A Crise na Coréia do Norte e a Relação com a Crise no Iraque

Estamos no início do mês de abril já e a matança prossegue no Oriente Médio, sem o aval das Nações Unidas. No entanto, os mesmos países do Conselho de Segurança que se calam diante da agressão ilegal da grande potência a um país decadente há mais de uma década planejam reuniões para avaliar a crise nuclear na Coréia do Norte.

Kim Chong-Il, chefe de estado da Coréia do Norte, declara que, baseando-se nos recentes acontecimentos no Oriente Médio, não permitirá a entrada de inspetores da ONU, pois isso significa ser atacado, segundo o presidente. Além disso, o partido norte-coreano afirma que dará continuidade ao seu programa de armas nucleares, pois consideram essa a única maneira de manter os EUA longe de seu território.

Analisando externamente os comentários do norte-coreano, diríamos que ele é mais um desequilibrado do estilo Saddam Hussein, apenas mais um ditador que deve ser destruído pelos EUA também, assim que eles acabar em com o serviço no Iraque. No entanto, fazendo uma análise mais profunda, chegaremos à conclusão de que ele está totalmente correto em suas declarações e que realmente essa é a única maneira de evitar um ataque norte-americano em sua campanha "preventiva" descontrolada.

A Coréia do Norte teme que, abrindo suas portas aos inspetores de armas da ONU, ocorram as mesmas espionagens e sabotagens que ocorreram no Iraque. Além disso, será obrigada a se desfazer das armas nucleares, entre outras que possui, o que tornará a já fragilizada Coréia em algo ainda mais frágil e suscetível ao ataque da hegemônica nação, semelhante ao Iraque pós Guerra do Golfo. A ONU tem demonstrado que apenas serve aos interesses dos EUA e seus aliados, pois na única vez que se posiciona contra esse estado é desrespeitada como se não existisse.

Os demais membros, ao invés de tomarem atitudes rígidas contra esse desrespeito, apenas observam os acontecimentos e já planejam a reconstrução do Iraque. Isso é um desrespeito não somente à ONU, mas à população mundial, que esperava atitudes concretas desse órgão e dos países membros. A ONU não entrou em decadência porque os EUA invadiram o Iraque sem aval, mas porque os demais membros do Conselho de Segurança não cumpriram seu papel, que era de acabar com essa guerra ilegal, nem que para isso fosse necessário usar a força. Tudo teria sido diferente se o país invasor não fosse os EUA.

Os EUA, com essa guerra, confirmaram a tese de que estão acima de quaisquer leis. O mundo precisa cumprir o que a ONU ordena, o mundo precisa cumprir o Tratado de Genebra, exceto os EUA, pois eles são inatingíveis. Eu sinto vergonha da ONU. Ela não passa de apenas mais um órgão dos EUA na luta pelos seus interesses, tentando apenas legitimar suas vontades. Estou decepcionado com alguns países do Conselho de Segurança, dos quais eu esperava alguma reação em pró da legalidade.

George Bush está completamente ciente de que não está agradando o mundo todo com essa guerra, portanto não adiantam manifestações, bandeiras brancas nas janelas ou pedidos verbais para que a guerra cesse. Esses pedidos já vieram da Rússia, da Liga Árabe e de outras nações, mas não surtiram efeito porque ele simplesmente não se importa com o resto do mundo. Outros grupos como a União Européia alegaram que "não era seu papel pedir o fim da guerra". E de quem é esse papel, já que os membros da ONU - e alguns estão dentro da União Européia - não usam a diplomacia para acabar com a matança? Japão está do lado dos EUA porque seu território não possui riquezas minerais. A Austrália pelo mesmo motivo. Todos os envolvidos - pró ou contra - possuem interesses por trás da guerra, mas os que estão sendo prejudicados também não estão tomando atitude alguma.

Voltando ao tema central - a Coréia -, eu pergunto: base a do em que a ONU terá o direito de exigir que a Coréia do Norte abandone o programa nuclear? Se um país desrespeitou a ONU e não sofreu qualquer punição, por que outros não farão a mesma coisa quando se sentirem prejudicados? Claro, como é a Coréia e não os EUA ela poderá sofrer o ataque de uma aliança mundial e novamente a nação hegemônica sairá sorrindo em cima da ilegalidade.

Quando países como Rússia, China e Alemanha perceberem o que está acontecendo a cada 10 anos, poderá ser tarde demais. Basta ter uma riqueza qualquer e não entregá-la aos americanos que eles terão motivos para atacar. Ao menos vejo como positiva a não ratificação da Rússia do acordo com os EUA de redução do arsenal nuclear após o surgimento dessa guerra. Isso é realmente preocupante e me atrevo a dizer que é justamente de países como a Coréia do Norte que o mundo precisa. E não me refiro à política interna desse país, que é lamentável, mas à política externa de desobediência aos americanos e até à ONU, que só atua contra os países mais frágeis. Todos os países que não quiserem sofrer ataques "preventivos" precisam se armar e adquirir armas nucleares.

A Coréia do Norte não representa o "eixo do mal" e tampouco uma ameaça ao mundo. Representa, sim, uma ameaça aos interesses norte-americanos, mas não à Rússia, à China, à Índia e à maioria dos países do globo, ao contrário dos Estados Unidos, que a cada década escolhe um país para tomar as riquezas e desenvolver sua economia bélica.

Tiago Zuanazzi Tomazzoni Caxias do Sul-RS, Brasil

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