Abu Mazen, o Homem do Momento

Mahmoud Abbas (Abu Mazen) foi eleito presidente da Autoridade Palestiniana com 62,3% do voto, contra 19,8% de Mustafa Barghouti e contra resultados de dígitos únicos para os restantes cinco candidatos.

Cultivando a mais larga base de apoio possível entre a causa palestiniana, com frases do tipo, ter como objectivo “estabelecer um estado e solucionar os problemas da nossa nação independente com capital em Jerusalém” ou “O pequeno jihad, que foi a luta armada, acabou e agora inicia a grande jihad, que será o estabelecimento dum estado palestiniano independente e a construção da nossa terra”, assim o candidato da Fatah ocupa o lugar de Yasser Arafat, que morreu no dia 11 de Novembro.

Abu Mazen conta desde já com o apoio da comunidade internacional e pelo menos por agora, com o benefício da dúvida da parte de Israel, que terá de ser visto como trabalhar com o novo Presidente, se Tel Aviv quiser continuar a gozar do apoio que recebe actualmente.

Enquanto o resultado da eleição é convincente, não vem sem reclamações contra fraude eleitoral massiva da parte de organizações de direitos humanos palestinianas, algumas das quais afirmaram que vão contestar a decisão de prolongar o processo eleitoral por duas horas devido a uma baixa taxa de votação de 65% (que poderia ter comprometido as hipóteses de Mazen ganhar por tanta diferença) e devido ao facto que a Comissão Central das Eleições (CCE) ter decidido permitir que os palestinianos não registados votassem, já na tarde de Domingo. De acordo com os opositores de Abu Mazen, esta decisão permitiu que muitos apoiantes do mesmo puderam votar até quatro ou cinco vezes seguidas, enquanto foram levados em autocarros para urnas diferentes.

Contudo, a CCE defendeu a posição, dizendo que a extensão foi devido a Israel ter interferido com o processo, violando acordos previamente estabelecidos, impedindo os eleitores a votar em pontos de controlo estabelecidos na Cisjordânia, versão completamente descartada pelos observadores internacionais.

Mustafa Barghouti por sua vez reclama que a tinta indelével colocado nos polegares dos eleitores foi substituído por outro tipo de tinta facilmente removível por lavar as mãos em água, pelo que os apoiantes de Mazen puderam votar várias vezes.

Com a CCE preparada para investigar estas alegações, o palco maior está preparada para um passo substancial em frente. Israel irá provavelmente fazer várias exigências de Abu Mazen antes de anunciar qualquer cimeira, nomeadamente que ele reveja a situação de segurança na Autoridade Palestiniana, algo que o novo Presidente já tinha referido durante o processo eleitoral.

Israel já indicou que seria preparado a responder em espécie, retirando as suas tropas de certas áreas se estas forem policiadas adequadamente pelo pessoal da A.P. Se Abu Mazen for visto como tomando medidas contra os extremistas e preparando para anular quaisquer tentativas de sabotar o processo pelo Hezbollah, é provável que Ariel Sharon o convide para uma cimeira para continuar o processo da Mapa de Estrada.

De grande importância é a comunidade internacional cerrar fileiras atrás de Abu Mazen para impedir qualquer reacção de HAMAS e por isso Israel poderia ser esforçado a libertar prisioneiros de segurança e retirar para as linhas que ocupava antes de Setembro de 2000.

Abu Mazen nasceu em 1935 em Safed, Palestina, agora o norte de Israel e tem sido membro do Conselho Nacional da Palestina desde 1968 e da Comissão Executiva da OLP desde 1980. Durante poucos meses primeiro-ministro da P.A. em 1993, foi também Membro da Comissão Central da Fatah desde 1964 até 2003, quando se demitiu depois de ter tido um desacordo com Yasser Arafat, precisamente por causa do controlo das forças de segurança.

Foi co-fundador da Fatah com Arafat e o acompanhou em exílio na Jordânia, no Líbano e na Tunísia. Licenciado em Direito no Egito, foi a Moscovo tirar um doutoramento sendo depois nomeado Director do Departamento da OLP para Relações Nacionais e Internacionais em 1980.

Cultivando alianças poderosas entre os líderes e forças de segurança árabes bem como entre a ala esquerda e pacifistas em Israel, Abu Mazen foi talvez o arquitecto principal do processo de paz de Oslo, tendo acompanhado Arafat a Washington em 1993, quando assinou os Acordos de Oslo.

A questão fulcral no próximo futuro será o grau de controlo que ele conseguir exercer sobre as forças de segurança – a razão pelas divergências que teve com Yasser Arafat nos anos recentes e a chave na sua interligação com as várias facções que constituem o povo palestiniano.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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