Comércio exterior: mudar é preciso

SÃO PAULO - O balanço sobre a movimentação de cargas nos portos e terminais portuários do Brasil, divulgado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) em agosto, é uma prova incontestável de que o comércio exterior brasileiro não vai bem e carece de uma diretriz política que o coloque no rumo certo. Segundo o relatório da Antaq, no primeiro semestre de 2014, o volume de cargas enviadas pelos portos e terminais portuários nacionais para o exterior recuou, quando o destino foram os tradicionais clientes.

Milton Lourenço (*)   

Na comparação com o mesmo período de 2013, as vendas para os Estados Unidos alcançaram 10,8 milhões de toneladas, registrando uma queda de 5%. Para o Japão, o volume caiu 8%, registrando 15 milhões de toneladas. Também sofreram redução as vendas para a Holanda (14%) e Coréia do Sul (9%). Isso mostra que o País não vem fazendo uma política de comércio exterior eficaz no sentido de não só abrir mercados como ampliar sua participação nas vendas para clientes já tradicionais.

Por outro lado, o Brasil importou 28% menos produtos da Argentina e 20% menos da Espanha, em consequência talvez da crise econômica que tem afetado esses dois países. Em compensação, as importações dos Estados Unidos cresceram 24%, o que denota um contrassenso. Afinal, os Estados Unidos são o maior mercado do planeta e o normal é que os demais países registrem superávit em seu relacionamento com aquela nação, ou seja, o comum é que vendam mais do que comprem.

Já o relacionamento  com a China só aumentou no semestre passado, o que deixa claro o viés ideológico adotado pelo atual governo em sua política comercial: o Brasil importou 31% mais e exportou um volume de carga 14% mais do que no primeiro semestre. O problema é que a China compra basicamente commodities, limitando-se a vender produtos manufaturados, enquanto os Estados Unidos tradicionalmente compram do Brasil mais produtos industrializados e de maior valor agregado. Nesse ritmo, o País corre célere para se tornar um fornecedor de matérias-primas, o que é um mau sinal para o parque industrial brasileiro.

 

Os números divulgados pela Antaq, portanto, atestam os erros da diplomacia econômica do País e, ao mesmo tempo, explicam em boa parte os problemas que a indústria enfrenta. Ou seja, atado a um Mercosul que não avança, o Brasil sofre as consequências das desastrosas administrações dos governos Kirchner na Argentina e de uma política vesga que, nos últimos 20 anos, privou o País de acordos comerciais com mercados mais desenvolvidos, o que limitou o intercâmbio  do setor industrial e estimulou a concentração das exportações nos mercados sul-americanos.

            Em outras palavras: se o Brasil já vem perdendo espaço até com seus tradicionais clientes, a situação poderá piorar sensivelmente se Estados Unidos e União Europeia, os dois mais importantes mercados do mundo, concluírem as negociações para a formação de uma área de livre-comércio.

 

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(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: [email protected]. Site: www.fiorde.com.br.

 

 

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