Desobedecer às indústrias culturais: Regina Guimarães apresenta livro no TCSB

Desobedecer às indústrias culturais: Regina Guimarães apresenta livro no TCSB

O livro "Desobedecer às indústrias culturais", de Regina Guimarães, vai ser apresentado no Bar/Livraria do Teatro da Cerca de São Bernardo, em Coimbra, no próximo dia 29 de Junho, pelas 18h30. A escritora e videasta nascida no Porto vem ao Teatro aprofundar a sua reflexão sobre a forma como as indústrias culturais e criativas "estão por todo o lado e moldam os produtos artísticos". A sessão tem entrada livre e contará com a presença de vários artistas e colectivos que, a partir de Coimbra, se dedicam à criação, à difusão e ao activismo cultural.

Assumindo que as "indústrias culturais" e "criativas" estão "por todo o lado e moldam os produtos artísticos de modo a que eles respeitem os padrões e imperativos comerciais", Regina Guimarães faz uma análise (muito) crítica de um conceito que parece ter-se naturalizado nas discussões sobre política cultural. Sem deixar de fazer uma leitura mais ampla, de âmbito nacional e internacional, a autora não enjeita a oportunidade para falar a partir da realidade do Porto, que lhe serve como exemplo: "Nas nossas cidades, as indústrias ditas cul... e cria... transformam vento em evento e mostram-se aptas a enquadrar a mega operação de gentrificação do edificado que, na sequência de décadas de abandono e de especulação imobilária, ainda não tinha sido conquistado e/ou investido pelas classes abastadas".
Ao longo do ensaio, Regina Guimarães reconhece a dificuldade em lutar contra a hegemonia do conceito. Mas é aí precisamente que reside o objecto do livro: na desconstrução do que parece adquirido e definitivo e na mostra de experiências e práticas alternativas. Após o enquadramento teórico, que inclui pertinentes clarificações de conceitos como "indústria cultural" (Theodor Adorno e Max Horkheimer) e de "presente líquido" (Zygmunt Bauman), a autora dedica toda a segunda parte do livro aos depoimentos de mais de duas dezenas de colectivos do Porto que trabalham "na aventura da criação sem entraves e da difusão sem rede" - "núcleos, entre si muito diversos, caracterizados por práticas culturais resistentes" e que podem ajudar a reflectir sobre "como desobedecer às indústrias culturais e criativas", de forma a assegurar a diversidade e rejeitar a padronização e a mercantilização. Para o efeito, a autora propôs a estes colectivos um micro-inquérito: um pedido de apresentação sucinta e a questão "de que maneira esse lugar (de criação, de difusão, de activismo, de reflexão...) tem desobedecido à lógica (quase) toda-poderosa das indústrias culturais/criativas?".
As respostas confirmam a "força aglutinadora do sistema" mas também a variedade de formas que continuam a existir para o contrariar e a vivacidade de uma cidade - o Porto - que não se resigna.
Para a apresentação em Coimbra, que será conduzida por Pedro Rodrigues, sociólogo e produtor teatral n'A Escola da Noite, foram convidados vários colectivos da cidade que, de formas distintas e em áreas diversas, trilham igualmente caminhos alternativos ao conceito dominante. Criação e programação alternativa aos circuitos comerciais, edições de autor, práticas colaborativas e acções de sensibilização ecológica são apenas alguns dos caminhos trilhados por colectivos como a Casa da Esquina, o Clube dos Tipos, o Condomínio Criativo, o Fila K, a Xerefé Edições, a Coimbra em Transição, entre outros, que fazem parte da lista de convidados.

"Alargar o campo dos possíveis"
Acabado de editar pela Deriva Editores e pela Cooperativa Cultra, o livro é o terceiro número da colecção "Cadernos Desobedientes", coordenada pelo sociólogo e deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro. A iniciativa, inaugurada com o livro "Desobedecer à União Europeia", de José Manuel Pureza, também apresentado no TCSB, visa "inspirar gestos que juntem acção concreta às palavras que incitam à desobediência". Pretende-se, dizem os responsáveis pela colecção, "fazer uma história da desobediência aos diferentes tipos de poder, dar a conhecer realidades sonhadas e combates presentes, argumentar razões para desafiar o instituído". Os livros têm formato de bolso e assumem-se como "o inverso de cartilhas: querem-se instrumentos de debate e de lutas capazes de alargar o campo dos possíveis".

Flores de Livro e o primeiro workshop nas férias de Verão
Ainda antes do fim do mês, a programação do TCSB inclui mais um "Sábado para a Infância", com a habitual sessão de "Flores de Livro", com Cláudia Sousa, pensada para crianças a partir dos 2 anos. A 24 de Junho, pelas 11h00, a animadora sócio-educativa traz ao Teatro a sua mala dos livros e conta aos mais pequenos um conjunto de histórias escritas a pensar neles. Para além de estimular a criatividade e a imaginação dos seus pequenos ouvintes, a iniciativa tem como objectivo criar o gosto pela leitura e a familiaridade com o livro enquanto objecto. O ambiente calmo e de grande proximidade proporcionado pelo bar do Teatro contribui para a riqueza da experiência. No final da sessão, os participantes são convidados a manusear os livros que foram lidos e a fazer os seus próprios desenhos, inspirados pelas histórias que acabaram de ouvir. Podem ainda requisitar alguns dos livros trazidos pela animadora e levá-los para casa até à sessão seguinte.
Entre 26 e 30 de Junho tem lugar o primeiro dos três workshops nas férias de Verão programados pelo TCSB. De segunda a sexta-feira, entre as 09h30 e as 12h30, Leonor Barata dirige a oficina "DAS CORES", para crianças entre os 6 e os 12 anos. A iniciativa visa desenvolver a expressão artística através da Dança e do Corpo em movimento: "durante uma semana - explica a bailarina e coreógrafa - vamos explorar a metodologia da Dança Contemporânea com os intervenientes para que cada um encontre o seu movimento e a sua forma especial de dançar". As cores servem como "ponto de partida e indutor da criação do movimento": "Como fica o meu corpo perante o Azul? Ou como danço o vermelho fogo? O que é um sorriso amarelo?"
As inscrições e reservas para estas duas actividades podem ser feitas pelos contactos habituais do TCSB: 239 718 238 / 966 302 488 / [email protected].

Coimbra, Teatro da Cerca de São Bernardo

Programação de 19 a 30 de Junho de 2017

 

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