A Semana Revista

FAZER SENTIDO DEPOIS DE BESLAN

Algumas verdades para aqueles que gostam de inventar mentiras

Tomámos o cuidado de não misturar comentários políticos com notícias acerca dos eventos horríficos e traumatizantes em Beslan, para providenciar às vítimas a dignidade que merecem e para não sermos acusados de utilizar a tristeza duns para atacar outros.

Contudo, agora que as câmaras e jornalistas deixaram a boa gente de Beslan à sua privacidade e dignidade, é altura para dissecar algumas afirmações feitas por várias fontes estrangeiras durante esse evento diabólico.

Primeiro, vejamos as afirmações feitas por alguns acerca dos muçulmanos, que são todos iguais e é assim que eles agem e que temos todos de lutar contra eles.

Errado! A vasta maioria dos muçulmanos condenaram este acto horrível e sem sentido, que foi mais perto do Diabo do que de Deus. Houve várias manifestações de solidariedade na Chechénia para com as crianças e contra os terroristas.

Segundo, a noção que este ataque foi perpetrado por rebeldes chechenos. Errado! Em qualquer caso, não se trata de rebeldes, mas sim de terroristas. Aqueles que fazem actos de violência contra alvos civis são terroristas e criminosos e devem ser julgados por assassínio ou danos corporais graves num tribunal de lei, como qualquer outro. Ponto final.

Também nem é bem claro que este bando pertence aos tradicionais grupos de terroristas chechenos, visto que foi composto por várias nacionalidades e visto que um ataque contra uma escola vai contra os morais de qualquer grupo de qualquer parte do mundo. O terrorismo desce a novas profundezas. As reivindicações deste grupo foram a libertação de um grupo de presos chechenos mas também seguiam o ideal de fazer explodir a região em lutas inter-étnicas. Poderiam ter sido trans-Caucasianos com um módico de influência de fora.

Manter Moscovo ocupado nesta região? Garantir que Moscovo não tenha facilidades em trabalhar com o Irão? Quem estaria atrás disso?

Fica cada vez mais claro que esta região encara duas hipóteses: viver com uma certa independência dentro da Federação Russa, com a política estrangeira controlada por Moscovo, ou então ver seus recursos e sua independência pilhados pelo Eixo do Mal fascista-imperialista formado por Washington e seus protegidos principais. Uma escolha difícil de fazer, mas eventualmente necessária. Washington nunca deixaria estas repúblicas em paz se tivessem a independência total, porque mais cedo ou mais tarde, instalaria um presidente treinado ou formado nos Estados Unidos da América e o resto seria cantigas. Washington acabaria por colonizar política e economicamente qualquer destas repúblicas que saísse da Federação Russa, principalmente por causa da sua importância geográfica e mineral. É uma questão de ler a mapa.

Em terceiro lugar, os comentários cínicos de George W. Bush, que Beslan foi mais um caso de terrorismo internacional e que temos todos de lutarmos juntos. Não mencionou o Iraque porque nem precisou mas a intenção estava lá, de justificar sua política externa, ligando-a a Beslan. Pois, Bush e seu regime já ligaram Bagdade a Al Qaeda.

Errado! Os que são mentirosos patológicos como Bush, acabam por serem enganados e apanhados pela teia de mentiras que tecem.

O ponto de equilíbrio que afastava bin Laden de Bagdade e que o mantinha a léguas do Iraque, era Saddam Hussein. Bush pode não saber disso mas se espera que haja alguém no seu regime que o sabe. O terrorismo internacional foi levado a Bagdade não por Saddam Hussein, nem por Ouday Hussein, nem por Qusay Hussein, mas sim por outro homem e esse homem chama-se George W. Bush.

Foi só depois do ataque assassino e cruel contra o povo iraquiano, que chacinou dezenas de milhares de inocentes, tais como aqueles Diabos em Beslan fizeram, que os terroristas internacionais entraram no Iraque em grande escala, jorrando para dentro do país através de todas as fronteiras, semeando o caos. Um comentário e um epitáfio perfeito para a política externa desse George Bush limitado, ignorante e arrogante ao ponto de negligência.

