Powell

Colin Powell, Secretário de Defesa dos EUA, irá fazer um discurso importante no Conselho de segurança da ONU amanhã, onde irá apresentar provas, segundo ele, que Iraque tem Armas de Destruição Maciça e que não está a cumprir os termos da Resolução 1441.

É assim que o mundo vai assistir o Colin Powell, o soldado que deixou a sua arma de fogo, preterindo-a em favor da arma política, a ser engolido pelo vórtice de Mal que é o lobby de energia que sustenta a administração Bush.

Basicamente, esta questão não é nova. É uma continuação da guerra do Golfo, começado em 1991 depois que os Kuwaitianos, sem dúvida motivados pelos EUA, começaram a fazer uma práctica de “cross-drilling” ou seja, exploração por perfuração cruzada, extraindo o crude iraquiano do seu lado da fronteira. Iraque ameaçou mais do que uma vez que se essa prática continuasse, não teria outra alternativa e o resto, a Guerra do Golfo, é história.

Com certeza, se as tropas da grande coligação quisessem, naquela altura teriam chegado a Bagdade, mas a um elevado custo. A administração de Saddam Hussein entendeu que seria melhor retirar do Kuwait do que perder o poder e a aliança entendeu que seria melhor deixar o Saddam Hussein no poder do que arriscar uma carnificina do povo iraquiano e das suas tropas.

Doze anos depois, o cerne da questão permanece. Iraque tem reservas maciças de petróleo, ainda mais, é de muito fácil exploração, mais do que dez vezes mais econômico a explorar do que a maioria dos poços de petróleo nos EUA.

O plano é igual, Cheney e Rumsfeld sendo os principais autores, pois estão ligados, como a família Bush, ao lobby de energia. E tem sentido. Esta vasta área, desde o Médio Oriente até à Ásia Central, tem enormes recursos de petróleo e gás. As companhias americanas já estão activas em muitos países na Ásia Central, onde detém já uma quota substancial do mercado. Iraque não é mais do que uma extensão do conflito afegão.

Em 1998, (é bom reparar no ano) Mullah Omar, líder dos Talibã, disse numa entrevista ao jornal paquistanês Dawn, que tinha a certeza de que os EUA iriam atacar o Afeganistão porque tinha acabado de recusar um negócio onde uma firma americana iria pagar cinco bilhões de dólares em troca de autorização para construir um gasoduto que ligava os campos de gás de Turcomenistão ao Paquistão, cujo regime era, e é, favorável a Washington. Disse ainda que provavelmente o Osama Bin Laden seria usado como desculpa.

Mais uma vez, tem de haver uma prova que justifica a violência. O 11 de setembro foi uma desculpa perfeita para fazer cair uma chuva de bombas no Afeganistão, assassinar 3,000 civis, pôr em moção um processo político, utilizando o fantoche Karzai que já fora comprado há muito tempo, mas deixando activo a maioria do exército Talibã e os senhores de guerra, criando um clima de instabilidade...divide et impera, disseram os romanos. E faz-se o gasoduto.

Só que desta vez, não há provas. Há especulação, há boatos. Boatos não justificam uma guerra e por isso, o tom de Washington fica cada vez mais histérico. O próprio George Bush há dias disse na sua entrevista em conjunto com o Primeiro Ministro do Reino Unido, Anthony Blair, que “o governo deste senhor acaba de descobrir um plano para envenenar”, ao mesmo tempo que referia ao regime de Saddam Hussein. O que ele referia era o plano de fabricar o veneno Ricin, por argelinos ligados ao Al-Qaeda, no Reino Unido, que nada tinham a ver com o Iraque.

Teria tanta justificação alegar que o CIA desempenhava uma papel activa no 11 de Setembro como alegar que o Al-Qaeda e o regime Ba’ath em Bagdade são a mesma coisa. Osama Bin Laden odeia o Saddam Hussein e queria lançar um Jihad contra ele depois da ocupação do Kuwait. A chegada dos EUA fez com que ele se tornasse contra o invasor externo, quando ele se preparava para lançar os seus guerrilheiros no Afeganistão contra Bagdade.

O Colin Powell irá sem dúvida mostrar umas fotos tirados do espaço, e vai alegar que esta camião está a transportar armas químicas desta fábrica para este local. Já foi tentado e sob inspecção mais minuciosa, descobriu-se que as fotos mostravam um rotineiro transporte de leite em pó duma fábrica para um armazém.

O Washington tem má vontade contra Bagdade. Pôs em marcha uma mobilização militar maciça. Só um enorme esforço político e acções sociais de mobilização das populações terá alguma hipótese de esforçar esta posição de arrogância a fazer marcha atrás.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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