2005 – como vamos?

Superficialmente, fizemos um longo caminho desde 1945 mas será que abordamos as raízes dos nossos problemas? Seis décadas depois do final da Segunda Guerra Mundial, o Homem se acha no limiar do terceiro milénio com promessas e frases de ocasião amiúde mas em termos práticos, pouco ou nada feito.

Embora tenha havido melhorias (a esperança da vida aumentou em muitas regiões da terra, as guerras que sofremos nada parecem com a escala da segunda guerra mundial e houve enormes progressos científicos em quase todas as frentes), ainda nos achamos num mundo em que a regra da lei não é respeitada, as oportunidades não são iguais, uma proporção substancial da nossa população vive em condições deploráveis e o espaço entre os que têm e os que não têm aumenta dia após dia.

O Iraque foi um exemplo clássico de onde o Homem pode errar, onde a diplomacia entrou em colapso, onde a ONU foi desrespeitada e ultrapassada como organismo insignificante e impotente, tal como acontecera com a Liga das Nações um século antes e onde a crueldade e a insensibilidade daqueles que detinham o poder foi utilizado sem qualquer respeito pela vida humana.

Há porém bons exemplos. Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio são um farol que ilumina o caminho que o Homem deveria estar a seguir, fixando alvos e providenciando umas linhas-guia, através dum processo de diálogo, para o estabelecimento de políticas de desenvolvimento sustentável pelo mundo fora.

Outro exemplo encorajador foi a Comissão para África, estabelecida pelo Primeiro-Ministro do Reino Unido, Tony Blair. Esta Comissão teve uma base tão larga quanto possível e emitiu seu relatório em Março deste ano sobre os problemas enfrentados pelo continente africano, apresentando soluções. Estas serão discutidas na cimeira dos G8 em Gleneagles, Escócia, em Julho.

E é precisamente aqui o foco das nossas atenções, nos mecanismos da tomada de decisões, no nível político mais alto possível (às vezes vedado) onde se encontram os que detêm o poder. Por muito que os técnicos trabalhem num nível menos visível, por muito que tente pressionar a opinião pública, falta a visibilidade na altura da tomada de decisão.

No nível onde as políticas e os negócios são misturados e onde os barões invisíveis têm tanto poder, ou mais, que aqueles que nós elegemos em eleições democráticas, entrelaçam-se os planos de negócios, políticos e de interesses pessoais.

É aqui o ponto onde devemos atacar, o mal que temos de rectificar, nomeadamente a culminação do modelo capitalista no sistema monetarista e liberal, onde a linha de fundo quer dizer tudo e onde a vida humana fica redundante, onde os que controlam a riqueza detêm poder absoluto e os que não detêm poder nem riqueza são condenados a uma situação em que o valor da vida humana se relega a um nível abaixo do valor de dinheiro.

Nesse modelo, a competição, supostamente uma ideal que estimula o progresso, ganha uma faceta mais perversa, que leva à destruição e à morte, que leva à extinção dos valores humanos enquanto a gula dos elitistas corporativos dita a política mundial num nível não-Clausewitziano talvez pela primeira vez na história moderna.

A rota alternativa, seguida por Marx, Engels, Lenin e outros, criando um sistema em que a política era ditada pelo povo, criando sociedades em que a paz e o pão eram garantidos num estado seguro, que providenciou a habitação gratuita, sistemas de educação e de saúde excelentes e gratuitas, pensões garantidas, trabalho garantido, alimentação garantida, foi atacada pelos construtores e apologistas deste modelo capitalista desumana.

Se o sistema comunista desapareceu na Rússia talvez porque nunca lhe deram qualquer hipótese de continuar (embora seus objectivos principais foram alcançados) e porque faltou um elemento importante, reconhecer e recompensar o esforço humano, então o que existe no palco mundial é ainda pior. Enquanto o sistema comunista conseguiu algo, o modelo da direita, monetarista, capitalista e liberal também produziu caos e desastres, que é a vida diária de tantos milhões de pessoas, os que querem comprar uma casa, que querem ganhar e manter um emprego, que querem um sistema de educação e de saúde.

Basta dizer que o PIB da URSS em 1990 era o dobro do PIB da Federação Russa de 2000. E o sistema comunista era assim tão mau?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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