Denunciados 99 Abusos Sexuais por Tropas da ONU

O tão cheio de boa-vontade quanto impotente secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, relatou no último dia 3 que 99 abusos sexuais foram cometidos em 2015 por suas tropas: 69 deles em países onde operam (pasmem!) missões de paz, e 30 em outros envolvimentos da Organização. Tal cifra representa um considerável aumento, em relação aos 80 casos registrados em 2014.

por Edu Montesanti (*)

De acordo com informe no sítio da ONU, em dezembro de 2015 um júri independente concluiu que a ONU não agiu com a velocidade, com o cuidado ou com a sensibilidade necessária quando se descobriu informações sobre crimes cometidos contra crianças por soldados - não sob comando da ONU - enviados para a República Centro-Africana (RCA) para proteger civis. Foi quando Moon comprometeu-se a rever, urgentemente, as recomendações desse júri.

Contudo, novas denúncias de abusos sexuais persistiram contra as missões de paz da ONU no país africano, cuja missão ali é conhecida pela sigla francesa Minusca: 22 casos fazem da República Centro-Africana maior vítima das violações.

Depois da RCA, vem o Congo com 16 casos de acusações de abuso, seguido pela missão no Haiti com nove; Libéria e Costa do Marfim, ambas com 6 casos cada uma; o Mali com cinco; mais Abyei, no Sudão, e Chipre, com um caso cada um. Por outro lado, a missão de paz conjunta entre a ONU e a União Africana em Darfur foi alvo de duas acusações, enquanto a missão do Timor Oriental registrou outra.

No dia último dia 3, foi a primeira vez que o secretário-geral da ONU revelou os nomes dos países cujas tropas estão envolvidas. "É muito angustiante quando protetores, em casos extraordinários, viram predadores", disse o sub-secretário-geral das Nações Unidas de Apoio à Área de Atuação, Atul Khare, em entrevista ao Centro de Notícias da ONU.

"A menina de sete anos nos disse que fez sexo oral com soldados franceses, em troca de uma garrafa de água e de um pacote de biscoitos", mencionava a declaração recebida por funcionários da Comissão de Direitos Humanos da ONU por parte de uma menina, vítima dos conflitos na RCA.

Uma menina de 14 anos denunciou aos investigadores da Human Rights Watch:

"Passava pela base de Minusca no aeroporto, quando me atacaram. Os soldados estavam armados. Um me segurou os braços enquanto o outro me arrancou a roupa. Me jogaram em um pasto e, enquanto um segurava, o outro me estuprava."

Outra menina de 18 anos, estuprada quando procurou ajuda junto à base das forças de paz da ONU estacionadas na República Democrática do Congo, para pedir comida, declarou:

"Três homens armados se jogaram em cima de mim, e me disseram que se eu os denunciasse, me matariam. Me estupraram, um de cada vez."

As denúncias de abuso sexual contra soldados e polícias são de Alemanha, Burundi, Gana, Senegal, Eslováquia, Madagascar, Ruanda, República Democrática do Congo, Burkina Faso, Camarões, Tanzânia, Níger, Moldávia, Togo, África do Sul, Benin, Nigéria e Gabão; assim como de vários países europeus e o Canadá.

"Estamos totalmente empenhados em resolver esta deplorável situação em Minusca", disse Atul Khare a repórteres em entrevista coletiva em Nova Iorque. "As lamentáveis ocorrências que se tornaram públicas na República Centro-Africano são um lembrete de que devemos redobrar nossos esforços a fim de conter este flagelo, e que esses esforços dependem de uma forte parceria com os Estados-membro para colocá-los em prática", acrescentou.

Referindo-se à gravidez de uma menina de 13 anos de idade, disse o subsecretário-geral a repórteres: "Tenho vergonha de me denominar pacificador nesses dias, quando me deparo com casos como este".

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* Edu Montesanti é professor de idiomas, autor de Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (Editora Scortecci, 2012), escreve para o Diário Liberdade (Galiza), para Truth Out (Estados Unidos), tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina), da ativista pelos direitos humanos, escritora e ex-parlamentar afegã, Malalaï Joya, e ex-articulista semanal do Observatório da Imprensa (Brasil)[email protected]

 

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