Igor Ivanov vai visitar a China

PERGUNTA: Entre 26 e 28 de Fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Igor Ivanov, visitará a China. Poderia neste contexto comentar o estado e as perspectivas do desenvolvimento das relações russo-chinesas?

YAKOVENKO: Os nossos países são duas civilizações originais, que influenciaram profundamente o desenvolvimento da humanidade. Ao mesmo tempo, a Rússia e a China não têm apenas uma história rica, mas também uma especial responsabilidade perante as gerações actuais e vindouras pela formação de um mundo justo e seguro. Estamos unidos pela visão comum dos princípios e vias de edificação da nova ordem mundial assente na primazia do direito e consideração dos interesses de todos os Estados. Esta comunidade de posições em relação ao futuro das relações internacionais forma as bases da parceria estratégica russo-chinesa.

A interacção entre os nossos países reflecte também a comunidade dos interesses dos dois Estados vizinhos, cuja fronteira comum se estende por 4200 km. Para o nosso país, situado nos continentes europeu e asiático, o alargamento das relações mutuamente vantajosas com a China corresponde aos objectivos do desenvolvimento económico das regiões da Sibéria e Extremo Oriente e da integração da Rússia no sistema de relações económicas regionais na Região Asiática do Pacífico.

Chegámos ao começo do século com grandes realizações - uma série de acordos sobre problemas políticos, militares e fronteiriços, que permitiram transformar a nossa fronteira com a China numa zona de boa vizinhança, estabilidade e cooperação. A fronteira foi demarcada praticamente em toda a sua extensão. As conversações sobre o assunto continuaram mais de três décadas, tendo sido concluídas com sucesso apenas recentemente, em primeiro lugar graças ao novo nível das relações entre os dois países. Falta regularizar as questões referentes a dois pequenos sectores da fronteira. Levando em conta a atmosfera actual das relações, a solução desta tarefa é bem real. Finalmente, conseguimos criar um mecanismo único de interacção a diversos níveis, que inclui encontros sistemáticos entre os chefes de Estado e Governo e contactos permanentes entre os ministros dos Negócios Estrangeiros e dirigentes dos departamentos-chave.

Desenvolvem-se trocas interparlamentares e inter-regionais. Penso que não existe nenhuma esfera em que a Rússia e a China não desenvolvam um diálogo intenso, sincero e igual em direitos. A cooperação dispõe de uma sólida base jurídica, que conta com mais de uma centena de acordos intergovernamentais e um número não inferior de entendimentos inter-regionais e interdepartamentais. Tal testemunha que entre as partes existe uma verdadeira "interacção de parceria estratégica".

PERGUNTA: Qual importância para o estado das relações russo-chinesas teria a componente económica?

YAKOVENKO: Nos anos 90, as relações económico-comerciais entre a Rússia e a China "tiveram altas e baixas". Todavia, nos últimos anos, as trocas comercias têm evidenciado uma subida estável, tendo alcançado, em 2001, um nível recorde - 10,67 bilhões de dólares. Em 2002, as trocas comerciais estimaram-se em 11 mil milhões de dólares. Estes e outros indicadores demonstram que entre os dois países se desenvolvem, de forma intensa e rápida, as relações económicas frutíferas. No panorama das relações económicas russo-chinesas há que destacar a construção na China da central atómica de Tianjin, do oleoduto Rússia-China e gasoduto que ligue as regiões ocidentais da China com as zonas do litoral no leste.

Ao mesmo tempo, desenvolvem-se contactos no sector técnico-científico, inclusive na criação de parques tecnológicos conjuntos e realização de vários projectos no ramo de tecnologias informativas, telecomunicações, aeronáutica e exploração do espaço.

Uma questão à parte diz respeito à cooperação na esfera de investimentos, cuja intensidade se mantém a nível relativamente baixo. Na China de hoje funcionam 1100 empresas com o capital russo e o volume total de investimentos igual a 250 milhões de dólares. Na Rússia foram registadas 400 empresas com o capital chinês e o volume total de investimentos da mesma dimensão. Um estímulo para a aplicação da cooperação nessa área seria a participação da Rússia na realização do "programa de desenvolvimento acelerado" das regiões ocidentais da China, tendo este tema sido abordado no 8.º Fórum Russo-Chinês para Cooperação Interregional.

