A Polônia que conheci

A idéia de escrever essa matéria veio-me depois de receber um e-mail da minha amiga de São Paulo no qual ela agradece palas informações dadas por mim a ela sobre a vida dos poloneses na época do, assim chamado por aqui e pelo mundo afora, “comunismo”. Penso, que posso escrever bastante sobre esse tema, já que nasci e cresci na Polônia justamente nesta época.

Primeiro gostaria de esclarecer um detalhe. Nunca, em época alguma, em lugar algum, existiu um país que pudesse ser descrito como país comunista. Nós na Polônia descrevíamos o nosso sistema de governar como a “ditadura do proletariado” ou no máximo dizíamos que vivíamos num socialismo do ponto de vista das conquistas sociais.

Por isso quando sai pela primeira vez da Polônia fiquei muito confusa, quando ouvia falar de minha pátria e outros países do Leste Europeu como sendo países comunistas. Nada era mais longe da verdade. Com o tempo a minha confusão aumentava. Lia centenas de livros e artigos, via inúmeros filmes, que falavam sobre países socialistas e não queria acreditar que, “obras” assim pudessem ser publicas. Conversava com dezenas de pessoas na Alemanha, França, Portugal, etc...e sempre me confrontava com a mesma situação. Os meus interlocutores “sabiam” mais sobre o meu país do que eu. No principio eu tentava explicar, que a verdade não era essa, mas, com tempo cansei, especialmente depois da conversa que tive em Atenas com um conhecido americano.

Quando o informei que o meu pai era medico na Polônia, ele, o americano veio com essa pergunta: “Como o seu pai recebia pagamento pelo trabalho? Em “natura”? Quantos frangos? Quantos ovos?” Acho que nem preciso comentar! Claro, que apareciam pessoas com maior conhecimento do assunto e aí vinha outra pergunta: “Quantos policiais seguiam sempre cada cidadão adulto?” Aqueles que já leram alguns artigos nos jornais mais sérios perguntavam invariavelmente sobre a liberdade e citavam exemplos de alguns cidadãos poloneses que supostamente “fugiam para liberdade”.

Dou-me a liberdade agora de responder essa última pergunta. Todos os poloneses tinham na época do socialismo uma vida confortável e todos tinham as mesmas possibilidades de crescer na vida o que significava, entre as outras coisas, ter possibilidades de se instruir até nível superior gratuitamente à custa da sociedade que, contribuía para esses estudos com trabalho dos seus membros. Agora imaginem, que uma dessas pessoas que se formou, decida deixar o país e fixar a sua residência no exterior. Neste caso, nada mais justo de que a sociedade cobrar pelos estudos que, o tal individuo teve de graça, e mais ainda porque, a sociedade que investiu na pessoa não teria retorno do investimento na forma de futuro trabalho da mesma.

Do fato descrito, surgiram então varias “lendas” : 1. Que os estados socialistas exigiam um certo resgate pelos seus cidadãos. 2. Que as pessoas podiam sair dos ditos países só fugindo.

No segundo caso a verdade era outra - as pessoas saiam, roubando da sociedade. Vários poloneses que queriam morar no exterior simplesmente pagavam uma excursão, recebiam passaporte e nunca mais voltavam. Desta maneira se viam livres do pagamento pelos estudos. Bem, esse foi pequeno exemplo como foi se criando um certo folclore mal intencionado em torno do Leste Europeu da era socialista.

Exemplos como esses posso citar às dezenas, mas, como já disse, estou realmente cansada de explicar o “abc” do socialismo.

Renata Kuszak-Rocha

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