A Semana Revista

RICE PREOCUPADA

Secretária de Estado dos EUA quer reformas na América Latina Que qualquer político dos Estados Unidos da América pudesse ser suficientemente audaz para exigir qualquer coisa que fosse da América Latina, um continente que tem sido devastado pela ingerência criminosa e intrusão assassina de Washington, é inaceitável.

Que essas palavras pudessem provir de Condoleeza Rice, pedra-de-toque do regime de Bush, cuja história fala por si, é incompreensível.

A falta de tacto, de diplomacia e boas maneiras da Condoleeza Rice foi mais uma vez visível logo no início da Cimeira da Organização dos Estados Americanos em Flórida, onde usou o seu discurso inaugural para exprimir as suas preocupações acerca da situação na Bolívia, no Equador e em Haiti.

Se não fosse a insolência e pura arrogância desta fala-barato, seria até engraçado, pois cá está uma senhora, supostamente inteligente, a representar a diplomacia do seu país, falando duma défice democrática num país, cujo líder democraticamente eleito, Aristide, foi removido por Washington à força de armas simplesmente porque estava distribuindo a riqueza de Haiti numa base mais igualitária. Falar assim de Haiti é admitir que a política externa de Washington falhou rotundamente.

Actos de chacina, tortura numa escala vastíssima, o assassínio de dezenas de milhares de civis inocentes, fala de viva voz acerca desta política actualmente e historicamente, os engenhos de Washington na América Latina têm demonstrado múltiplos actos de interferência assassina, actos de pura pirataria e terrorismo.

Foi Washington, e não Osama bin Laden, que inventou a táctica de embater aviões em edifícios públicos no dia 11 de Setembro mas estamos a falar em Santiago del Chile e não Nova York, quando o regime sanguinário de Pinochet foi instalado no poder. Foi Washington que organizou a Operação Condor, uma onda de opressão Fascista criminosa e cruel, responsável por inúmeros mortes e desaparecimentos no Continente.

Foi Washington que tem sistematicamente apoiado regimes fascistas e anti-democráticos na América Latina, massacrando as populações e retirando os recursos destes países do seu devido lugar – nas mãos dos povos da América Latina.

Finalmente, quando Condoleeza Rice menciona uma défice democrática na América Latina, ela deveria lembrar-se que não foram os países da América latina que chacinaram os civis no Iraque, não foram as populações dos países da América Latina que votaram pelas ditaduras impostas sobre elas por Washington e que o único sítio na América Latina onde se perpetram actos sistemáticos de tortura é no campo de concentração de Guantanamo Bay. O ARRASTÃO DOS BOATOS

Alucinante cenário em Portugal O famoso “arrastão” na Praia de Carcavelos no final de semana passada deixa a nu o espírito leviano corrente em Portugal, país no cruzamento colocado por uma crise profunda económica e a procura de valores sociais, depois do tecido social ter sido esticado ao ponto de rompimento pela coligação PSD/PP, herdeiros de Cavaco Silva.

Para quem passou o final de semana entre 10 e 13 de Junho fora de Portugal, que foi meu caso, e chegou a Lisboa no dia 14, pedindo uma síntese dos principais eventos, há duas reacções: tristeza pela morte de três indivíduos que traziam cor à sociedade portuguesa e não só (Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves e Eugénio de Andrade) e uma mistura de consternação e incredulidade relativamente à maneira em que é contado a história dos vários distúrbios ocorridos entre o Dia de Portugal e Dia de Lisboa.

Portugal há muito tempo é país dos boatos, a sociedade tendo a capacidade de enviar à praça pública histórias só depois contadas pela imprensa, ou então nunca contadas pela imprensa, vejam por exemplo o caso das Amoreiras e os videotapes, um certo arquitecto e certas meninas e senhoras e o Ministro das Finanças, no então governo do Professor Doutor Cavaco Silva.

Para quem quiser saber o que aconteceu, nem vale a pena pesquisar nos arquivos da imprensa, basta perguntar a qualquer cidadão e depois saberá a história dum jogo perverso de cadeiras e câmeras de filmar.

Passados dez anos, temos agora outro caso, o do Arrastão da Praia de Carcavelos. O quê? A primeira notícia via-se nas páginas da imprensa nacional, com títulos do calibre “Pânico na Praia”, com textos que aludiram a 500 pessoas de raça negra que se juntaram na praia de Carcavelos perto de Lisboa, e fizeram um arrastão, agredindo as pessoas e roubando tudo que apareceu à frente.

