Iraque: O cerne da questão

Nunca é difícil encontrar meia-dúzia de pessoas que regozijam quando a lei e ordem entra em colapso: podem saquear, podem roubar e escapar impunes. Nem surpreenderia se houvesse substanciais números de pessoas que aproveitassem desta oportunidade de se ligarem aos vitoriosos.

Porém, nem todos os iraquianos lamentarão o fim do regime de Saddam Hussein. O que acontecerá a este país num cenário após-Saddam é uma questão importante, um assunto a ser resolvido pelo povo do Iraque, não pelos norte-americanos. Não há precedente no Iraque para um sistema de democracia parlamentar mas há necessidade urgente para que o próximo regime seja de base tão larga quanto possível, senão o país entrará num espiral de violência que trouxe Saddam Hussein, o homem-forte, à liderança; há dezenas de dissidentes que irão voltar ao país, exigindo parte do espólio. O país é suficientemente rico para ser um bom chamariz para todo o tipo de oportunista.

A responsabilidade pela reconstrução do Iraque pertence não aos EUA nem ao Reino Unido mas sim à comunidade internacional, para que a lei internacional possa outra vez ser sentida, possa ser vista a funcionar, depois do tamanho desrespeito por aqueles dois países. Eis o cerne da questão e aqui está o que é mais importante.

Enquanto Bush e Rumsfeld celebram seu “grande dia”, não se deve esquecer que embora o regime Ba’ath possa ter sido deposto, e embora haja celebrações nalgumas ruas, por números reduzidos de pessoas, deve dizer-se, houve outras maneiras, legais, de resolver esta crise. A Organização das Nações Unidas é o fórum máximo da lei internacional. O facto que a maioria dos países no Conselho de Segurança da ONU não queriam apoiar a opção a favor da guerra, deveria ter sido compreendido pelos EUA e Reino Unido que esta não seria a opção a seguir, se quisessem respeitar as normas de liberdade e de democracia, porque a democracia é baseada em debate.

Embora os senhores Rumsfeld e Hoon possam afirmar que as suas forças de “Defesa” (?) tiveram um sucesso esplendido, também o que eles esperavam, com uma supremacia aérea de 100% desde a primeira hora? Dada a superioridade das armas da coligação, o exército iraquiano tem lutado com muita coragem há três semanas e ainda domina uma grande área do país; o Pentágono admite ainda hoje que a guerra ainda não está ganha.

O cerne da questão é que esta guerra é ilegal e seja qual for o resultado, nunca se deve esquecer que Bush e Blair entrarão nos anais da história como o duo que desrespeitou de forma arrogante todas as normas da lei internacional, pondo em acção um processo em que milhares de civis foram assassinados pelas suas forças armadas. Esta não tem sido uma campanha militar heróica, tem sido um massacre, o grandalhão na escola a espancar o aluno mais fraco com uma selvajaria que choca os que se juntaram para assistir o espectáculo, tão horrífico como um ataque a um poodle por uma matilha de Rottweilers famintos e enfurecidos.

Os milhares de civis assassinados por estes “heróicos” militares são testemunho a tudo que era errado nesta campanha. As crianças nas camas dos hospitais, sem membros, irão de certo dizer “Thank you Mr. Bush” durante o resto das suas vidas. Enquanto Bush, Blair, Cheney, Rumsfeld, Straw e Hoon se gabam, nunca se deve esquecer que toda esta acção era completamente evitável porque as equipas de inspecção tinham um mandato que estavam a cumprir, dentro da lei e de acordo com o direito internacional.

A falar nas equipas de inspecção, onde estão afinal as Armas de Destruição Maciças?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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