Darfur – um teste africano

Enquanto certos países rebentavam centenas de milhares de milhões de dólares a chacinarem iraquianos e a rebentarem com as infra-estruturas civis, dezenas de milhares de refugiados sudaneses estavam a ser violados, roubados, mortos, a serem regados com gasolina e depois queimados vivos, as suas casas a serem destruídas e os seus parcos haveres pilhados.

A imprensa mundial levou muito tempo em apanhar esta história, apesar da ONU há meses alertar a comunidade internacional da extrema gravidade da situação.

A reacção dos Estados Unidos da América e o Reino Unido foi peremptória e inteiramente previsível – o envio de tropas, o que provocou de imediato a resposta do governo de Cartume: Darfur é um assunto interno sudanês, em que milícias separatistas rebeldes travam duras batalhas contra as milícias Janjaweed, que representem a maioria da população, de etnia árabe. As reportagens ocidentais se esquecem de mencionar que há rebeldes armados nos dois lados.

Com Cartume a ameaçar que o envio de qualquer militar norte-americano provocaria a fúria da população local, e com uma manifestação de 100.000 pessoas a apoiarem os Janjaweed na cidade capital, já não se ouve nada de Washington e Londres mas sim, felizmente, da União Africana, que resolveu enviar uma força militar de dois mil homens para a região. Felizmente, porque a comunidade internacional depressa reage (protegendo seus próprios interesses) a situações de extrema complexidade étnica e social, muitas vezes causadas por actos imperialistas de há muitos anos, que criaram um desequilíbrio que só depois rebenta. Com Washington e Londres a mostrar a espada e a ONU a ameaçar o Sudão com sanções, ainda bem que a União Africana levantou a voz, com uma atitude que afirma que este problema africano tem solução africana.

Cabe ao resto do mundo aceitar e ajudar, não intrometer-se. Com 1,2 milhões de refugiados a viverem em condições precárias, que pioram em vez de melhorarem, não é altura para falar em sanções (do tipo que massacrou centenas de milhares de crianças iraquianas) mas sim do mundo em vias de desenvolvimento resolver seus próprios problemas, pensando nos seus próprios interesses.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X