Durante os dias que seguiram, o número baixou de 500 para 400, 300, 200, 100 e agora, 50 e a “cor da pele” mudou de “negro” para “mulato”, a etnia/nacionalidade oscilando entre o “africano”, “português” e “brasileiro”, sendo os perpetradores guiados por africanos, portugueses, brasileiros e de acordo com uma fonte, a máfia russa.

Se não fosse tão grave, seria engraçado. Imaginem, entre 50 e 500 negros/brancos/mulatos, de etnia/nacionalidade africano/português/brasileiro, comandados pela máfia russa a tirar meia dúzia de tostões dos frequentadores da praia de Carcavelos, antigamente chamada Praia da Póia.

Ou será que foram poucas dezenas de pessoas oriundas das favelas à volta de Lisboa, que decidiram marcar o Dia de Portugal por afirmarem sua presença, reclamando contra a exclusão social que sentem e contra o alegado fecho duma fonte de água que servia uma parte substancial da população dum desses bairros?

Será que a grande maioria foram menores que só apareceram porque parecia uma boa ideia porque não tinham mais nada a fazer e senão, por quê não? Será que a grande maioria estiveram na praia por causa de pressões exercidas por pares mais velhos?

Quem sabe? De qualquer forma, é inaceitável que uma pessoa não possa gozar a praia no final de semana por medo de ser assaltado mas também é inaceitável a reacção que grassa na praça pública.

A primeira reacção foi de comparar o arrastão de Carcavelos a aquilo que acontece de vez em quando no Brasil. Uma palavra amiga e de conselho aos portugueses: não se comparem ao Brasil, senão correm o risco de entrar em psicose profunda com complexo de inferioridade. Se vão comparar-se ao pior que acontece no Brasil, então se comparem ao melhor e depois façam uma análise mais profunda. E se lembrem que o monstro de Fortaleza é português.

A segunda reacção foi culpabilizar os africanos ou filhos destes pelo acontecido. Para indivíduos que proferem esse tipo de argumento, basta dizer-lhes que são ignorantes, imbecis e incapazes de formar uma opinião que presta. Bastaria levar essas almas para uma faculdade onde estudam estudantes dos PALOPs para ver o empenho, o amor e a dedicação com que se entregam aos estudos e depois comparar com alguns dos alunos europeus, que mandam arrotos nas aulas e se recusam a fazer os trabalhos.

Culpabilizar o europeu para tais actos seria um absurdo, como é culpabilizar o africano, brasileiro ou seja quem for para os actos perpetrados por uma minoria. Responder com manifestações de skinheads, como é pretendido por alguns em Portugal, é uma estupidez, pois nem os portugueses gostam de racistas, nem os racistas têm algo a ver com os portugueses, pois Portugal é um país pluri-cultural e o português é um povo multi-étnico.

Conselho: Deixem lá isso. Em 26 anos em Portugal tive problemas duas vezes na rua e cada uma das vezes foi com portugueses, brancos. Dei a volta nas duas situações, saindo delas a bem, pela capacidade de conversar.

Sem mais palavras.

ÁLVARO CUNHAL: HERÓI DOS DIREITOS HUMANOS E DA HUMANIDADE 1914 - 2005

Morreu o homem mas não o sonho Álvaro Cunhal morreu na madrugada do dia 13 de Junho aos 91 anos de idade, tendo passado três quartos de século a lutar pelos direitos humanos, pela liberdade, pela democracia e contra forças fascistas e reaccionárias.

O seu legado é visível hoje, pois seus sonhos continuam entre nós, seus ideais são mais claramente relevantes e sua palavra mais verdade agora que nunca.

O mundo de hoje é uma justificação de tudo o que representa Álvaro Cunhal e as linhas-guia do seu projecto continuam bem pertinente. Numa altura em que os serviços públicos entram em colapso no modelo capitalista-monetarista, numa altura em que as forças que detêm o poder lançam ataques assassinos para agarrarem as riquezas de povos alheios, numa altura em que a sociedade ocidental entra num cruzamento procurando valores, sem saber onde ir, o caminho que Álvaro Cunhal nos ensinou a seguir faz cada vez mais todo o sentido.

Álvaro Cunhal representa um ideal em que o Estado providencia serviços de saúde e de educação gratuitas e de excelente qualidade, representa emprego garantido, alojamento garantido, representa uma sociedade com todas as capacidades de oferecer grande mobilidade aos seus cidadãos, pensões dignas, ruas seguras e um aumento no nível cultural e professional do povo…eis o modelo comunista.

