é como pedir quotas para entrar em hospitais. Isto é, que o serviço nacional de saúde (NHS) só poderia atender a X casos por tal ou qual doença e o resto ficaria à mercê do destino.

Os benefícios da imigração

Howard aceita que a Grã-Bretanha se beneficiou cultural e economicamente com a imigração mas alega que esta deve conter-se para evitar tensões raciais. Mas, ditos choques se dão, precisamente, pelo corte de empregos ou serviços estatais de saúde, educação e moradia, o mesmo que provoca uma concorrência dentro dos setores mais necessitados e permite que se crie dentro de certos setores trabalhistas e desempregados brancos o discurso racial. A questão é que o próprio conservadorismo é quem mais propõe esses cortes, o maior fator que produz o racismo. A maneira de desencorajar o racismo pode ser exatamente o oposto: desenvolver melhores serviços públicos e fazer com que os setores trabalhistas de todas as etnias se sintam aliadas e não adversárias na busca de melhorias.

O temor de que a Grã-Bretanha tenha mais 5 milhões de forasteiros em 30 anos não é uma grande ameaça. Hoje, o Reino Unido ultrapassa os 60 milhões de habitantes e só um em cada vinte declara pertencer a uma etnia minoritária. No hipotético caso de que em 2.035 tivessem tantos imigrantes ou filhos destes a porcentagem deles igualmente seria baixo: no pior dos casos não chegaria nem a 15% da população. Não é também verdadeiro que as ilhas britânicas se enchem de gente. Escócia é um dos países menos habitados da Europa em relação a sua extensão geográfica.

Dívida moral

O paradoxo da proposta de Howard é que tentam parar a imigração de seres humanos desde o hemisfério sul ao norte, quando seu partido é o promotor de uma política econômica que demanda o livro fluxo de mercadorias e capitais de Norte a Sul.

À medida que avança a globalização econômica que eles propunham é inevitável que cresça a globalização humana. A cada ano, mais de 100,000 britânicos procuram trabalho no exterior e o Reino Unido se opõe a medidas que parem esse fluxo. Austrália, Nova Zelandia, Canadá, EUA são colossos econômicos e geográficos criados com 'exportação' em massa de britânicos. A própria riqueza britânica é devido ao seu primeiro império e depois com a Commomwealth estas ilhas se beneficiaram ao enviar milhões de pessoas e de libras ao resto do planeta.

A própria Inglaterra se forjou combinando ondas de imigrantes. O idioma inglês foi trazido pelos imigrantes do norte da Alemanha e sul da Dinamarca. Celtas, romanos, franceses, dinamarqueses, escandinavos e outras etnias que foram se mesclando. Desde a religião oficial (cristianismo) até o prato típico do Reino Unido (o frango à tika musala) provem de outros continentes.

No caso das Américas o Reino Unido viu as enormes vantagens de quando em épocas de crise tanta mão de obra excedente fosse absorvida desde o Artico até a Patagônia (onde incidentalmente há zonas onde se fala o galês, coisa que não acontece nem na Inglaterra).

Mais restrições contra os imigrantes é algo que escurece outro drama que há nestas ilhas: o de dezenas ou centenas de milhares que trabalham irregularmente ou no mercado negro com salários de irrisórios e em condições de trabalho desumanas. É em benefício de suas próprias economias que a Espanha declarou várias anistias aos ‘sem documentos’. No entanto, o Reino Unido aparece como um dos poucos países europeus onde não se deu isso.

Uma anistia permitiria legalizar e integrar tanta gente que trabalha honestamente, e isso melhoraria o sistema de cobranza de impostos. A maior potência do planeta (EUA) é obra de imigrantes. A migração não é uma doença senão um fator para o progresso material e cultural. Os numerosos imigrantes latinos, asiáticos, árabes, africanos, caribenhos ou europeus são parte inseparável do progresso destas ilhas. Mais cortes para a imigração lhes afeta em vincular-se com seus parentes e amigos.

Enquanto os xenofóbicos fazem campanhas procurando empurrar o Reino Unido para atitudes exclusionistas, as diversas etnias bem que poderiam coligar-se para tratar de mostrar o efeito oposto: que a imigração é positiva e que se deve dar facilidades legais para que esta se de legalmente. Isso ajudará também aos britânicos pois permitirá que a nova mão de obra que chega não deteriore os salários e condições trabalhistas e permita que a economia se potencialize.

Traduccão: Theo Ferreira Editora Brazilian News

Isaac Bigio Analista internacional

Isaac Bigio é analista internacional. Foi professor de política brasileira e latino-americana na London School of Economics. Tem uma coluna diária no jornal Correo, o diário em espanhol de maior circulação no Pacífico, e escreve para dezenas de meios de comunicação dos cinco continentes. Link: www.bigio.org

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