Por isso qualquer tentativa de ligar Beslan ao Iraque, o que tentou a imprensa britânica e norte-americana, é errada e além disso é uma tentativa cruel e sinistra de ganhar pontos políticos. Vê-se logo o tipo de pessoa que George W. Bush se tornou.

Beslan tem a ver com terrorismo internacional, Al Qaeda tem a ver com terrorismo internacional. O Iraque não tem nada a ver com terrorismo internacional e nunca teve. Tem a ver sim com a gula de Washington e a sede de conseguir uma dominação geo-política em áreas chave adjacentes aos recursos mais importantes da Federação Russa. Que ninguém se esqueça disso, especialmente há dois meses das eleições presidenciais nos EUA. George Bush torna o Mundo um sítio muito, mas muito mais inseguro e muito mais perigoso, como a sua negligência assassina e criminosa já demonstrou.

A seguir, uma mensagem para aqueles líderes que gostam de se rastejar aos pés de Vladimir Putin em tais ocasiões, enviando mensagens de condolências enquanto simultaneamente dão asilo político a terroristas chechenos. Com amigos destes, quem precisa de inimigos? Extraditem esses terroristas para que possam ser julgados na Federação Russa, ou então vão ter de encarar a acusação de darem asilo a terroristas e por isso fomentarem o terrorismo, tal como fez o regime Taleban. Qual é a diferença?

Finalmente, para a União Europeia, que exigiu uma explicação da Federação Russa acerca do uso de força. Uma explicação? A Federação Russa exige explicações da UE? Aquele grupinho de burocratas que nem sequer conseguem forjar uma política comum sobre como fritar um ovo?

Eu explico, em linguagem bem clara para idiotas entenderem (leiam devagar e pronunciam bem cada palavra): A Federação Russa atacou este bando de terroristas, assassinos de crianças, porque estavam a rebentar bombas nas suas caras e estavam a metralhá-las nas costas, depois de as terem retido como reféns durante 48 horas, em que nem lhes deram água para beber, nem deixavam-nas utilizar as casas de banho.

Será assim tão difícil perceber isso?

O INIMIGO DE MEU INIMIGO É MEU AMIGO

Os EUA e a maior parte dos países da Europa continuam seguindo esta política equivocada, que já lhes causou muitos problemas, em relação aos terroristas tchetchenos

Uma estranha maneira de se fazer política exterior é seguindo a frase que dá título a este artigo: "O inimigo de meu inimigo é meu amigo."

Apóia-se um grupo ou um país, não por qualquer coincidência de interesses, mas simplesmente por ser contrário a um outro país adversário ou hostil. Os Estados Unidos e muitos países da Europa são os que mais aplicam tal princípio, ainda hoje, embora tenha se revelado altamente prejudicial, inclusive a eles mesmos.

Na década de 30, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos viam Adolph Hitler e o partido nazista na Alemanha com simpatia, simplesmente pelo seu radical anti-comunismo. Hitler era bom porque impedia o comunismo de chegar à Alemanha e, assim, espalhar-se pelo resto da Europa. E, ainda melhor, Hitler havia escrito no seu livro de propaganda "Mein Kampf" ("Minha Luta"), que invadiria a União Soviética e cortaria pela raiz o mal do socialismo. Que Hitler também tenha escrito, no mesmo livro, que invadiria a França, a Holanda, a Bélgica, e exterminaria os judeus, foi algo que os países ocidentais preferiram fingir que não viram. E o preço desta simpatia todos conhecem: a Segunda Guerra Mundial e 50 milhões de mortos.

Depois, na década de 80, os Estados Unidos apoiou explicitamente Saddam Hussein no Iraque e as milícias islâmicas radicais no Afeganistão: o primeiro porque estava em guerra contra o Irã, ex-aliado dos EUA que agora era governado por uma teocracia islâmica; e as segundas porque o Afeganistão era governado na época por um regime socialista, pró-soviético, o qual os fanáticos islâmicos buscavam derrubar. Incongruência gritante: combate os extremistas em um país porque derrubaram um governo aliado (o Aiatolá Khomeini, que tirou do poder o shá Reza Pahlevi, pró-EUA), e ajuda extremistas com os mesmos ideais em outro país, porque tentam derrubar um governo adversário (o regime socialista no Afeganistão).

