Condoleeza Rice começa de forma previsível

Não surpreende que a declarações de Condoleeza Rice durante o processo para a nomear a próxima Secretária de Estado dos EUA demonstram uma fêmea amara, insubstancial e pouco profunda, com um sentido inflacionado da sua própria importância e mais uma vez, uma total ausência das qualidades que ela precisaria para desempenhar seu trabalho em qualquer país senão nos EUA.

Para Colin Powell, a palavra “diplomacia” significava mentir entre os dentes no Conselho de Segurança da ONU, quando mostrou suas fotografias tiradas por satélite das provas magníficas da AMD de Saddam Hussein inexistentes. Uma treta.

Para Condoleeza Rice, a palavra “diplomacia”, aparentemente significa disparar em todas as direcções ainda antes de tomar posse, como alguém que ou sofre dum caso muito agudo de TPM (Tensão Pré-Menstrual) ou então dum caso crónico da menopausa. Numa birra que mais parecia o comportamento dum fedelho de três anos estragadíssimo por mimos, Condoleeza Rice declarou um dia antes da tomada de posse que “no nosso mundo, há ainda vestígios de tirania e a América se levanta para defender as pessoas oprimidas em cada continente, em Cuba, e Myanmar, e Coreia de Norte, e Irão e Bielo-Rússia e Zimbabué”. América? Essa senhora fala em nome de quem? Dos brasileiros, que são americanos?

Mas o que tem a Condoleeza Rice a ver com Cuba, quando como cidadã dos EUA nem sequer é livre para viajar para lá? Já falou com Fidel Castro? Já falou com o povo cubano para ver se a maioria dos cidadãos gosta do seu governo? Ou se limitou aos livros, esse exemplo clássico duma política de laboratório, sentadinha no seu escritório confortável, recebendo notícias que o governo de Castro é tirânico, provavelmente pela Máfia cubana na Florida?

Boas fontes. Relativamente à Bielo-Rússia, o quê é que esse país tem a ver com Condoleeza Rice? O povo deste país escolheu a sua liderança numa eleição livre e se essa liderança é tirânica, votarem nela.

A cereja no bolo, de alguém que é suposta ser inteligente, é sem qualquer surpresa a suas declarações sobre o Iraque. Primeiro, Condoleeza Rice defende a política de Presidente Bush no Iraque, como um Rottweiler que iria defender o Hitler até a morte. Depois disse que o regime em Washington tinha cometido erros.

Então ela defende os erros na política externa? Bom começo.

Depois que Condoleeza Rice afirmou que “Eu nunca, nunca perdi o respeito pela verdade no serviço de qualquer coisa” (seja o que for que isso significa, quer em inglês, quer em português, é uma frase do tipo ‘very nice, cafeteira’), ela disse que Saddam Hussein nunca tinha explicado onde estavam as suas Armas de Destruição Maciça. Claro que não, e como podia ele, dado que nem existiam? E isso ele explicou e por isso não foi o Saddam Hussein que estava a mentir. O quê é que está a acontecer aos Secretários de Estado dos EUA hoje em dia? Será o vento?

Uma coisa é não ver o que existe e outra patologia mais complicada é verem o que não existe. Condoleeza Rice parece pertencer a esse último grupo, membro dum clique de sanguessugas neo-conservadores super-ricos, elitistas e cripto-fascistas que preferem sangrar o tecido social do seu país enquanto ficam mais inchados com poder e riqueza. Infelizmente, a política também passa por agarrar a comunidade internacional pela garganta, enquanto tenta passar seus recursos para firmas controladas por Washington, ou que por sua vez controlam a política dos EUA.

Agora que a senhora Rice se declara tão honesta e tão interessada na verdade, talvez ela queira responder a uma pergunta: se Washington tinha o direito de travar guerra contra o Iraque, então Washington tinha um casus belli legítimo sob a lei internacional. Então, qual é e sob qual jurisdição é que a política de Washington no Iraque é legal?

E outra pergunta, onde estão as Armas de Destruição Maciça, visto que Washington declarou que foi essa a razão pela guerra?

Se a Condoleeza Rice continuar tal como começou, então a sua arrogância bradante e taciturna irá divorciar Washington ainda mais longe da comunidade internacional, cujas reacções à questão do Iraque realçam sem qualquer réstia de dúvida que o Washington de Bush e Rice está isolado e gélido.

Finalmente, comentários acerca do registo de direitos humanos na Rússia por essa “perita em assuntos russos” (isso significa o quê, exatamente? Alguém a ouviu a falar russo?) nada farão para reconstruir as pontes que o regime de Bush insiste em destruir.

Washington precisa de tomar meio passo para trás e dar uma olhada objectiva sobre a comunidade internacional, ver o que está mal e rectificá-lo. Fazer declarações acerca de liberdade e democracia para o mundo fora pode fazer significado em Washington. Mas para a grande maioria das pessoas na comunidade internacional, sua liberdade e democracia não é nossa liberdade e democracia e não a queremos, muito obrigado.

Se Condoleeza Rice é suficientemente inteligente para perceber isso e se entende até aonde ela deverá traçar as linhas guia da política externa dos Estados Unidos da América, colocará uma marca na história diplomática do seu país e não só.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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