Repressão contra MST Tem Endereço Certo: Departamento de Estado dos EUA

Forma e local da repressão, escola-referência latino-americana, traz à luz realidade preocupante e prenuncia futuro mais sombrio ao Brasil. Evidências diárias desde às vésperas golpe suave contra Dilma somados a cabos liberados por WikiLeaks, não deixam dúvidas: endereço da onda fascista que atinge proporções assustadoras no País é o mesmo de março de 1964


Edu Montesanti


Retrata perfeitamente o caráter do Estado brasileiro a forte repressão sofrida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) dia 4 de novembro na destacada Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) em Guararema (SP), através de ação coordenada entre Polícia Civil e Militar dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, nenhuma novidade em se tratando destes fascistas defensores do Estado, não da sociedade formados ainda dentro das orientações do apodrecido regime ditatorial. Além de trazer à luz preocupante realidade social e de confirmar a forte presença imperialista no Brasil, as mesmas que inundaram o Brasil às vésperas de 1964, tudo isso prenunciando um quadro ainda mais dramático para o País.

Sem mandado de busca e apreensão, dez carros de polícia da GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), cujos oficiais estavam armados com fuzis e escopetas, invadiram a ENFF dando tiros com balas letais em direção ao teto e ao chão gerando pânico no local, deixando uma mulher ferida pelos estilhaços causados por mais um dentro os vários crimes de terrorismo de Estado praticados diariamente, Brasil afora. Excesso da truculência arbitrária revestida da bem-conhecida discriminação que move espíritos, dentro de uma instituição de ensino-referência latino-americana. O cenário não poderia ser mais patético.

O crime policial no interior paulista foi, logo em seguida, duramente criticado pela Anistia Internacional (AI) através de comunicado instando o Ministério Público dos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo a apurar as denúncias do MST contra as forças do Estado, 

"A Anistia Internacional repudia as ações coordenadas das polícias militar e civil para intimidação e repressão ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. (...) As cenas e relatos demonstram uso excessivo e desnecessário da força", diz a nota do AI assinada por Atila Roque, diretor executivo da organização no Brasil. "O Brasil vive ainda uma estrutura agrária onde a violência contra trabalhadores rurais e a criminalização dos movimentos sociais colocam em risco direitos fundamentais no campo. Isto é um precedente perigoso para o Estado Democrático de Direito. Todos perdem neste cenário", critica..

O Estado brasileiro terrorista, onde impera o uso da força, do poder, da imposição e da repressão permeando todos os segmentos da sociedade, criminalizador especialmente de movimentos sociais, muito pouco avançou pós-ditadura militar (inclusive nos anos do PT no poder nacional), em direitos humanos e, é claro, na própria mentalidade que se manifesta na postura envolvendo os mínimos detalhes da vida cotidiana, para nem dizer em termos de reforma agrária. Porém, vem piorando vertiginosa e assustadoramente quando o assunto é violência estatal e intolerância societária desde que, apoiado fortemente pela mídia oligárquica, o comprovadamente corrupto Michel Temer assumiu a Presidência.

No caso particular do Estado de São Paulo, histórico berço do reacionarismo e de toda sorte de preconceitos, o governador Geraldo Alckmin tem sido vergonhosamente apoiado pelas camadas mais abastadas da sociedade, tão dessituada quanto intolerante, nos mais diversos crimes desta natureza. Retrógrada sociedade onde um novo golpe militar sempre esteve latente. Não sem razão, o próprio sistema de educação do Estado é caótico, em queda-livre no quesito qualidade e valorização de professores durante estes longos e altamente corruptos 20 anos do PSDB no governo.

Esta avançada reacionária tupiniquim trata-se de tendência continental com endereço bastante certo. o mesmo, aliás, de 1964: o Departamento de Estado norte-americano que, em parceria com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), acirra a "política" de vassalagem contra o Brasil, bem-vinda pelas classes dominantes que guardavam nostalgia profunda dos tempos de desmando em troca das migalhas de Tio Sam. Eles estão de volta. 

Diversos cabos liberados por WikiLeaks não apenas têm revelado a intimidade de políticos como Michel Temer, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, como a própria preocupação e vigilância constante de Washington em relação aos movimentos sociais brasileiros, especialmente o MST, com destaque para a influência do oligopólio midiático do país sul-americano em construir uma imagem distorcida do movimento em questão, profundamente negativa junto à sociedade.

Os ataques contra estudantes ocupantes de escolas nas últimas semanas, e agora contra o MST, movimento em favor de reforma agrária em um país miserável que ainda mantém praticamente intactos os latifúndios em relação aos tempos imperiais do século XIX, não podem abrir precedentes para que esta nova avançada reacionária imponha seu regime de exceção e repressão indiscriminada ao País, que trilha por caminhos assustadoramente sombrios. 

A realidade é que março de 1964 nunca foi superado totalmente, e parece retomar fôlego nestes últimos meses com grande impulso entre, de um lado, setores cheios de intolerância e ódio que insistem em ter a mentalidade formada por meios de comunicação como Rede Globo, e de outro a velha "esquerda" em geral inerte, apática, retórica, mesquinha, facilmente vendável daí sem nenhuma capacidade de reação tomada em seus interesses político-partidários.

Para onde vai o Brasil? É uma resposta que poucos têm para dar, e estado contra o qual, talvez menos ainda, capacidade de reagir e alterar. (Ir)Responsabilidade também da cúpula petista usurpadora do poder, que se aliou ao que de pior aí está - incluindo o mesmo monopólio midiático de desinformação que a derrubou do poder de partido único no País - e, previsivelmente, acabou levando o devido bico nos fundilhos. Nada indica que a farra dos banqueiros, do alto empresariado nacional corrupto, das transnacionais e dos ex-aliados petistas vá terminar, pelo contrário: um cenário ainda mais catastrófico ainda deve surgir.

 

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Edu Montesanti é autor do livro Mentiras e Crimes da "Guerra ao Terror" (2012). Escreve para revista Caros Amigos Jornal Pravda e Pravda Report (Rússia), Global Research (Canadá), e Truth Out (Estados Unidos). É tradutor do sítio na Internet das Abuelas de Plaza de Mayo (Argentina) e da Associação Revolucionária das Mulheres do Afeganistão (RAWA, na sigla em inglês); foi tradutor do sítio na Internet da escritora, ativista pelos direitos humanos e ex-parlamentar afegã expulsa injustamente do cargo, Malalaï Joya. Escreveu para Diário Liberdade (Espanha), Observatório da Imprensa (TV Brasil) e Nolan Chart (Estados Unidos). www.edumontesanti.skyrock.com 

 

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