O preço deste apoio também é bem conhecido: a guerra Irã-Iraque, que durou 8 anos e matou mais de um milhão de pessoas; a invasão do Kuwait em 1990 (foi só a partir daí que Saddam Hussein passou a ser visto como "tirano" e "terrorista" que precisa ser detido); infindáveis guerras civis no Afeganistão, até que um grupo conseguiu impor-se sobre os demais: o talibã, o mais radical, extremista e fanático regime islâmico que já existiu, que apoiou inúmeros ataques terroristas da Al Qaeda contra os EUA (a explosão do navio USS Cole, a destruição das embaixadas na África, o seqüestro dos aviões e a destruição do World Trade Center em 2001).

Eis a que levou a política de apoio a países e grupos só porque ambos tinham inimigos comuns: assim que a ameaça principal foi eliminada, a aliança, por ser meramente casual, se desfez e aqueles mesmos grupos ou países não hesitaram em atacar seus antigos colaboradores. Hitler, antes de invadir a URSS, invadiu a Polônia, a Holanda, a França, e lançou grandes ataques aéreos contra a Grã-Bretanha; Saddam Hussein, pouco depois de assinar a paz com o Irã, invadiu o Kuwait, importante aliado e fornecedor de petróleo aos EUA; e os mujahedins afegãos, depois que os soviéticos se retiraram de seu país, não demoraram para voltar-se contra seu ex-aliado e novo inimigo: os EUA.

Longe de terem aprendido com as terríveis conseqüências desta política absurda e irracional, os EUA e a Europa voltam a praticá-la, desta vez apoiando os terroristas tchetchenos (e do Cáucaso em geral), para que esta região separe-se da Rússia e passe a sua esfera de influência. O que eles não vêem, e não querem ver, é que o mesmo motivo que leva os radicais a odiar a Rússia, os levará a odiar também a Europa e os EUA. O Cáucaso, com suas inúmeras repúblicas, povos e etnias, é bastante semelhante ao Afeganistão: uma região fragmentada, com fortes tensões étnicas, e uma longa tradição de pequenos governantes tribais, adversos a qualquer Estado unificado.

Manda quem tem a milícia mais forte, e consegue atemorizar mais as outras tribos. A Federação Russa é odiada por tais extremistas exatamente porque ela tenta impor a lei e o estado de direito na região, e é exatamente por este mesmo motivo que a maioria da população é a favor de manter-se dentro da Federação.

Não que os tchetchenos amem os russos e os considerem seus salvadores: é bem provável que, se fosse possível, os tchetchenos optariam pela independência. Mas a Tchetchênia já foi independente de fato (embora não reconhecida por nenhum governo como um Estado soberano), de 1991 a 1994 e de 1996 a 1999, e seu povo viu o que lhes trouxe esta independência: crime desenfreado, seqüestros, lutas tribais, ausência de poder estabelecido e reconhecido por todos, completa falta de um regime legal e aplicação da interpretação mais dura da lei islâmica, com execuções públicas. A Federação Russa é o menor dos males para os tchetchenos, e é por isso que a maioria da população votou em candidatos a favor da manutenção da república dentro da federação.

Os EUA, a União Européia e a Turquia, porém, visando as riquezas petrolíferas do mar Cáspio e a importância estratégica do Cáucaso (ponte entre o Oriente Médio e a Europa), apóiam os radicais tchetchenos e dão asilo a seus líderes, não porque eles tenham interesses iguais, mas simplesmente porque ambos querem debilitar a Rússia e privá-la desta região. Os países ocidentais pensam que, se os russos deixarem o Cáucaso, terroristas sanguinários como Shamil Basayev (que não hesita em seqüestrar hospitais e escolas) se tornaria um estadista sensato ou pelo menos um cidadão obediente à lei, e em reconhecimento pelo apoio ocidental, os extremistas se uniriam à OTAN, aceitariam a instalação de um governo títere e fariam tudo o que os EUA, Grã-Bretanha, França e Turquia lhe pedirem. Erro crasso. Se os russos saírem da Tchetchênia e de outras repúblicas do Cáucaso, aceitando sua independência plena, ocorrerá o mesmo que no Afeganistão: seguir-se-ão longas guerras tribais, até que um grupo mais forte (e mais radical) conseguirá impor-se pela força, e livres de seus antigos inimigos (os russos), voltar-se-ão aos novos: os EUA e a Europa.