Existem boas perspectivas na cooperação multilateral, inclusive na cooperação em projectos industriais na Ásia Oriental e, antes de tudo, na península sul-coreana. Não há dúvidas de que as tendências económicas que se delinearam no século passado não deixem de influir no estado das relações russo-chinesas. Agora, seria importante fazer com que estas tendências sejam postas ao serviço dos interesses económicos de ambos os países. Todavia, para tal, devemos pensar na modernização estrutural dos contactos económicos bilaterais.

A preparação da Rússia para o ingresso na OMC (na qual a China entrou no ano passado), tornou-se um novo factor nas relações russo-chinesas. Temos em alto apreço o posicionamento do governo da China que saudou a intenção da Rússia de aderir àquela entidade internacional, tendo até prometido prestar apoio nesse processo. Neste contexto, já tiveram início as conversações entre as respectivas estruturas económicas. Consideramos que a entrada dos dois países na OMC possa favorecer o clima de relações económicas russo-chinesas, podendo ainda contribuir para o seu aperfeiçoamento e reforço numa base mutuamente vantajosa.

PERGUNTA: Como se desenvolvem as relações russo-chinesas no palco internacional?

YAKOVENKO: A parceria da China e da Rússia constitui um factor importante na manutenção de paz e de segurança, no reforço de segurança e estabilidade estratégica, bem como no combate a novos desafios globais. Convém assinalar que tal interacção que se desenvolve nos termos do Tratado de Paz, Cooperação e Boa Vizinhança, corresponde na íntegra ao rumo político seguido por dois Estados. Esta cooperação na arena mundial se apresenta como muito frutífera. A título de exemplo poderia citar aqui a criação, por iniciativa dos líderes dos nossos países, da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).

Entre os seus objectivos há que destacar o aprofundamento de cooperação nas questões de manutenção de paz e da ordem política e económica internacional, devendo esta última ser assente nos princípios de democracia, direito internacional e justiça. Numa palavra, trata-se da formação de uma nova cultura de relações interestatais tanto na região asiática do Pacifico, como no planeta em geral.

Actualmente, depois de assinada, no dia 7 de Junho de 2002, a Carta da OCX, esta organização adquiriu um novo estatuto jurídico, podendo, a partir dai, intensificar os esforços visando o aperfeiçoamento estrutural da OCX.

No entanto, a OCX é apenas um exemplo da cooperação russo-chinesa em várias domínios. Como foi referido acima, a Rússia e a China, sendo membros permanente do CS da ONU, mantêm as ópticas comuns na resolução de problemas actuais. Posso citar mais exemplos. Moscovo e Pequim mantêm a unanimidade no que respeita à necessidade de observar, de forma restrita, os princípios e as normas da Carta Magna. A Rússia e a China pronunciam-se pela democratização das relações internacionais, a consolidação do modelo multipolar da ordem mundial, sendo da opinião que, somente através de esforços conjuntos , a Humanidade estará em condições de solucionar os problemas globais e novos desafios. Estamos convictos de que um papel coordenador central na nova ordem mundial deveria ser desempenhado pela ONU e o seu Conselho de Segurança. A Rússia atribui grande importância à interacção com a China no reforço de estabilidade estratégica. Nesta vertente, também defendemos os princípios semelhantes.

Neste contexto, a Rússia e a China prosseguem a troca de opiniões, informações e consultas, empreendendo ainda passos práticos no sentido de fortalecer a segurança internacional. Assim, em Junho de 2002, as delegações russa e chinesa apresentaram, na recente Conferência para o Desarmamento, um projecto conjunto de acordo internacional sobre a prevenção de instalação das armas no espaço. Em Setembro, o texto do acordo foi divulgado na 57.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, tendo causado no mundo uma ressonância positiva.

A Rússia e a China têm ocupado posições comuns na luta contra o terrorismo internacional. O acidente trágico ocorrido em Moscovo em Outubro do ano passado voltou a demonstrar o imperativo de prosseguir o combate decisivo a esse mal. Neste âmbito, seria oportuna e importante a criação, sob a égide da ONU, de um sistema global de contracção a novos desafios e ameaças. Consideramos como muito positiva a cooperação com a China nesse vector. As grandes potencialidades nessa área têm sido reveladas pela actividade do grupo de combate ao terrorismo, formado a nível de vice-ministros dos Negócios Estrangeiros, no qual participam também representantes das autoridades policiais e serviços especiais dos dois países.

PERGUNTA: Qual a agenda das próximas negociações de Igor Ivanov em Pequim?

