POR QUAL CAMINHO, JOHN KERRY?

A agência France Presse noticiou que a visão de Kerry é que, se a Espanha trouxer seus soldados para casa a esta altura da ocupação estadounidense, "ela deixaria para trás um estado fracassado que inevitavelmente se tornaria um abrigo para terroristas." Com esta afirmação, ele parece ter algo de Richard Nixon em si.

No site "John Kerry para Presidente", uma seção esboça o plano de Kerry para "Ganhar a paz no Iraque pós-Saddam", que é misteriosamente semelhante à frase usada no Discurso da Incursão no Camboja, de Nixon, feito em 1970 ao povo norte-americano. Nixon indicou que seus planos para expandir a guerra ao mesmo tempo que ostensivamente trazia tropas dos EUA para casa resultaria em "ganhar a paz justa que todos nós desejamos". "Ganhar a paz" parece ser o refrão constante de Nixon, assim como "paz com honra". Quanto mais tempo os EUA permanecerem no Iraque, mais próximos estarão seus líderes de emitir tais frases.

Por que John Kerry quer prolongar o sofrimento das tropas norte-americanas no Iraque e suas famílias nos EUA, com uma política tão estranhamente nixoniana?

Fiasco

John Kerry deve saber, ou pelo menos seus acessores deveriam saber, que o Iraque é, de fato, "um fiasco", como afirmou Zapatero. Estima-se que 10.000 não-combatentes, homens, mulheres e crianças, tenham sido massacrados ou mutilados por militares dos EUA pelo ar, mar e terra. Aproximadamente 10.000 soldados estadounidenses foram ou mortos (mortos em ação), ou mutilados (feridos em ação) ou contraíram doenças (síndrome do urânio decaído, entre elas), que estão enchendo os hospitais de veteranos por todo o país. A prática capitalista e de sangue frio dos EUA, de matar por engano um membro de uma família iraquiana e depois oferecer 5000 dólares em dinheiro como substituto por uma alma, com certeza fará mais inimigos no Iraque. O uso de táticas israelenses de guerra urbana para revidar ataques rebeldes - que incluem destruir casas em áreas urbanas onde vivem os suspeitos, e em áreas rurais de destruir as fazendas onde vivem famílias de suspeitos - cria mais inimizade entre as forças de ocupação e a população geral.

Talvez o que seja ainda mais pungente é que ninguém no comando está escutando o que os israelenses estão dizendo aos grandes cérebros que conduzem o aparato político-militar dos EUA. Como foi noticiado pela MSNBC, Martin van Creveld - um especialista israelense em guerra urbana - indicou que os EUA serão forçados a deixar o Iraque porque a ocupação está condenada ao fracasso. "Eles já estão fazendo coisas que nós [israelenses] temos feito há anos sem sucesso, como demolir construções e cercar cidades com arame farpado. Os norte-americanos estão tentando imitar todo tipo de técnicas, mas isso não lhes fará nenhum bem. Não vejo de que maneira os EUA poderiam vencer. Acho que isso irá terminar da mesma maneira que o Vietnã. Eles irão fugir do país pendurados nas cordas dos helicópteros."

Quando as coisas ficam difíceis, Chalabi foge

O Conselho de Governo do Iraque (CGI), criado pelos EUA, é geralmente desprezado pelo povo iraquiano não tanto por ser uma marionete do governo estadounidense, mas porque a composição do CGI seguramente levará a futuras ações rebeldes contra as forças de ocupação do Iraque e os comparsas que trabalham para eles. Os civis iraquianos continuarão sofrendo. O CGI é artificial até a medula e seguramente irá despedaçar-se quando estiver sob pressão.

De acordo com islamonline.net, alguns dos mais poderosos membros do CGI, como Ahmed Chalabi, nem mesmo são cidadãos iraquianos. "O primeiro presidente do CGI, Ibrahim Al-Jaafari, formado em medicina na Universidade de Mosul, não considera o Iraque como seu lar. Em uma entrevista à Associated Press, Al-Jaafari admitiu que ele considera Londres, Inglaterra, como seu lar." Além disso, de acordo com islamonline.net, o próprio projeto do CGI seguramente gerará conflitos sectários e futuros ataques rebeldes contra as forças de ocupação. "Os próprios membros do CGI mostram o que os Estados Unidos pretendem fazer. Os curdos nunca estiveram em uma posição tão forte para pedir a separação e a criação de um Curdistão independente. Uma luta próxima irá desmembrar o conselho, cada facção irá proteger-se com milícias armadas. Aqueles que tenham passaporte estrangeiro, como Chalabi, irão fugir assim que a situação piore."

Leia o discurso de Nixon, e aprenda sobre John Kerry?

O que é mais assustador na negativa de Kerry em relação à intenção da Espanha de retirar seus militares do Iraque é que ele parece endossar a visão de que, se os eleitores votam contra a ocupação norte-americana do Iraque (e a guerra perpétua contra o terror), isso seria um compromisso com o apaziguamento dos "terroristas". Deixando de lado a lógica tortuosa desse pensamento, é claro que ele concorda com os proeminentes senhores da guerra dos EUA (o presidente George Bush, o orador da Câmara dos EUA sr. Hastert, e o chefe do Estado Maior general Myers), de que de alguma maneira os espanhóis estão ajudando os terroristas ao exercer seu direito de votar contra um governos cujas políticas eles não apóiam.

Com os líderes políticos e militares dos EUA condenando os eleitores do próximo governo espanhol como maus apaziguadores, eles mostram seu desprezo pela vontade das pessoas e dos cidadãos de qualquer lugar.

Por que John Kerry toma esse partido? Agora que John Kerry foi nomeado candidato pelos democratas, os norte-americanos que o apóiam devem ficar atentos e forçá-lo a manter-se no assunto da ocupação do Iraque. Se não, em algum momento do mandato do presidente Kerry, ele irá fazer as seguintes observações feitas por Nixon naquele turbulento ano de 1970:

"Meus companheiros americanos, nós vivemos em uma era de anarquia, tanto externa quanto doméstica. Vemos ataques estúpidos contra todas as grandes instituições que foram criadas pelas civilizações livres nos últimos 500 anos. Pequenas nações, em todas as partes do mundo, encontram-se sob ataques internos e externos. Se, quando as coisas estão más, a nação mais poderosa do mundo - os Estados Unidos da América - agir como um gigante lamentável e desamparado, as forças do totalitarismo e da anarquia ameaçarão as nações e instituições livres por todo o mundo.

Não é nosso poder, mas nossa vontade e caráter que estão sendo postos à prova esta noite. A questão que todos os americanos devem se fazer e responder hoje é: A nação mais rica e forte da história tem caráter para aceitar o desafio direto feito por um grupo que rejeita todos os esforços para conquistar uma paz justa, ignora nossos avisos, pisoteia acordos solenes, viola a neutralidade de um povo desarmado e usa nossos prisioneiros como reféns? Se falharmos nesse desafio, todas as outras nações se darão conta de que, apesar de seu poder esmagador, os Estados Unidos estão carentes quando uma crise real aparece."

Não leve os Estados Unidos por esse caminho, John Kerry.

John STANTON

escritor da Virginia especializado em assuntos políticos e militares. É o autor, junto com Wayne Madsen, de "Pesadelo Americano, a Presidência de George Bush II". Contate-o em [email protected]

Traduzido por Carlo MOIANA Pravda.Ru Campinas - SP Brasil

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