Os radicais tchetchenos e de outros povos do Cáucaso não aceitarão sua dominação por parte dos países ocidentais. O motivo que os leva a odiar a Rússia é o mesmo que os fará odiar os EUA e a União Européia: eles não querem democracia, eles não querem um governo laico, eles não querem uma economia capitalista - eles querem uma teocracia radical e militante, e um governo que lhes permita praticar livremente seqüestros, tráfico de drogas e de armas. A "aliança" entre os países ocidentais e os radicais tchetchenos baseia-se apenas num interesse passageiro: ambos querem tirar os russos do Cáucaso.

Uma vez atingido, a aliança ruirá, e o Ocidente terá criado mais um monstro que eles não poderão controlar - inclusive para grande prejuízo de si mesmos. Até quando insistirão em seguir com uma política tão irracional, que não lhes traz nenhum verdadeiro ganho?

KERRY, POR FAVOR

Sondagem sublinha responsabilidade colectiva dos norte-americanos perante a comunidade internacional

Uma sondagem conduzida em 35 países, que demonstra sem qualquer dúvida que a opinião mundial favorece John Kerry sobre George W. Bush, sublinha a responsabilidade colectiva dos cidadãos dos EUA que querem que seu país retoma seu lugar no seio da comunidade mundial.

Uma sondagem conduzida em 35 países, que demonstra sem qualquer dúvida que a opinião mundial favorece John Kerry sobre George W. Bush, sublinha a responsabilidade colectiva dos cidadãos dos EUA que querem que seu país retoma seu lugar no seio da comunidade mundial.

É verdade que aqueles que votam no dia 2 de Novembro não pertencerão à comunidade internacional, mas serão sim os cidadãos dos EUA e é verdade que ninguém tem o direito de lhes dizer em quem deverão votar. Contudo, dado que os EUA fazem parte da comunidade internacional e dado o registo da política externa de George Bush e seu regime, também é verdade que os cidadãos dos EUA têm uma responsabilidade colectiva não só perante eles próprios mas também perante o resto do mundo, quando registarem seus votos. George Bush focou sua política não nos Estados Unidos, mas fora e agora terá de enfrentar as consequências dessa escolha.

George W. Bush talvez fez mais prejuízo às relações entre os EUA e a comunidade internacional em apensas quatro anos, do que a totalidade dos escândalos anteriores durante os governos Republicanos e Democratas.

Não só cometeu o erro crasso de tratar a ONU com desprezo, organização essa de que os EUA é anfitrião (um anfitrião chega alguma vez a insultar seus convidados?), também quebrou a Carta da ONU e quebrou a Convenção de Geneva, lançando um ataque assassino e criminoso contra os civis inocentes do Iraque.

Não, não tinha nada a ver com o terrorismo internacional porque se tivesse tido alguma relação com isso, teria sido utilizado como principal desculpa. Lembrem-se, no meio daquelas mentiras e meias-verdades, daquilo que disseram? Não que o Iraque estava envolvido em terrorismo internacional (porque não estava) mas sim porque constituía uma ameaça imediata aos EUA e aos seus aliados, porque tinha Armas de Destruição Maciça “em Bagdade e Tikrit e ao norte, sul, este e oeste destas cidades” (Rumsfeld).

Tendo satélites que conseguem fotografar uma caixa de fósforos, esses homens sabiam muito bem que mentiam entre os dentes. Mentiram ao seu povo, mentiram à comunidade internacional e além disso, pensando que o cidadão norte-americano é estúpido, foram talhando as mentiras, forjando uma ideia errada colectiva para impedir que as pessoas soubessem a verdade. Fizeram palhaços dos norte-americanos e todos os que engoliram as suas mentiras. Quantos leitores agora acreditam que o Iraque e o terrorismo internacional estavam integralmente ligados?

