A Semana Revista (de 17 a 24 de Janeiro)

Na semana passada, assistimos a vários eventos ao nível mundial mas há que realçar o gigantesco passo feito pela Agência Espacial Europeia, que encontrou provas daquilo que há muito se suspeitava – da existência da água em Marte.

O Legado de Bush

Quando se teima em não respeitar as normas legais e os processos vigentes que há muitos anos regeram a gestão de crises, processos estes firmados com o aval da comunidade internacional, dentro de organizações que por sua vez tinham recebido o sim da consciência da Humanidade, semeia-se tempestades.

No Fórum Social Mundial em Mumbai e no Fórum Económico Mundial, em Davos, se viu o resultado do legado do regime de Bush. No primeiro, críticas duras contra a política (ou ausência dessa) de Washington e as sequelas do ultraje contra a justiça e lei internacional, contra a civilização e contra todas as normas de comportamento no foro diplomático, que foi a guerra ilegal no Iraque, em que foram desrespeitados a Carta da ONU e a Convenção de Genebra, foram chacinadas milhares de pessoas, foram mutiladas outros milhares, foram destruídas as infra-estruturas civis num ataque de tamanha ferocidade e barbaridade, perpetrado pelo regime criminoso e assassino de George W. Bush e seu nojento cortejo de sicofantas. No segundo, debates paralelos sobre como atenuar os problemas resultantes deste acto irresponsável.

Recuso-me a pedir desculpas aos nossos leitores por repetir essa mensagem semana após semana porque muitos outros órgãos na imprensa mundial decidiram esquecer esta história, encolher os ombros e passar para a frente. Em resposta, digo um rotundo NÃO! Não vamos nem devemos esquecer um acto criminoso, um acto assassino, as mentiras, o acto de gozar com a comunidade internacional, a arrogância, a beligerância, todo planeado muito antes de Bush ter feito seu putsch e roubar a presidência do seu país das pessoas que tinham sido democraticamente eleitos.

A sequela desta onda assassina que começou em Washington e contagiou Londres vai ter o seu clímax esta semana, com a publicação do Relatório de Lorde Hutton, que investiga as circunstâncias da morte de Dr. David Kelly, não só um perito em Armas de Destruição Maciça, como também o perito número um no Reino Unido. Sobre o conteúdo deste relatório, falaremos na próxima semana mas a salientar a posição de Blair, que tenta se defender reclamando que tinha a certeza de que a inteligência sobre o Iraque tinha sido credível na altura.

Que disparate! Será agora a desculpa dos assassinos Bush e Blair, que os seus serviços de inteligência tinham providenciado relatórios que, pelas vistas, estavam errados? É uma desculpa do tipo “Ai caramba! Desculpa! Matei 10 000 pessoas, destruí um país, mutilei outras 16 000 pessoas mas não é minha culpa – mentiram-me!”

É uma desculpa do tipo utilizado em certas zonas mais retrógradas de África, onde basta que uma pessoa aponta o dedo para outro em público e grita “É um bruxo! Roubou minha alma!” para a seguir alguns membros da multidão linchar o vítima, regá-lo com gasolina e queimá-lo vivo. Qual é a diferença entre um acto desses e o cometido pelos regimes de Bush e Blair?

E Era do Espaço – Quem Somos? De Onde Viemos?

No entanto, por terrível e dramático que sejam os eventos passados na Terra, nesta semana foi a Agência Espacial Europeia que ganha lugar de destaque na minha revisão da semana, na apresentação de provas da existência de água em forma de gelo no pólo sul de Marte, através duma análise espectrográfica, com incidência na banda infravermelho. A massa gelada é água e dióxido de carbono.

Se bem que a água não é a vida, é o bloco principal, a pedra-de-toque, que a hospeda. A descoberta de água em outras planetas é o primeiro passo concreto na busca de vida extra-terrestre e na certeza absoluta de que ela existe.

Quem somos? e De onde viemos? foram as perguntas colocadas através da história da nossa civilização colectiva, desde a formação do horóscopo chinês no ano 2 637 AC, desde o primeiro livro do Velho Testamento, escrito entre 1 445 e 1 405 AC. O livro Génesis (em grego, “origens”, “fonte” ou “gerações”) tenta encontrar uma explicação existencial, uma busca repetida em todas as obras religiosas em todas as zonas do mundo desde então.

A noção de que não estamos sozinhos fez mais um passo gigantesco de se tornar uma realidade esta semana. Quais serão as consequências?

Primeiro, é o primeiro passo na realização do conceito de que toda a humanidade é apenas e simplesmente uma família de irmãos que vive a volta de um lago comum. Todo o conflito humano passa ao plano secundário e perde a relevância porque, vamos nós lutar entre nós, sabendo que temos muito a fazer como colectiva, como equipa?

Segundo, agora mais do que nunca, os textos religiosos-históricos ganham uma relevância superior, já que na nossa conquista do espaço, que começou com os feitos heróicos dos programas Soyuz (da União Soviética) e da NASA (EUA) na segunda metade do século passado, encontramos a primeira prova de que o nosso planeta é só mais uma dos bilhões que existem lá fora que têm meios próprios para sustentar a vida. Havemos de ficar fiéis às nossas regras sobre o bem e o mal e havemos de encarar tudo o que encontrarmos com a mesma magnanimidade que os nossos líderes religiosos (seja que qual religião for) nos instilaram, relativamente à maneira em que encaramos o próximo.

Terceiro, e fundamentalmente, temos de resistir à tentação de avançar sem pensar e teremos de conter todo o material que sustenta a vida num sítio seguro e fora dos confins do nosso planeta, pois já há cá micróbios e vírus que chegam. Teremos que lembrar sempre que nossa biosfera colectiva, regida pela Natureza, se centra na Terra e nos fenómenos terrestres.

Desfazer o equilíbrio que foi formado ao longo de bilhões de anos seria um desastre. Por isso é importante que toda a humanidade participe neste projecto comum que visa todos nós, quer que vivemos num país que tem programa espacial ou não, porque os resultados desta Era Espacial terão consequências para todos, não só para a mão-cheia de países que colonizam o espaço, muitas vezes utilizando a sua posição ganha ao custo das matérias-primas roubadas dos países que colonizaram em anos passados.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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