Fala líder guerrilheiro iraquiano: "Sabemos onde e quando atacar"

Vestindo calça cinza e camisa clara, com cerca de 50 anos, cabelos tingidos de preto e um grande bigode, Hassan, um ex-oficial da força aérea, se afasta totalmente da parafernália guerrilheira de lenços beduínos e kalashnikovs. "Sou um militar e me limito a cumprir ordens. Nunca gostei de teatro." Ele afirma fazer parte de uma organização integrada por antigos militares iraquianos responsável por vários ataques contra as tropas americanas mobilizadas no Iraque, e reitera uma única mensagem dirigida a dois destinatários: o exército dos Estados Unidos e os iraquianos que apóiam sua presença no país.

"Não temos nome nem queremos ter. Somos os verdadeiros sobreviventes do exército iraquiano. Sabemos onde atacar e quando fazê-lo. Dispomos de recursos, informação e estratégia política. Hoje Bush está mais fraco que nunca por causa das eleições [presidenciais em novembro próximo]. Não quer mais mortos, e é exatamente o que vai ter", explica o ex-oficial enquanto move suavemente no ar um braço em que brilha um relógio de ouro.

À noite, quando recebe os enviados dos jornais espanhóis El País e La Razón numa casa em Bagdá, o ex-militar recusa a qualificação de terrorista. "Não sou um assassino. A guerra não terminou, simplesmente entrou em outra fase, e é tão legítimo lutar no campo de batalha quanto nos povoados e cidades do Iraque. Por acaso chamavam a resistência francesa de terrorista? Eles são heróis, e todo mundo na França os admira. Por isso consideram De Gaulle presidente da França, e não o chefe de um bando terrorista." Sentado numa sala decorada com vários sofás azuis e dourados, de cujas paredes foram removidos quadros e outros objetos, Hassan afirma que faz parte de uma estrutura organizada por ex-militares iraquianos, cujo objetivo é forçar a retirada do exército americano do Iraque.

Hassan insiste que seus objetivos são estritamente militares e não reconhece explicitamente a autoria de nenhum atentado dos que lhe atribuem, mas os justifica e elogia. Perguntado pelo assassinato de sete agentes do Centro Nacional de Inteligência da Espanha, em dezembro passado na localidade de Majmudia, responde: "Aplaudo essa ação. Os espanhóis obedecem aos americanos, e quando estes forem embora os espanhóis os seguirão." Na última quinta-feira quatro mulheres que trabalhavam na lavanderia de uma base americana foram assassinadas a tiros perto de Faluja. Eram civis iraquianas e estavam desarmadas. Sem abandonar o tom firme, o ex-militar adverte que "todos os que mantêm uma relação direta ou indireta com o invasor são traidores da pátria e merecem morrer". Ele admite que há um grande número de iraquianos que apóia e colabora com os americanos, mas acrescenta: "Todos devem saber que os traidores morrerão".

Sobre as diversas guerrilhas - o Exército de Maomé, a Jihad Islâmica ou o Jamal Islamiya, entre outros - que afirmam estar no Iraque lutando contra os americanos, o ex-oficial define distâncias. "Aqui há muitos grupos e pessoas lutando contra um inimigo comum, mas os métodos e os objetivos são diferentes. Por exemplo, eu nunca aceitaria a ordem de que um de meus homens tenha de se atirar com um carro-bomba contra um alvo. Isso é uma atrocidade que nega o respeito por seus próprios homens."

Segundo o rebelde, chegaram ao Iraque pessoas procedentes da Síria, Líbano, Irã, Egito e Afeganistão "que querem fazer sua guerra contra os Estados Unidos". Hassan faz um gesto com a mão e sorri quando lhe perguntam por grupos como a Jihad Islâmica. "Tivemos contatos com grupos cuja luta se baseia na religião, mas não somos como essa gente, que só pensa em ir para o paraíso por matar americanos."

Segundo o ex-militar iraquiano, a organização a que pertence divide-se em células independentes que recebem ordens e transmitem dados através de uma rede de informantes, a mesma que define seus alvos e lhes fornece informações importantes para cometer os ataques. "No Iraque todo mundo está habituado a observar, escutar e contar logo. Simplesmente estamos empregando uma habilidade na qual temos muitos anos de treinamento." Perguntado se também há informantes entre os iraquianos que trabalham para os americanos ou outros países da coalizão, Hassan evita responder diretamente. "Todo iraquiano sabe no fundo do coração que a invasão é injusta e está disposto a agir de acordo. Sabemos onde estão os chefes dos invasores em muitos momentos, e agimos de acordo."

Sobre quem realmente dirige a resistência iraquiana - os serviços de inteligência americanos apontam o ex vice-presidente Ibrahim Al Duri, de paradeiro desconhecido -, o ex-oficial minimiza a importância de quem seja a cabeça visível. "Os americanos sempre buscam um nome.

Ontem era Saddam, hoje é Al Duri e amanhã, quem sabe. Estamos estruturados em grupos independentes, dos quais um não sabe o que o outro faz, de forma que se um cair não afetará nosso objetivo principal, que é expulsar os invasores." E não pode evitar uma gargalhada quando é perguntado sobre onde conseguem as armas.

"No Iraque sobram armas, e além disso nós militares tínhamos a informação sobre onde estava tudo. Podemos utilizar tanto uma granada RPG como um míssil de um avião. Além disso, seu uso não tem segredo para nossos homens."

Fonte: El País Diario Vermelho

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