Agora, estão, mas só porque a guerra de Bush tirou do poder o único homem capaz de manter Al Qaeda fora das fronteiras do Iraque – Saddam Hussein. Alguém no governo norte-americano ou na imprensa dominada por Washington disse alguma vez que Saddam Hussein odiava bin Laden?

É George W. Bush que tornou o Iraque numa questão de terrorismo internacional, tal como seu pai colocou em moção o mecanismo do terrorismo islamista, armando e financiando os Mujaheddin no Afeganistão, esses que se transformaram nos Talebã. Perguntem a 3.000 nova-iorquinos as consequências.

Não, George W. Bush não torna o Mundo um sítio mais seguro – ele torna o Mundo num sítio bastante mais perigoso. Ele chefia um regime que é inteiramente dominado pela facção pro-Zionista, que por sua vez é controlada por uma elite riquíssima que não pensa duas vezes em gastar duzentos mil milhões de dólares dos impostos pagos pelos trabalhadores e depois mentir nas suas caras acerca das origens desta guerra, que por sua vez já ceifou as vidas de mil norte-americanos, causando inúmeros feridos, além de dezenas de milhares de iraquianos, mortos e feridos. Civis. Inocentes. Crianças.

Bush gosta de se apresentar como líder militar mas como é que se pode respeitar como líder militar um homem que fugiu à guerra e quem pode ter orgulho duma força militar que permite que seus soldados enfiem suas armas nas caras de rapazes aterrorizados, com seis ou sete anos, e que berram: “Levantem a porra das mãos, já!!” Quem pode ter orgulho dum regime que mantém Guantanamo como um campo de concentração, com tortura à mistura? Quem pode Ter orgulho de Abu Ghraib, a prisão onde alguns detidos foram esforçados a cometer actos de sodomia e a chuparem os pénis uns dos outros, e onde mulheres inocentes iraquianas foram violadas? Quem pode ter orgulho duma força militar que após mais que um ano ainda não domina nada no Iraque e que é esforçado a fazer pactos com grupos (que ele chama de terroristas) porque não os dominou ainda?

É essa a imagem exterior dos Estados Unidos da América que George W. Bush conseguiu criar e é essa a razão porque George Bush foi o único líder mundial que teve de fugir pela porta de trás do número 10, Downing Street, porque tinha medo de sair pela porta de frente, isso no lar do seu aliado mais próximo em Londres. É essa a razão porque quase nenhum membro do regime norte-americano ousa sair dum avião em qualquer parte do globo, é essa a razão porque Powell se esquivou de aparecer em Atenas ao lado dos outros membros da comunidade internacional.

Será esse o governo que acredita em Deus, que as boas pessoas nos Estados Unidos da América respeitam? Um governo responsável por assassínio em grande escala, a chacina de civis, não uma mão cheia mas dezenas de milhares de pessoas? Um regime que atribui contratos sem concurso? Um regime associado com actos de tortura, não só num país mas já em dois continentes? Um regime associado com actos depravados sexuais, sistémicos e sistematicamente praticados? Um regime associado com mentiras, mais mentiras e ainda mais mentiras, um regime que gasta centenas de bilhões de dólares que poderiam ser empregues em programas sociais?

Será essa uma razão para votar em George W. Bush? O homem cujo regime já fez referências à eventual invasão de outros países soberanos, de continuar suas guerras ilegais?

Na política doméstica, não seria apropriado um estrangeiro julgar, os cidadãos norte-americanos têm de decidir se George Bush criou mais empregos, ou se perdeu um milhão deles em quatro anos, se seus programas sociais melhoraram a vida dos cidadãos ou se alguma vez existiram, se a vida das crianças é melhor, se é mais facil comprar casa, se ele tomou conta dos pensionistas ou dos veteranos, se a pessoa média tem mais esperança no seu futuro?

A lembrar, haverá aquela factura dos duzentos bilhões de dólares a pagar. Alguém já lhos disse?

Os cidadãos dos Estados Unidos da América têm uma responsabilidade colectiva séria e importante perante os concidadãos do mundo na comunidade internacional, que querem recebé-los outra vez nesta comunidade, vivendo juntos como amigos, mas não com George Bush como Presidente. Nunca!

