África: 21 milhões de pessoas com fome este Natal

Como podemos dizer que somos civilizados quando o mundo desenvolvido se sente a mesas a transbordar com comidas e bebidas este Natal, ingerindo uma overdose de calorias, enquanto centenas de biliões de dólares são gastos em sistemas bélicos para tirar as vidas de outros seres humanos e nada menos do que vinte e um milhões de pessoas estão sem comida na África?

Todos os anos continua a mesma charada com a comunidade internacional a prometer tudo perante as câmaras mas logo que passa o momento, desaparecem os sorrisos e os compromissos, ouve-se um suspiro de alívio e volta tudo a estaca zero. Vamos analisar a situação dos países em desenvolvimento no final de 2005 depois de Gleneagles e da Reunião da OMC em Hong Kong. Muitas promessas mas de resultados práticos e tangíveis, nada.

Na África austral, 12 milhões de pessoas dependem de apoio alimentar pela sua sobrevivência em Zimbabwe e Malawi, de acordo com o Programa Alimentar Mundial, que reclama mais uma vez que os compromissos feitos pela comunidade internacional não se realizaram.

Três milhões e meio de pessoas na Quénia e Somália estão com falta de comida por causa de uma seca, que causou uma alta taxa de subnutrição, principalmente entre as crianças.

1,4 milhões de pessoas na Eritréia e 3,8 milhões na Etiópia, precisam do fornecimento de alimentos urgentemente enquanto em outras áreas de África, há relatórios de estoques perigosamente baixos de mantimentos e há previsões de mais crises no curto prazo.

Entretanto o que faz o Ocidente? Primeiro, menospreza a seriedade da situação por afirmar que os problemas são causados pelo homem, através de guerras e corrupção mas isso é só parcialmente a verdade. África é um continente vasto em que algumas regiões têm condições climatéricas favoráveis e solos férteis, enquanto outras têm das condições mais inóspitas no planeta.

Entretanto, a maioria dos potenciais produtores africanos são forçados a se virarem à agricultura de subsistência devido à impossibilidade de competirem com o mundo “desenvolvido” que impõe tarifas nas importações de África e providencia subsídios para seus próprios produtores, enquanto se recusa a compensar as milhões de pessoas que ficam com fome como consequência directa dessas práticas injustas.

Como é que alguém no mundo “desenvolvido” pode sentir-se bem este Natal enquanto ingere um excesso de calorias e se torna ainda mais balofa, enquanto quase vinte e um milhões de pessoas, a maioria delas crianças, tremem de frio e de fome? Estas pessoas iriam sonhar com os restos que são deitados fora destas mesas de Natal.

Não é para as pessoas se sentirem culpados que escrevo esse artigo, porque toda a gente tem o direito de gozar uns dias de alegria. Mas vamos pensar seriamente no próximo ano sobre essas questões fundamentais e ver se colectivamente consigamos tornar o mundo num sítio melhor. Não é tão má ideia, pois não?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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