Os heróis não reconhecidos no Iraque

Depois de viver três décadas num regime brutal, enfrentar uma década de sanções, durante qual período a aviação militar norte-americana e britânica perpetrou actos criminosos de sabotagem e perseguiu uma política criminosa e assassina de pirataria contra alvos civis e militares, agora o nobre povo do Iraque teve de percorrer uma campanha cruel e brutal, em que estruturas civis foram aniquiladas no acto de chacina ilegal, o ataque contra o Iraque liderado pelos EUA.

Tão completa foi a destruição e tão devastador o assalto, que hoje, mesas depois do final da guerra, o sistema do fornecimento de água não funciona, o fornecimento de electricidade está longe da normalização e a rede sanitária espalha a doença entre homens, mulheres, crianças, bebés. Além disso, o cinismo do regime em Washington, que tem a audácia de se gabar que as suas armas de precisão foram mais precisos desta vez do que nunca antes, que esta guerra foi “limpa”, que o povo iraquiano está melhor agora com um invasor estrangeiro, é um insulto aos bons homens, mulheres e crianças do Iraque cuja neutralidade nesta campanha está virando muito depressa contra o invasor.

Contudo, nem uma palavra se diz na imprensa ocidental quando militares norte-americanos chacinam civis iraquianos. No mesmo dia em que uma camião-bomba devastou o Quartel-general italiano em Nassiriyah, cinco civis iraquianos foram assassinados por tropas norte-americanos com excesso de zelo para puxar o gatilho em Fallujah. Onde estava esta história?

Não estava em parte nenhuma.

Um porta-voz para as Forças Armadas norte-americanas disse à imprensa que “militantes do inimigo” foram mortos a tiro por tropas dos EUA que ripostaram após um ataque em Fallujah na noite de quarta-feira.

Fontes da Pravda.Ru no Iraque contam uma história completamente diferente. O hospital local confirmou que cinco corpos de civis tinham sido entregues para serem reclamados por familiares. Estes disseram a Fatma Kazemi, jornalista freelancer a trabalhar para Pravda.Ru no Iraque, que seus familiares estavam numa camião voltando para casa depois de descarregar numa fazenda. Nem armas tinham nem sabiam usá-las.

Abdul Iqbal Stafi disse ao escritório da Pravda.Ru em Lisboa que “centenas, não dezenas, de civis iraquianos têm sido assassinados pelos tropas norte-americanos. São uma cambada de assassinos”. Abdul estudou comigo na Universidade de Leeds nos anos 70. Éramos companheiros de apartamento durante um ano. Abdul não pode ser descrito como anti-americano, porque depois de se licenciar, foi para os EUA, onde viveu e trabalhou como engenheiro durante 18 anos, antes de voltar para a sua cidade natal, Bassora.

“Cá na Basra, quase não se registou nenhum incidente com os britânicos. Adoptam uma posição de baixo-relevo, não usam capacetes e brincam com as crianças. Pedem desculpa pela inconveniência da situação e dizem que em breve, sairão. No resto do país, os norte-americanos estão a chacinar civis todos os dias, incluindo mulheres e crianças”.

Abdul disse à Pravda.Ru que agora está feliz que tem a hipótese de ver imprimido suas palavras. “Penso que vocês são o único jornal a contar a verdade, na boa tradição da Pravda. Nestes meses, aprendi a odiar as forças dos norte-americanos. Assassinaram meu primo de seis anos em Bagdade. Nada disseram na imprensa. Foi em sangue frio. Depois enfiaram as suas armas na cara do meu irão de 13 anos, Ahmed – dois soldados – e gritaram: “Levante o caralho das suas mãos, porra! JÁ!”

Um rapaz de seis anos, um rapaz de 13 anos, um camião de fazendeiros…militantes do inimigo?

Pelo amor de Deus. Sem mais comentário.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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