O Realpolitik actual

Nos bons velhos tempos, se esperava que na palavra dum Primeiro-ministro da Grã-bretanha ou dum presidente dos Estados Unidos da América, residia a verdade, toda a verdade e nada senão a verdade. Hoje em dia, infelizmente, não é o caso, sendo aliás uma questão de mentiras, mais mentiras e até mais mentiras, enquanto o Mundo desce para um inferno frenético de loucura, orquestrada por Washington e de certa forma, por Londres.

Nos bons velhos tempos, se um político cometeu um erro, que é humano, pedia desculpa, colocando sua posição à disposição do seu superior, ou se demitia e pedia ao seu eleitorado que decidissem. Hoje já não é assim.

Apanhados com os dedos na caixa de chocolates, Bush e Blair agem como as serpentes que eles são, tentando desesperadamente protegerem-se e justificar o que fizeram, em vez de agir com decência comum (pedindo desculpas publicamente) e admitindo que utilizaram chantagem, ameaças de força, documentos forjados e mentiras como instrumentos de diplomacia internacional.

O argumento original era que Saddam Hussein tinha ADM e que era um ameaço a curto prazo (45 minutos) aos EUA, ao Reino Unido e aos seus aliados. Esta afirmação foi suportada por “provas” compostas por fotografias tiradas por satélite, maquetas, desenhos com setas, “inteligência magnífico” e a afirmação que “sabemos onde estão os ADM”, enquanto Saddam Hussein era suposto ter ligações com Al Qaeda e foi demonizado a tal ponto que a opinião pública foi preparada para o acto de o retirar do poder.

Cá estava o segundo passo do argumento. Quando a mentira foi descoberta – que as ADM nunca existiam, que Washington sabia muito bem que não existiam, que Colin Powell mentiu entre os dentes na ONU, que Blair e seus amigos exageraram as “provas”, copiando e colando uma tese da Internet, que era desactualizada em 12 anos, acerca do estado de prontidão das ADM do Iraque – veio a afirmação que dizia “Bem o Saddam era uma sacana da pior espécie e por isso o mundo está melhor sem ele”.

As frases “O mundo está melhor sem ele”, e “Liberdade e democracia” foram repetidas inúmeras vezes. No entanto, não se trata duma campanha de publicidade e a opinião pública não deve ser bombardeada por imagens e mensagens subliminais, especialmente oriundas deste clique de criminosos de guerra e assassínios em grande escala, que violaram a lei internacional, estupraram a dignidade das normas de diplomacia, desrespeitaram a ONU, quebraram a Carta da ONU e a Convenção de Genebra.

Quem diria que isso fosse possível há poucos anos?

A gestão de crises não pode e nunca deve ser baseada em provas falsificadas inventadas para servir os interesses dum clique da elite corporativa que rodeia um governo e ditam sua política e a de outras nações que pretendem ganhar pontos por se rastejar aos pés do mestre no outro lado do lago, ou que são covardes até ao ponto de se renderem à chantagem de Washington, que é sinónimo hoje em dia para diplomacia.

A verdade é que Bush e Blair são mentirosos descarados, que inventaram um causus belli sabendo que não existia – ou se não souberam, são pelo menos incompetentes, pelo que ou deveriam demitir-se e sempre levados a um tribunal para responder pelos seus crimes.

Bush e Blair são responsáveis por uma guerra ilegal em que milhares de pessoas foram assassinadas, em que dezenas de milhares de pessoas foram mutiladas, em que armas de precisão foram utilizadas contra infra-estruturas civis, em que ADM foram deitadas em áreas residenciais, em que as vidas de crianças foram colocadas em risco, em que Urânio Empobrecido deixou algumas áreas com níveis de radioactividade perigosas.

Não chega, nem podemos deixar que seja o suficiente, um encolher dos ombros e dizer que o mundo está melhor assim. Um causus belli e qualquer casus belli, têm de ser baseados nas fundações sólidas dum pretexto cristalino, em resposta a uma ameaça real e não inventada. E será que o mundo é mais seguro agora do que antes, com o Iraque em caos, um paraíso para terroristas e terrorismo, que não era antes, agora que qualquer fanático tem uma razão de ser, agora que Washington e Londres perpetraram um acto de terrorismo numa escala nunca antes visto?

O facto que Bush e Blair possam estar sentados nos seus lugares e a defenderem o que fizeram diz tudo sobre a integridade destes dois homens (h pequeno) e providencia a possibilidade de ver a frieza das suas acções e a baixeza até onde podem chegar seus regimes.

É este o Realpolitik do mundo de hoje, que seria melhor, sim, sem Bush e Blair.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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