Consequências duma guerra contra o Iraque

O relatório analisa os mais prováveis roteiros de uma operação militar dos EUA contra o Iraque. Na primeira fase da operação militar, actuariam sobretudo a força aérea e a marinha dos EUA e dos seus aliados. Neutralizados os sistemas de defesa anti-aérea iraquiana, os principais alvos seriam os postos de comando, elementos básicos do sistema de transmissões e de coordenação, os quartéis das estruturas de segurança e da guarda nacional e as divisões mais actuantes do exército iraquiano, sobretudo aquelas que são consideradas como leais ao regime de Saddam Hussein. Especial atenção seria dispensada às instalações em que podem ser guardadas as armas de extermínio em massa iraquianas.

Na fase terrestre da operação, os EUA e a Grã-Bretanha disporiam de pelo menos três divisões blindadas capazes de deslocar-se do Kuwait e de grandes forças ligeiras a serem reforçadas por helicópteros de ataque e de carga.

As tropas da coligação anti-terrorista estariam preparadas para os combates de rua.

São os seguintes os três principais roteiros da operação militar: O primeiro roteiro é visto como o mais provável, avaliando-se a sua probabilidade em 40% a 60%.

Este roteiro prevê uma "rápida e decisiva vitória" sobre as tropas iraquianas em quatro ou seis semanas sem quaisquer danos sensíveis que possam dificultar posteriormente a recuperação económica do Iraque, supondo-se neste caso que: - o regime de Saddam Hussein ruirá; - os combates de rua serão episódicos e limitados localmente; - as vítimas entre os civis e os danos em infra-estrutura não serão grandes; - não haverá uso maciço de armas de extermínio em massa contra as tropas americanas, Israel ou outros países da região; - a OPEP não diminuirá a produção e exportação de petróleo; - a Arábia Saudita aumentará a produção de petróleo; - não haverá protestos em massa nos países aliados contra a operação militar; - não haverá confrontos na sociedade iraquiana após o fim da operação militar; - não haverá grandes danos em campos de petróleo do Iraque e de outros países.

O segundo roteiro é intermediário. A operação militar durará entre seis e doze semanas, não sendo, contudo, a duração da operação o elemento-chave neste caso. Os elementos-chave do segundo roteiro são os seguintes:

- resistência inesperadamente forte por parte das forças armadas do Iraque; - violentos combates de rua em algumas cidades; - vítimas civis em número médio, grandes danos em infra-estrutura e reacção negativa dos mass media; - o Iraque bombardeia as instalações de produção de petróleo na região, causando-lhes danos limitados; - o Iraque procura empregar armas de extermínio em massa em proporções limitadas ou ineficazmente, na maioria dos casos, contra as tropas dos EUA e de Israel; - Israel intervém em formas limitadas, aumentando a tensão política na região; - confrontos insignificantes na sociedade iraquiana após o fim da operação militar; - as tentativas do Iraque de atacar alvos nos EUA ou na Grã-Bretanha serão desvendadas, na sua maioria, e prevenidas. Os danos a serem causados por eventuais ataques iraquianos não serão significativos; - a Arábia Saudita prestará "assistência passiva" à coligação anti-iraquiana; a produção de petróleo irá crescer, embora lentamente. A probabilidade deste roteiro é de 30% a 40%.

Segundo o terceiro e o pior, na óptica dos EUA e dos seus aliados, roteiro, os combates durarão entre 90 e 180 dias, caracterizando-se pelos seguintes factores:

- tenaz resistência das tropas iraquianas; - violentos combates de rua; - grandes vítimas entre os civis e grandes danos em infra-estruturas; - grandes problemas políticos nos EUA e na Grã-Bretanha decorrentes do movimento anti-bélico; - os iraquianos tornam-se extremamente hostis para com os EUA e a Grã-Bretanha; - os EUA não têm apoio da ONU; - a Grã-Bretanha, a Turquia ou um dos aliados dos EUA no Golfo Pérsico retiram-se da coligação; - o Iraque ataca refinarias petrolíferas com armas de extermínio em massa, causando grandes danos; - o Iraque efectua ataques bem sucedidos contra bases ou cidades árabes (turcas); - o Iraque emprega armas de extermínio em massa contra as tropas dos EUA, causando-lhes grandes baixas; - o Iraque emprega armas de extermínio em massa contra as tropas israelitas, causando-lhe grandes perdas do pessoal; - as tropas de Israel intervém em grande número, ameaçando usar armas de extermínio em massa; - uma instabilidade política geral na região; - atentados terroristas de grande escala às instalações regionais de interesse para os EUA e a Grã-Bretanha; - o Iraque e os seus apoiantes bombardeiam o território dos EUA e da Grã-Bretanha; - os esforços civis, militares e humanitários dos EUA no Iraque revelam-se inadequados (fracassam); - grandes danos em campos de petróleo e na sua infra-estrutura; - os EUA e a Grã-Bretanha enfrentam a população hostil do Iraque e de outros países árabes.

A probabilidade deste roteiro é pequena, constituindo apenas seis a oito por cento.

A análise económica teve como base os três roteiros da operação militar acima mencionados. No primeiro roteiro, o petróleo iraquiano retira-se do mercado por um período não superior a três meses, a OPEP compensa a escassez do petróleo iraquiano no mercado. Os EUA anunciam a intenção de usar as suas reservas estratégicas de petróleo. No mercado de petróleo não há pânico. Assim, já no terceiro trimestre de 2003, o preço de petróleo será de menos de 20 dólares por barril. Em outras palavras, no primeiro roteiro, o efeito negativo da operação militar sobre os preços de petróleo será insignificante e passageiro. A eliminação da incerteza sobre a operação militar melhoraria a situação nas bolsas e os indicadores económicos gerais, os quais serão muito melhores do que no caso de não-realização de uma operação militar.

No segundo roteiro, o efeito seria mais grave. O petróleo iraquiano desapareceria do mercado por seis meses. Os receios de irregularidades nos fornecimentos de petróleo provocariam a corrida pelo aumento de reservas de petróleo. O governo norte-americano interviria no mercado com boa parte das suas reservas estratégicas. A situação nas bolsas manter-se-ia complicada durante todo o ano 2003, devendo o preço médio de um barril subir, até ao início de 2004, para 30 dólares. O crescimento do PIB registaria uma desaceleração e resultaria num atraso equivalente a dois trimestres. O desemprego ficaria na faixa de seis por cento no final de 2003.

No terceiro roteiro, a economia dos EUA entraria em recessão, com a taxa de desemprego de cerca de 7,5%. O petróleo iraquiano faltaria durante todo o ano 2003. A sabotagem por parte dos países do Médio Oriente causaria a escassez de petróleo. Possivelmente, passaria a ser discutida a hipótese de usar o petróleo como instrumento político contra os EUA para forçá-los a lançar ao mercado boa parte da sua reserva estratégica de petróleo. O preço seria de 80 dólares por barril no primeiro trimestre de 2003, baixando, até ao início de 2004, para 40 dólares por barril.

As conclusões são as seguintes:

1. Em caso de não realização de uma operação militar ou de operação militar bem sucedida, os preços de petróleo ficariam, ao fim de um ano, abaixo do nível actual (segundo os peritos no mercado de petróleo, o preço médio por barril será, no próximo ano, de 25,8 dólares). No segundo e no terceiro roteiros, os preços manter-se-iam acima do nível actual, nos próximos dois anos no mínimo. 2. Os indicadores económicos seriam melhores no caso de uma guerra rápida e vitoriosa do que no caso de não realização de uma operação militar, pois desapareceria o elemento-incerteza que dificulta o desenvolvimento económico moderno. 3. O segundo e o terceiro roteiros acarretam grandes consequências económicas negativas. No terceiro roteiro, a economia dos EUA entraria em recessão.

© RIAN

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Author`s name Pravda.Ru Jornal
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