A Semana Revista

Satânica degradação

Quem diria que no ano 2004, tropas norte-americanos estariam envolvidos numa política sistémica e sistemática de tortura de prisioneiros? Mas estão. Lynndie England, a Grande Heroína Americana, fazendo com os dedos o símbolo “OK”, a torturar indefesos prisioneiros, fez as manchetes desta semana, quando Rumsfeld afirmou que “há muito pior a vir”…e fica no seu lugar.

Infelizmente não foi só Lynndie England nem só a prisão de Abu Graib em Bagdade. A tortura dos prisioneiros detidos pelas forças norte-americanas no Iraque aconteceu em Bagdade, em Abu Graib, aconteceu em Bucca, aconteceu noutros lugares. Chama-se “liberdade e democracia”, chama-se “ganhar corações e mentes”, ao estilo Bush.

Na história há vários momentos negativos, como a Inquisição, como os massacres perpetrados pelos colonizadores contra povos indígenas, como por exemplo os ultrajes que foram cometidas em campos de extermínio geridos pelas forças fascistas de Hitler. O que aconteceu em Abu Graib, e não só, demonstra o tamanho e a medida do monstro que se chama o regime de George Bush. Pertence a estes momentos negativos e arrasta para a fossa todos os regimes que não tiveram a coragem de falar no nome da razão, e que responderam com cobardia às ordens de Washington.

Um destes regimes é o (des)governo de José Barroso, regime que dá o aval à política de chacina dos EUA no Iraque, regime que destrói o tecido social em Portugal, que é totalmente incapaz de criar uma almofada que protege o povo que o elegeu do desastre que é sua política financeira, económica e social.

O (des)governo da coligação PSD/PP é uma espécie de satânica degradação da sociedade portuguesa. Faltam só dois anos, dois anos de sofrimento, de desemprego, da humilhação do povo português. Que mal fizeram a Deus?

Bush considera que Rumsfeld é “corajoso”

Na opinião de George Bush, que não conta muito, Donald Rumsfeld é corajoso. “Corajoso” seria uma escolha curiosa dum adjectivo para descrever um homem cujas forças perpetraram actos de tortura e depois tentou encobrir o sucedido.

Outros diriam “cruel”, “maldoso”, “macabro” ou coisa assim. Outros diriam simplesmente “criminoso de guerra” ou “assassino”. Mas “corajoso”?

Coragem é empregar firmas de “segurança”, propriedade de ex-soldados e membros das forças especiais ligados ao Pentágono, dar-lhes a luz verde para, juntamente com membros das forças armadas dos EUA, humilharem os prisioneiros, indefesas, nus, desarmados, presos, maniatados, esforçando-os a fazer actos vis duma perversão estudada?

Coragem é ver “pessoas” como a Grande Heroína Americana, Lynddie England, a tirar fotografias das suas vítimas, e depois desculpar-se dizendo que não lhes foram dadas instruções sobre como interrogar os prisioneiros?

É assim que as pessoas agem nos Estados Unidos da América? Urinam sobre as pessoas, partem-lhes os dentes, esforçam-nos a chupar os pénis dos outros homens, sujeitam-nos a actos de sodomia? Atam roupa interior a volta das suas cabeças e caras, violam as mulheres detidas, espancam as pessoas até à morte?

Não é só a Grande Heroína Americana Lynndie England. São meses e meses e meses de abuso por inúmeros elementos, perpetrados sistémica e sistematicamente durante uma tentativa de encobrir os actos demoníacos que aconteceram.

E Rumsfeld simplesmente pede desculpa e fica no seu lugar, Bush não pede desculpa depois afinal pede, e fica lado a lado com Rumsfeld, que considera “corajoso”?

Estes dois criminosos de guerra deveriam estar num tribunal, acusados de crimes de guerra e contra a humanidade, acusados de darem instruções às suas forças armadas para propositadamente destruirem as infra-estruturas civis dum país, para depois espalhar contratos bilionários à elite corporativa que grávida a volta da Casa Branca, controlada(s) por Cheney.

Estes dois criminosos de guerra deveriam estar num tribunal, acusados de chacinar dez mil civis, de mutilar mais trinta e cinco mil pessoas, deveriam ser acusados de deitar bombas de fragmentação em áreas residenciais, deveriam ser acusados do massacre ou mutilação de mil crianças.

Deveriam ser acusados de serem os responsáveis máximos pelas cenas mais chocantes de tortura a serem mostradas na televisão deste Auschwitz ou Dachau ou Treblinka. Só faltam câmaras de gás e fornos.

E Bush considera isso “corajoso”?

Mandato de captura para Wiranto

A ONU emitiu o mandato de captura contra Wiranto por crimes contra a humanidade cometidas em 1999, na sua capacidade de Ministro de Defesa da Indonésia e Chefe das Forças Armadas daquele país durante os massacres no processo de independência.

Em Fevereiro de 2003, a Unidade de crimes Graves da ONU indiciou Wiranto para responsabilidade de comando em crimes que incluíam assassínio, persecução e deportação ilegal.

Nicholas Koumjian, Vice-procurador-geral para Crimes Graves, considera que este mandado “soletra uma mensagem clara que as vítimas não foram esquecidas e que a comunidade internacional não tolera a impunidade para aqueles que são culpados de crimes contra a humanidade, sejam quem for”.

Sob os termos do direito internacional, comandantes que sabiam, ou que deveriam ter sabido, da ocorrência de crimes contra a humanidade cometidos por elementos sob o seu controlo, mas não tomaram as medidas adequadas para punir os perpetradores ou impedir que os crimes fossem cometidos, são responsáveis e culpáveis dum acto criminoso.

Wiranto…que tinha uma reunião com os seus mestres da CIA todas as semanas. Não surpreende muito, desde que quem deu a ordem para a invasão de Timor Leste pelas forças fascistas e assassinas de Indonésia foi o Henry Kissinger.

Não escapam os maldosos

Governo britânico contempla época após Blair

O governo do Reino Unido se reuniu esta semana para debater a possibilidade dum governo New Labour sem o Primeiro-ministro Tony Blair, devido à onda de revolta nas bancadas do partido no governo na sequência do ultraje que se chama a guerra no Iraque.

Ninguém gosta dum primeiro-ministro que mente, que inventa um causus belli falso para cometer depois um acto de chacina, vitimando dez mil pessoas inocentes, ferindo trinta e cinco mil civis, destruindo propositadamente as infra-estruturas do Iraque para depois haver uma distribuição de contratos de reconstrução de forma arbitrária… ninguém gosta dum líder que fez parte duma coligação, juntamente com Bush, Berlusconi, Aznar, Barroso, que viu bombas de fragmentação deitadas em áreas de residência civil, que vitimou pelo menos mil crianças. Ninguém gosta dum Primeiro-ministro cujas forças armadas assassinaram crianças, mortas com tiros nas costas.

Se bem que o Daily Mirror tenha publicado fotografias falsificadas, vamos lembrar que os governos do Reino Unido e dos EUA falsificaram documentos para tentarem provar a cumplicidade do governo de Bagdade em programas nucleares, vamos lembrar da chacina dos civis iraquianos e vamos ficar focados na verdade, nomeadamente o nojento clique de covardes que apoiou e continua a apoiar a política de Washington no Iraque.

O povo norte-americano, britânico, português, italiano, dinamarquês, australiano e polaco tem muita coisa a fazer, no exercício democrático do voto. O povo espanhol já falou. E bem.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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