Exija o impossível

Exija o impossível


A nova amiga me estende a mão e diz
- Muito prazer, eu sou anarquista.
Eu respondo
- Muito prazer, eu sou comunista.
Ela então completa


- Ótimo. Estaremos juntos contra os fascistas. Depois nos matamos.
Ela obviamente, como era uma pessoa de boa cultura, estava lembrando a Revolução Espanhola, quando comunistas e anarquistas combatiam os fascistas, mas também entre eles.


É uma contingência histórica: os que combatem o status quo se unem em determinados momentos, para se separar em mais tarde, quando alguns acham que os objetivos buscados foram atingidos, enquanto outros querem seguir adiante.
Em 1917, na Rússia, mencheviques e socialistas revolucionários, achavam que derrubar o Czar e instalar uma democracia burguesa era suficiente naquele momento. Lenin e os bolcheviques queriam ir em frente e foram, instaurando a chamada ditadura do proletariado e dando início ao primeiro regime do mundo assumidamente socialista.


Setenta anos depois o sonho acabou, destruído por um complô que reuniu o presidente americano, Bush pai, o Papa polaco Karol Wojtyla e os traidores russos Yeltsin e Gorbachov. É claro, também com os erros da burocracia soviética.
Será preciso começar tudo de novo, talvez desde o início do "comunismo utópico" de um possível Cristo, adaptando os ensinamentos de Marx e Lenin aos novos tempos de Zizek, Badiou  e Meszaros.


Impossível?
Os jovens revolucionários franceses de 1968 escreviam nos seus cartazes: Seja realista, exija o impossível.
O capitalismo levou 500 anos para chegar ao estágio em que se encontra hoje, passando do mercantilismo e do colonialismo, até chegar a este modelo puramente financeiro.
Para chegar até aqui, promoveu guerras, genocídios, destruiu civilizações e escravizou milhões de homens.
Mas ele não é o fim da estrada, como pensou Fukuyama. Ainda há muito caminho a percorrer.


Para o Brasil, inclusive


Em 2002, 2006, 2010 e 2014, os brasileiros elegeram governos do PT e eles trouxeram importantes benefícios às populações mais pobres.
Mas não era a revolução. Lula e Dilma chegaram à Presidência, mas nunca tiveram o poder real nas mãos. Sempre tiveram que negociar com os verdadeiros donos do poder (os empresários, os banqueiros, a mídia) para oferecer algumas compensações aos mais necessitados.


O golpe refez a coerência política que sempre existiu no Brasil: poucos mandam e muitos obedecem.
Depois da tempestade que foi o golpe de 2014, não veio a bonança  Pelo contrário, surgiu algo muito pior, o governo Bolsonaro.
Agora precisamos nos unir novamente, nós comunistas, anarquistas, petistas e  democratas de várias matizes contra o inimigo comum.
Talvez a oportunidade seja em 2022.


Depois, talvez tenhamos que nos separar novamente, alguns achando que isso será suficiente e outros, como nós, querendo ir adiante.
Tomara que as derrotas nos ensinem que esse é o momento de união e os que pretendem ir adiante sejam a maioria.

Marrino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS

 

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