China intensifica exploração do espaço

No início de Junho, a Rússia e a China apresentaram na Conferência Anual de Genebra para o Desarmamento um documento de trabalho sobre o início dos preparativos para a renúncia universal à instalação no espaço de quaisquer tipo de armamentos.

O documento mencionado, que estipula determinadas definições jurídicas, procura ainda esclarecer os termos de "objecto espacial", "espaço cósmico" e "armas no espaço".

Esperamos que o tema da segurança no espaço, que já se tornou, por razões objectivas, imprescindível tanto para a Rússia como para a China, seja igualmente actual para os outros países, podendo conduzir a acordos jurídicos internacionais visando a prevenção da colocação de armas no espaço.

Hoje em dia, o espaço é cada vez mais visto como um provável palco de acções militares. E nesse quadro, somente dois países, a China e a Rússia, têm vindo a apelar à comunidade mundial no sentido de renunciar ao estacionamento no espaço de qualquer tipo de armas.

Os motivos não se devem apenas às "raízes russas" do sector espacial chinês. A principal causa está no "paradigma das relações russo-chinesas", cujo critério foi e continua a ser a comunhão de interesses do Estado, embora estes não sejam alheios ao espírito de concorrência honesta.

A Rússia compreende muito bem as vantagens da cooperação com a China na área de exploração espacial. O programa espacial da China poderá ser qualificado como "auto-suficiente", sendo essa a palavra que, aliás, pode ser aplicada à China de hoje em geral. Não restam dúvidas de a China passará a integrar, já em breve, a lista das maiores potências mundiais juntamente com os EUA e a Rússia. Por isso, para estes dois países é muito importante o estabelecimento de relações de parceria com a China no domínio da exploração espacial.

Actualmente, a China dispõe de três bases espaciais: Jiuquan,

Xichang e Taiyuan. Entretanto, segundo as informações disponibilizadas pela agência de notícias Xinhua, uma quarta base espacial poderá vir a ser construída na província insular de Hainan, no sul do país. Além disso, o jornal Rénmín Ribao informou em Abril que "na região de Xangai, numa área de 80 hectares, se iniciaram as obras de construção de um Centro de Pesquisas Espaciais, destinado "a fazer acelerar a realização do programa nacional de exploração do espaço cósmico".

A primeira fase de construção deverá terminar já em 2007, estando a conclusão das obras prevista para o ano de 2010. O Centro permitirá intensificar as investigações científicas, agora sob a alçada da Academia Nacional de Tecnologias Espaciais, responsável pela elaboração dos sistemas de comunicação e propulsores para os foguetões e as naves espaciais pilotadas. Trata-se do foguetão "Chang Zheng-2" e da nave "Shenzhou-6", a qual poderá ser lançada com dois tripulantes já em Outono do ano em curso. A tripulação passará no espaço alguns dias, devendo testar um módulo orbital. Supõe-se que os segmentos dos módulos da nave "Shenzhou" possam vir a servir de base para a instalação de uma estação orbital. Além disso, a China conta com naves automáticas com cápsula de regresso, usadas em fotografia aérea e na realização de experiências científicas. Convém acrescentar que, para além da China, só os EUA e a Rússia dispõem de dispositivos semelhantes. Em paralelo, a China possui um parque de satélites de investigação, de telecomunicações e de teledifusão, assim como satélites meteorológicos (inclusive para a prevenção e aviso de terramotos) e satélites do sistema de navegação "Beidou", análogos ao americano GPS "NAVSTAR" e ao sistema russo-europeu COSPAS-SARSAT.

Como é evidente, a China de hoje é uma potência "espacial" desenvolvida que, tomando em conta os recursos financeiros e as canalizadas pelo Estado para o sector, poderá vir a assumir a liderança em alguns domínios. No que respeita à cooperação com os EUA e a Rússia, convém assinalar um pormenor importante. Não obstante um interesse manifestado pelo sector espacial chinês, os EUA receiam, contudo, que a China desenvolva, de forma mais intensa, a vertente militar dos seus programas espaciais. Pelos vistos, Pequim tampouco deseja que o seu sector espacial seja encarado sob o prisma de "potenciais ameaças à segurança dos EUA", mesmo que na esfera das altas tecnologias os dois países venham estreitar as relações bilaterais. Por isso, a Rússia tem agora a possibilidade de fortalecer as suas posições na área de pesquisas espaciais conjuntas russo-chinesas.

Andrei Kisliakov observador político RIA "Novosti"

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