POSIÇÕES E OPOSIÇÕES

Portas afasta as mulheres de Portugal e Santana vai ao Rio procurá-las

Faz sentido.

O Primeiro-ministro não eleito, Santana Lopes, vai ao Brasil. Seu colega na coligação, Paulo Portas, tem atraído a oposição de todos pela sua posição sobre o barco do aborto. Entretanto, nos partidos da oposição, o Partido Socialista está dividida em três facções na véspera de escolher um novo líder e o PCP admite que perdeu sensivelmente metade dos militantes nos últimos anos. Resta o Bloco de Esquerda, que faz oposição coerente e constante e vê aumentar gradualmente suas bases.

É bem sabido que o novo Primeiro-ministro de Portugal gosta de mulheres, e o Ministro de Defesa, Paulo Portas, nem tanto. Por isso não surpreende que Santana decide ir passar três dias com as belezas em Rio enquanto Paulo Portas envia dois navios de guerra para impedir que as Mulheres sobre Ondas (Women on Waves, ou WoW) do barco de aborto holandês entrem em águas territoriais portuguesas.

Dois navios de guerra contra um barco cheio de mulheres, que distribui pílulas do dia seguinte a grávidas? O WoW foi convidado por algumas organizações portuguesas e distribui a pílula que provoca uma menstruação a mulheres que estão atrasadas no período por 14 dias.

Podendo operar em águas internacionais, onde as mulheres que querem seus serviços podem aceder a esses, o barco foi impedido de entrar nas águas territoriais portuguesas por uma corveta e um navio patrulha da marinha portuguesa. Por atentado à saúde pública.

A distribuir umas pílulas?

E aqueles que entram cá com toneladas de cocaína, heroína e haxixe? Cadê os navios no caso deles? Ou será que estes são crocodilos que voam muito baixo?

Santana por sua vez não quer nada a ver com isso. Se as mulheres não podem entrar em Portugal, lá vai ele à procura delas, desta vez em Brasília e em Rio de Janeiro, onde vai comemorar a independência do Brasil, sendo o primeiro Primeiro-ministro português a celebrar o Grito do Ipiranga, com o qual em 1822, o então Príncipe regente Pedro (mais tarde Pedro IV) gritou “Independência ou Morte!” Foi a separação do filho Brasil da mãe Portugal.

Convidado pelo Presidente Lula da Silva, Santana Lopes faz bem aproveitar o convite e tirar uns dias e deixar Portas ficar com a porcaria que ele fez, e continua fazendo.

Se o governo está dividido entre dois continentes, o Partido Socialista está dividido entre três candidatos, o poeta-deputado Manuel Alegre, que pede um pacto de não agressão nos dois dias antes da escolha do novo líder do maior partido da oposição, João Soares, o ex-Presidente da Câmara de Lisboa, ambos da ala esquerda do partido, e José Sócrates, o eficiente ex-Ministro do Ambiente, com conta com o apoio dos pesos-pesados do partido, como António Costa, ex-líder parlamentar do PS, que aperceberam onde o poder está centrado.

Por sua vez, Carlos Carvalhas, líder do Partido Comunista Português, quase não tem militantes com quem falar, tendo já perdido nos últimos anos sensivelmente metade dos membros do seu partido, de acordo com um estudo divulgado há dias. Por isso, em vez de criticar seu próprio partido por ter falhado na procura de encontrar novas soluções, novas ideias e novas políticas, critica agora o Presidente por ter colocado este governo de coligação no pedestal sem uma eleição geral depois de José Barroso ter fugido para Bruxelas.

No entanto, há sinais positivos para a esquerda: o número de militantes activos do PCP está a aumentar, como também está o número de apoiantes do Bloco de Esquerda. A notar também, a franqueza com que o PCP enfrenta esta divulgação potencialmente catastrófica. Bom sinal.

Infelizmente para esses dois partidos, em momentos de grande contestação política, o voto português habitualmente se polariza entre os dois grandes, o PSD e o PS. Ou será que o povo já está tão farta de “alternativas à direita” que é desta que vamos ver uma votação decente na esquerda?

