A disputa da Ucrânia

Parece claro que a Ucrânia vai mudar de configuração geográfica, pelo menos no que se refere à Crimeia, cuja secessão se concretizará muito em breve, mesmo que a "comunidade internacional" grite a várias e desafinadas vozes - Kerry, Ashton, Hollande e outras de menor audiência como o nosso Chancerelle. Algumas dessas vozes fazem-se ouvir só para cumprir calendário, pois a Crimeia não vale os negócios das cerca de 6000 grandes empresas com investimentos e bons negócios na Rússia. Certamente no jogo atual que se desenrola no cenário ucraniano vale muito mais o papel de Gerhard Schroeder, antigo chanceler alemão e atual executivo da Gazprom, do que todos os papagaios acima referidos.

 

Mais complicada será a situação no atual Leste ucraniano, em perfeita contiguidade geográfica com o Oeste, com populações de falas, crenças e estruturas distintas. Recordemos a propósito que a Ucrânia é uma construção estatal com apenas 23 anos e que a sua consolidação nunca passou da primeira infância. A Escócia tem previsto para setembro deste ano um referendo sobre a independência face ao reino dos Windsor e a bela "comunidade internacional" ainda não se indispôs com os escoceses.

 

Para além do foguetório diplomático e do alarmismo dos media que vêm a guerra como inevitável, resta o congelamento dos teres e haveres de 18 corruptos ucranianos próximos do Yanukovitch (incluindo o próprio) e o azedume revelado pela "comunidade internacional" quando enviou para o Mar Negro uma poderosa armada constituída por um destroyer para se juntar às temíveis (?) marinhas romena e búlgara, para além de dez aviões que remeteu para a Lituânia. Por comparação, recorde-se que, seis anos atrás os russos subtrairam a Abcásia e a Ossétia do Sul à Geórgia de Saakashvili que queria o seu país na NATO; e o célebre e ardente George W. Bush reconheceu que estava na área de influência da Rússia e meteu a viola no saco.

 

Em Kiev um governo recheado de fascistas, dirigido pelo banqueiro Yatseniuk, procurará garantir a integração na UE e na NATO, tentando convencer os ucranianos que os fundos comunitários não trazem, no final do processo a garantida inclusão numa já existente periferia leste, certamente pobre, desestruturada, não "competitiva" apesar dos baixos salários. Presume-se que o investimento estrangeiro terá alguma concentração nas boas terras negras onde a Monsanto e quejandas planeiam plantar os seus transgénicos, desalojando camponeses pobres. Esse processo está em curso na Roménia e a patente será também válida para a Ucrânia.

 

Aguardemos. Para quem não tem intervenção no terreno mais não é possível que analisar esses projetos de domínio e as suas consequências já observáveis noutras latitudes e tempos históricos, tendo em conta a hierarquia capitalista existente, as suas mutações e que os EUA são a única potência com capacidade e veleidades de intervenção a nível planetário. A Rússia é uma potência que também se procura impor nas suas imediações mas, que tem um caráter regional, distante do papel de superpotência que a antiga URSS detinha. Por outro lado, para os EUA, o principal adversário é a China que, convém seja dito, constitui com a Rússia a coluna vertebral da OCX - Organização de Cooperação de Xangai.

 

Resta saber se os 46 milhões de ucranianos de oeste e de leste, da Galícia, da Crimeia, ou do Donbass conseguem impor os seus interesses aos da hierarquia capitalista e dos estados que lhe dão forma; ou, se se deixam envolver em narrativas identitárias, de exclusão do "outro" perante o sorriso deliciado dos capitalistas e da CDU alemã cuja Fundação Konrad Adenauer financia o ex-boxer Klitschko. Essas narrativas já têm no terreno os seus cães de fila do Svoboda e do Sector Privado, abertamente nazis.

http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/03/a-ucrania-e-comunidade-internacional.html

 

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