Somos todos negros excluídos e assassinados

Somos todos negros excluídos e assassinados

Nós todos somos negros escravizados, explorados, excluídos e assassinados.  Há séculos que isso se repete. O assassinato de Marielle, um a mais entre dezenas de milhares de assassinatos que se praticam todos os anos, na indiferença geral, foi a gota d´água que faz transbordar  nossa revolta e exigir a alforria geral neste país, onde a cor da pele predestina a uma cidadania de segunda classe. A dor de Marcos Romão, líder negro e líder emigrante, é a de todos nós, porém nos deve levar adiante e não apenas ao choro e à humilhação. Essa também a mensagem que Marielle nos envia, como nos conta Romão: "Pouco antes de morrer Marielle afirmou na Casa das Mulheres Pretas: "Na Câmara [Municipal do Rio], antes da gente entrar, foram dez anos antes com a Jurema [Batista]. E dez anos antes da Jurema, a Benedita [da Silva]. A gente não pode esperar mais dez anos ou achar que eu estarei ali por dez anos". (Nota de Rui Martins).

É hora de se dizer basta ao nosso regime de apartheid

A execução de Marielle Franco foi um grande baque na minha saúde e vida pessoal.

São 45 anos que atuo na formação para a cidadania de pessoas e povos discriminados e alvos de racismo.

De dentro do Movimento Negro no Brasil e Europa, atuo principalmente com pessoas negras, indígenas, refugiados e discriminados em geral e com todas as pessoas que desejam aprender a despirem-se de seus racismos e passarem a viver como antirracistas.
Marielle Franco é fruto de seu esforço pessoal e do esforço milhares de mulheres negras e ativistas antirracistas e de defesa dos direitos humanos e cidadania no qual ela banhava seu cérebro e alma. 

Para o Povo Negro do Brasil, o custo de sua existência e construção de sua expressão e representatividade política como mãe, mulher, negra e lésbica, que lutava pelos direitos humanos e igualdade de todas as brasileiras e brasileiros, não pode ser medido por valores econômicos. Com a sua execução ceifou-se a vida de todo um navio de liberdade que sempre teima em aportar nos portos do Rio de Janeiro.

Pouco antes de morrer Marielle afirmou na Casa das Mulheres Pretas:
"Na Câmara [Municipal do Rio], antes da gente entrar, foram dez anos antes com a Jurema [Batista]. E dez anos antes da Jurema, a Benedita [da Silva]. A gente não pode esperar mais dez anos ou achar que eu estarei ali por dez anos".

Mesmo baqueado só tenho a dizer para a memória de Marielle Franco, que felizmente milhares de pessoas de minha geração do Movimento Negro e outros movimentos sociais, contribuíram para que a sua curta existência fosse banhada da luz do discernimento, solidariedade e respeito humano.

Ao escrever depois de 5 dias sem conseguir falar por pura estupefação, vejo que Marielle Franco não estava sozinha e que milhares de jovens negras, brotam em todas as periferias e lares do Brasil e serão a grande força para a construção de um País, que as aceite, que não as excluam, não as eliminem e nem as executem.

Com toda a dor que carrego, vejo como é bonito ver pelas ruas Marielles de todas as idades andando de cabeças erguidas pela ruas e vielas das cidades e suas periferias.

O medo, a sensação de perigo e as ameaças do dia, quiçá, estão aumentando a consciência nacional, de que nada mudará no Brasil sem o povo negro e a eliminação do apartheid racial a que todos e todas estão submetidos.

Vale à pena ajudar na formação de pessoas para a defesa dos direitos humanos e cidadania. mesmo que cabeças racistas queiram nos forçar a pensar do contrário.

João Marcos Aurore Romão, jornalista,sociólogo formado na UFF, jornalista e ativista pela Anistia,pelos direitos humanos e do movimento negro década de 70. Coordenador da Rede Rádio Mamaterra Brasil -Alemanha. Coordenador da iniciativa Sos Racismo Brasil. Viveu na Alemanha como jornalista de 1989 a 2012, onde foi eleito representante de emigrantes brasileiros no Conselho de Representantes de Brasileiros no Exterior, CRBE , junto ao Itamaraty, de 2005 à 2012, quando voltou para Niterói.

 

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