Até 2020, a Rússia passará a produzir as suas próprias vacinas. Muito a esperar?

A indústria biofarmacêutica russa está se preparando para substituir os medicamentos biológicos e vacinas importados, que com a atual situação econômica, tornaram-se uma questão de segurança nacional. O surgimento dos produtos biofarmacêuticos e a ampla aplicação da biotecnologia na medicina já são previstos por cientistas de todo o mundo. No entanto, a química ficou em segundo plano.

Tradução de Mariana Villanova

Até muito pouco tempo os medicamentos russos eram considerados um contrassenso, e o máximo que a farmácia russa era capaz de produzir eram análogos de fármacos estrangeiros que perdiam a proteção patentária, chamados genéricos. Hoje, segundo a chefe do Ministério da Saúde Veronica Skvorsova, a Rússia desenvolveu vacinas contra a gripe exclusivas e inovadoras, acompanhando a produção de empresas farmacêuticas estrangeiras.

As empresas biofarmacêuticas russas anunciaram que até o ano de 2020 serão capazes de atender a todo o calendário de vacinação nacional com vacinas russas, e, um pouco mais tarde, suprir toda a lista de medicamentos essenciais e vitais com medicamentos nacionais. Isso significa que as bases de pesquisa e produção de empresas farmacêuticas russas passarão para um novo nível, incluindo a realização de pesquisas abrangentes e produção de produtos próprios, em conformidade com as normas internacionais de padrão de qualidade GMP (Good Manufacturing Practice).

A primeira, e até agora única, vacina russa, produzida no âmbito do ciclo completo de produção de acordo com a GMP, é a vacina "Ultriks", produzida pela empresa biofarmacêutica e complexo de pesquisa e produção "Fort", fundada há um ano na região de Ryazan.

Hoje na Rússia é realizado o mais rápido e eficiente sistema de teste para a detecção de Ebola e outras doenças perigosas. A primeira vacina contra a febre hemorrágica Ebola no Instituto de Pesquisa da Gripe  em São Petersburgo foi produzida em dezembro do ano passado, as outras três vacinas estão atualmente em ensaios clínicos.

O surgimento de produtos biofarmacêuticos e a ampla aplicação da biotecnologia na medicina já preveem cientistas de todo o mundo, inclusive os russos. "A farmacologia química está esgotado seus recursos - disse o diretor geral da empresa Fort, doutor em Ciências Biológicas, Anton Katlinskyi, a jornalistas durante uma mesa-redonda realizada recentemente na Academia Russa de Ciências. Há 15-20 anos, as preparações de síntese química reinaram no mercado farmacêutico, mas agora a indústria está em estagnação: não há ultimamente excelentes descobertas e inovações. A maioria dos fármacos que podem ser encontrados hoje nas farmácias encarnam as realizações científicas de 50-60 anos atrás."

A tendência global da farmacologia química, de acordo com o especialista, pode ser expressa da seguinte maneira: "o mínimo de marcas campeãs de venda e o máximo de medicamento genérico". Enquanto isso os medicamentos mais recentes e mais eficazes no tratamento e prevenção de doenças virais, doenças hematológicas e oncológicas são encontrados no campo da biotecnologia.

Agora na Rússia estão sendo formuladas novas produções farmacêuticas e agrupamentos biotecnológicos inteiros, sobre os quais são feitas pesquisas para o desenvolvimento de medicamentos biológicos em nível mundial. Os cientistas do país acreditam que o futuro da farmacologia é em biotecnologia, na qual a fonte da substância ativa é o próprio corpo humano. "A taxa em medicina depende de abordagem personalizada. Acredito que nos próximos 10 anos, os médicos mudarão para um sistema em que cada tarefa será feita com base nos testes genéticos do paciente", diz Anton Katlinskyi.

No entanto, apenas a produção de novos fármacos pode não ser suficiente, se não houver mudanças de comportamento dos russos quanto a sua saúde e prevenção de doenças. Especificamente, na opinião pública, a gripe e as infecções das vias respiratórias superiores (IVRS) ainda estão longe de ser consideradas as doenças mais perigosas, em comparação com o altamente "divulgado" vírus Ebola e as "famosas" versões de gripe aviária ou suína. No entanto, de acordo com o Instituto de Pesquisa da Gripe, todos os anos na Rússia, as gripes e as IVRS acometem até 8% da população, ou 30 milhões de pessoas. De acordo com as estatísticas, cerca de 1.000 pessoas acometidas morrem de complicações causadas pela gripe. E não devemos esquecer que nas estatísticas, como se sabe, pode haver desvios -não é em todos os casos que os médicos estabelecem a causa exata da morte, pois, para isso são necessárias pesquisas laboratoriais significativas. Isso significa que, na verdade, o número de mortes pode ser ainda maior.

Os fabricantes nacionais estão prontos para prover aos russos vacinas nacionais. Por exemplo, apenas uma empresa estava disposta a fabricar até 40 milhões de doses de vacina contra a gripe sazonal. Além disso, a empresa na região de Ryazan está pronta para fornecer vacinas a todo o país em caso de pandemia de gripe - suas instalações viabilizam a produção de 120 milhões de doses de vacina contra  pandemia.

Infelizmente, com as medidas destinadas a impedir a gripe, os médicos muitas vezes se deparam com o preconceito dos russos contra a vacinação. Os especialistas reconhecem que a vacinação não garante  100% que o indivíduo não ficará doente, mas o risco pode ser minimizado. Além disso, a criação de estratos imunes suficientes na população evita a propagação da infecção. Portanto, a vacinação continua sendo uma das maneiras mais efetivas para combater o vírus da gripe. Tantos os médicos quanto os seus pacientes estão otimistas com o fato de que em breve poderão ser produzidos melhores medicamentos de fabricação russa.

Anatolyi Sterhov

Especialista-Chefe do Instituto de Especialização Regional

  

Alexandra Grigoreva (MedPulse.ru): "Tudo isso seria ótimo. Só que surgem algumas dúvidas. Como teremos medicamentos inovadores se, em média, gigantes farmacêuticas mundiais levam de 5 a 10 anos para desenvolvê-los? E em termos financeiros, isso custa 1,5 bilhões de dólares... e os testes clínicos levam pelo menos cinco anos. Depois de todos os esforços e investimentos, o máximo que podemos esperar é que, em vinte anos de uso, quando estiver terminando a patente, tenhamos alguma coisa. Portanto, o máximo que nos espera são os genéricos e os produtos desenvolvidos de acordo com as normas europeias, em que poderemos contar com a qualidade adequada dos medicamentos antigos. Barato (nem caro) ninguém vende uma criação de medicamento. Trata-se mesmo de apenas algumas vacinas? E em estoque, haverá varinha mágica?

Para cultivar um jardim e fazer a colheita são necessários pelo menos cinco anos. Com medicamentos é necessário muito mais tempo para tudo.

Para resumir, espera-se que as conversas sussurradas sobre a substituição de importados no domínio dos medicamentos e dispositivos médicos não se tornem um habitual otimismo superficial... É  esperar para ver."

Fonte: MedPulse.Ru 

texto original: http://www.medpulse.ru/health/yourshealth/medicalachievements/19897.html

 

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