A ver se daqui a 18 meses o carisma de Santana será superior à filosofia da estratégia política de Sócrates, se Carvalhas conseguirá falar com convicção e não simplesmente ler os seus discursos e se o Bloco de Esquerda se virá firmemente implantado no cenário político em Portugal. Pelos vistos, é a única certeza desde já.

PARABENS!

Versão portuguesa da PRAVDA.Ru celebra segundo aniversário

Dia 10 de Setembro de 2004 é o segundo aniversário da versão portuguesa da PRAVDA.Ru. Temos orgulho em anunciar que já mais do que um milhão de pessoas leram as nossas páginas.

Contudo, reconhecemos que estamos apenas no início dum longo percurso. Com uns 300 milhões de pessoas na comunidade lusófona, falta ainda muito para chegarmos à maioria desta população, constituindo uma ponte entre as comunidades lusófona e russófona.

Temos agora um número de leitores constante (cerca de 100.000), activo e participativo, a maioria dos quais no Brasil, também em Portugal e Angola, com taxas de leitura um pouco menores e depois, respectivamente, em Moçambique, Canadá, EUA, França, Suiça, Luxemburgo, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Guiné-Bissau. As cifras reflectem o tamanho das comunidades.

Devemos realçar o grande interesse demonstrado na PRAVDA.Ru pelos nossos leitores e estamos felizes de receber dúzias de e-mails todos os dias, com perguntas acerca da vida política e económica na Federação Russa, também acerca da realidade cultural, sobre turismo e desporto.

Recebemos um grande número de mensagens de solidariedade depois do acto chocante em Beslan e sentimos o apoio do mundo lusófono, que pediu para traduzirmos as mensagens e mostrar-mo-las à população russa, o que fizemos.

Muitas pessoas no Brasil vêem na Rússia um contra-balanço aos EUA e muitos a consideram um país com perspectivas parecidas: um grande país com muitos recursos que quer desenvolver e por essa razão muitos brasileiros vêm à PRAVDA.Ru porque a consideram um site com um pé nos dois mundos.

Implementámos vários projectos, nomeadamente um gabinete de consultadoria para ajudar firmas russas a entrarem nos países de expressão portuguesa, e para ajudar as firmas destes países entrarem mais facilmente na Federação Russa; um serviço gratuito e voluntário, ajudando imigrantes do Brasil e da África que vêm a Europa e que têm problemas a resolver; uma página a publicitar programas de turismo na Rússia; contribuímos em vários livros, escrevendo capítulos acerca de vários aspectos da Federação Russa e finalmente, coordenamos juntamente com Computer Aid um serviço para reciclar PCs usados e canalizá-los a comunidades que os precisam nos Países Menos Desenvolvidos.

Somos considerados como uma referência no mundo lusófono relativamente às notícias que provêm da Rússia e somos um dos poucos sites onde se pode ler notícias actualizadas de todos os países da comunidade lusófona, nomeadamente com 30 artigos sobre cada país.

Nosso objectivo de ser uma ligação cultural e uma porta aberta ao desenvolvimento de relações comerciais entre as duas partes está a ser atingido. Agora programamos o próximo objectivo, que é optimizar os vários projectos para podermos contribuir com mais força e mais proactivamente para o grupo PRAVDA.Ru.

Finalmente, sem a atitude altruista, sem a dedicação, muito trabalho e amor dos muitos colaboradores que contribuíram para este jornal, que nos deram horas de esforço e entusiamo, escrevendo material interessante e original, analisando uma grande variedade de assuntos, esta versão portuguesa não existiria.

É a estes colaboradores que dedico esta mensagem de gratidão no nosso segundo aniversário, proclamando a todos que tenho muito orgulho em ser membro desta grande equipa, que me sinto honrado em sentar no seio dela e humildemente, digo muitíssimo obrigado a todos por trabalhar connosco.

Vos considero como minha família, meus irmãos.

Muito obrigado a todos e muitos parabéns.

Timothy BANCROFT-HINCHEY Director e Chefe de Redacção Versão portuguesa PRAVDA.Ru

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