YAKOVENKO: A visita do ministro Igor Ivanov à China e as suas negociações com o seu homólogo chinês, Tang Jiaxuan, permitirão trocar opiniões sobre toda uma série de questões candentes da agenda bilateral e internacional e dar continuidade aos intensos contactos entre os Ministérios dos Negócios Estrangeiros dos dois países (só em 2002, os dois ministros tiveram oito encontros. Este ano, os dois ministros avistaram-se três vezes). A visita decorrerá na véspera de importantes remodelações no governo chinês e contribuirá para a continuidade da parceria estratégica russo-chinesa.

Um tema importante será a agenda de contactos russo-chineses ao mais alto nível no ano em curso.

Até ao encontro regular dos chefes de Governo dos dois países, previsto para os finais de Agosto, princípios de Setembro, em Moscovo, deverão reunir-se treze subcomissões intergovernamentais sectoriais, que farão o inventário dos projectos de cooperação existentes com vista a destacar os mais importantes e produtivos.

Um outro assunto importante será a optimização e o aperfeiçoamento das formas e métodos de trabalho do Comité de Amizade, Paz e Desenvolvimento. Este assunto decorre da necessidade de reforçar a vertente social das relações de boa-vizinhança entre os dois países, aprofundar os contactos humanitários, inclusive aqueles na área da educação, cultura, turismo e de cooperação entre pequenas e médias empresas. Serão igualmente tratadas questões internacionais.

PERGUNTA: Quais?

YAKOVENKO: Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, após a celebração, em Julho de 2001, do Tratado russo-chinês de Boa-Vizinhança, Amizade e Cooperação, os contactos entre a Rússia e a China sobre questões internacionais registam mudanças qualitativas, passando de uma simples troca de opiniões sobre a problemática internacional para a coordenação de acções dos dois países no cenário internacional sobre uma série de assuntos candentes como a estabilidade estratégica, a não-colocação de armas no espaço, problemática regional, ou esforços paralelos no cenário internacional.

Neste sentido, a visita do ministro Igor Ivanov à China é um elemento importante dos trabalhos para o estreitamento, intensificação e aprofundamento da cooperação dos dois países no cenário internacional.

Os dois ministros deverão ainda trocar opiniões sobre a situação em torno do Iraque. Como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e parceiros estratégicos, a Rússia e a China estão em estreito contacto sobre o problema iraquiano, registando uma consonância de posições. A Rússia e a China defendem a solução político-diplomática do problema iraquiano, em plena conformidade com as respectivas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. As partes consideram indispensável fazer os possíveis para evitar uma solução militar, que pode vir a ter consequências imprevisíveis para a região e por em causa os pilares do actual sistema de relações internacionais. A China apoiou a iniciativa trilateral franco-russo-germânica.

Deverá ser igualmente analisada a situação à volta da península coreana. As partes consideram importante garantir na península coreana o regime de desnuclearização e de não-proliferação de armas de extermínio em massa e o entabulamento de um diálogo construtivo, em pé de igualdade, entre os EUA e a República Democrática Popular da Coreia com vista à solução do "problema nuclear norte-coreano". A Rússia e a China estão dispostas a contribuir para a busca de soluções e, se necessário, a participar na criação de salvaguardas da segurança da Coreia do Norte e de outros entendimentos destinados a consolidar a paz e a estabilidade na península coreana.

PERGUNTA: A cooperação Rússia-China no âmbito da Organização de Xangai para a Cooperação deverá também receber tratamento em Pequim?

YAKOVENKO: Em vista da próxima cimeira da Organização de Xangai para a Cooperação (OXC), prevista para a Primavera, em Alma Ata, os dois ministros abordarão um vasto leque de questões relativas à constituição da OXC e ao accionamento dos seus mecanismos. A cooperação russo-chinesa dentro da OXC tem um papel-chave para o reforço deste jovem agrupamento regional, o desenvolvimento da cooperação no combate ao terrorismo, ao separatismo, ao extremismo e ao narcotráfico.

Trata-se da necessidade de pôr em acção o mecanismo da estrutura antiterrorista regional da Organização de Xangai para a Cooperação com sede em Bishkek.

A Rússia está determinada a cooperar, de forma intensa e em diferentes níveis, com a China no âmbito da OXC. Entendemos que esta organização possui um grande potencial, apresentando grandes possibilidades nas áreas económica e humanitária.

© RIAN

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