Nasceu em Coimbra em 1913 mas foi em Lisboa, na Faculdade de Direito, que Álvaro Cunhal iniciou a sua actividade revolucionária. Membro do Partido Comunista Português desde 1931, foi eleito Membro do Senado estudantil em 1934, e um ano mais tarde Secretário-Geral da Federação de Juventude Comunista, participando no IV Congresso Mundial da Juventude Comunista em Moscovo.

Foi preso em 1937 e em 1940, sendo torturado barbaramente pelas forças Fascistas do regime de Dr. António de Oliveira Salazar, entrando na clandestinidade outra vez para reorganizar o partido em 1940/1, sendo membro do Secretariado do PCP de 1942 a 1949, ano em que foi preso e encarcerado durante 11 anos em várias prisões, sendo submetido outra vez à tortura. Mas não vergou e nunca abandonou seus ideais.

Em 1960, escapou da prisão de Peniche, sendo eleito Secretário-Geral do PCP em 1961 e passando a viver no estrangeiro, encontrando-se com membros de formações políticas noutros países e mantendo viva a chama do Comunismo em Portugal.

De volta em Portugal para a Revolução de 25 de Abril de 1974, foi nomeado Ministro sem Pasta nos primeiros quatro governos e em 1975, foi eleito membro da Assembleia Constituinte. Foi eleito Deputado da Assembleia da República em 1976, 1979, 1980, 1983, 1985 e 1987, sendo também membro do Conselho de Estado.

Em 1992, num processo de renovação da estrutura do partido, passou a ser Presidente do Conselho Nacional do PCP, e Carlos Carvalhas assumiu o posto de Secretário-Geral (agora ocupado por Jerónimo de Sousa).

Deixa um vasto leque de publicações, quer no domínio político, quer na literatura (escrevia romances sob o pseudónimo de Manuel Tiago).

Álvaro Cunhal foi e continuará sempre a ser um exemplo de dedicação, de coerência política, de coragem, de sabedoria, de honestidade e de amor ao seu povo. Se todos os políticos hoje em dia fossem como ele, o mundo de hoje seria um paraíso.

FUNERAL DE ÁLVARO CUNHAL

Os Comunistas e o povo português despedem-se em clima de profunda emoção do Camarada Álvaro Cunhal Centenas de Milhar de pessoas participaram no dia 15 de Junho no Funeral de Álvaro Cunhal. O percurso de 5 Km entre o Centro de Trabalho “Vitória” do PCP e o Cemitério de Alto de São João, inicialmente previsto para ser feito em cortejo automóvel em cerca de metade da sua extensão, foi integralmente realizado a pé por uma imensa multidão que acompanhou a urna de Álvaro Cunhal à qual se juntou, também a pé, toda a Direcção do PCP, o Secretário Geral do Partido, Jerónimo de Sousa, a Direcção da JCP.

Desde o dia anterior que milhares e milhares de pessoas se deslocaram ao Centro de Trabalho “Vitória” numa ininterrupta fila de centenas de metros, para prestar uma ultima homenagem ao camarada Álvaro Cunhal.

Inúmeras personalidades portuguesas das mais variadas áreas da vida nacional, dirigentes históricos do PCP, dirigentes do movimento sindical e associativo, personalidades da vida cultural, altos representantes do Estado Português, o Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República, membros do Governo, dirigentes dos principais partidos políticos portugueses, entre muitos outros, associaram-se também à ultima homenagem a Álvaro Cunhal.

O governo português decretou o dia 15 de Junho dia de luto nacional.

O PCP recebeu na sua sede centenas de mensagens de condolências provenientes de todo o mundo de Partidos Comunistas e progressistas, de organizações internacionais, de várias personalidades do movimento comunista e progressista mundial e ainda inúmeras mensagens de militantes comunistas e progressistas de muitos países.

Vários partidos comunistas e progressistas enviaram delegações de alto nível ao funeral de Álvaro Cunhal, entre eles o Partido do Socialismo Democrático da Alemanha, o Partido Comunista do Brasil, o PAICV de Cabo Verde, o Partido Comunista de Espanha, o Partido Comunista Francês, o Partido Comunista da Grécia, o PAIGC da Guiné Bissau, o Partido da Refundação Comunista de Itália, o Partido Frelimo de Moçambique.

A grandiosa manifestação de massas em que se transformou o funeral do Camarada Álvaro Cunhal, constituiu um importante momento de reconhecimento pelo seu inestimável papel na luta pela liberdade, a democracia e o socialismo.

A Secção Internacional do Partido Comunista Português

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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