Festival de Berlim - o impostor e a prostituta de luxo

Festival de Berlim - o impostor e a prostituta de luxo

Por Rui Martins, do Festival Internacional de Cinema de Berlim:

Pela terceira vez na competição em Berlim, o realizador francês Benoît Jacquod trouxe um thriller, inspirado de um livro policial do escritor inglês James Hadley Chase, Eva, já filmado numa versão livre pelo cineasta Joseph Losey com Jeanne Moreau no papel principal. É a história de um jovem impostor, vítima de sua própria impostura e Benoît consegue mantém o clima de suspense, embora não se trate de um crime mas de um roubo e de uma mentira, que não chega a ser desmascarada. 

No seu encontro com a imprensa, depois da projeção do filme bem acolhido, Benoît Jacquod contou ter lido o livro quando ainda adolescente, pois seu pai devorava romances policiais. Porém, esse livro de James Hadley estava ligeiramente escondido e, por isso mesmo lhe chamou a atenção. É a história de um jovem prostituto, Bertrand, cujo cliente já idoso, um escritor inglês, morre de um enfarte, deixando sobre a mesa do escritório sua última obra inédita, uma peça de teatro. 

Quando Jacquod se tornou cineasta sempre lhe veio a vontade de tansformar o livro em filme, o desinteresse dos produtores sempre impediu. Foi preciso ter feito nome para poder impor seu desejo. E, pela sexta vez, decidiu se servir do charme frio e enigmático de Isabelle Huppert para o papel da prostituta, enquanto sua vítima seria mais jovem, o ator parisiense em franca ascenção, Gaspard Ulliel. 

Bertrand se apropria do original e surge como um jovem autor dramaturgo, pois é grande o sucesso da peça encenada. Mas um bom autor não é autor de um só livro e o editor quer outro. Na tentativa de encontrar um lugar tranquilo para escrever, Bertrand encontra a prostituta de luxo Eva, com a qual mantém uma relação destinada a ser inspiração para uma nova peça, mas o encontro com a colega profissional mais maligna acaba lhe sendo fatal. 

E como sempre, a ficção suscita perguntas à imaginação: haveria amor entre o impostor e a prostituta? Isabelle Huppert rejeita inicialmente a ideia de ser Eva uma mulher fatal, mas uma prostituta com uma imagem moderna. E acha ter existido um certo tipo de amor entre os dois. Para Gaspard Ulliel, existe, entre os dois, sem se revelar, um reconhecimento, pois ambos são impostores que mantêm uma certa relação amorosa.

Alguns estranharam não terem visto a prostituta Eva ou Isabelle Huppert nua, mas para o realizador Jacquod, o erotismo não exige necessáriamente a nudez. Enfim, como lembrou Isabelle Huppert, o filme de Jacquod é um thriller psicológico que não exigiu nenhum efeito especial ou trucagem.

Resumo da Produção -Quando um escritor idoso morre em sua banheira numa noite, apenas uma pessoa conhece a existência secreta de seu último manuscrito: Bertrand, um jovem que também é testemunha acidental da morte do escritor. Bertrand monta a última peça do falecido dando-lhe seu próprio nome e está intoxicado pelo sucesso. Mas o mundo logo fica ansioso por outro trabalho desse suposto gènio literário. No meio de suas tentativas para colocar uma nova peça no papel, Bertrand encontra uma mulher atraente mas misteriosa chamada Eva. Para ele, ela é muito mais do que apenas uma prostituta de luxo, e suas conversas com ela são utilizadas diretamente nos diálogos de sua nova peça. Porém, ele não consegue penetrar a armadura emocional de Eva. Ninguém deve saber realmente o que a motiva, muito menos esse arrogante arrivista, cuja dependência sexual ela explora, e em quem ela certamente não confia. Bertrand torna-se enredado em um aprisionamento emocional que o leva à catástrofe.
Mais de cinquenta anos depois de Joseph Losey, Benoit Jacquot revisou o romance do escritor britânico James Hadley Chase para criar sua própria adaptação cinematográfica: uma peça de diálogos que mergulha nas profundezas  morais do mundo dos ricos e bonitos.

Direção: Benoit Jacquod; Roteiro: Benoit Jacquod e Gilles Taurand, adaptação do romance de James Hadley Chase. Benoit Jacquod nasceu em Paris, na França, em 1947, onde começou sua carreira como assistente de direção antes de fazer sua estréia em 1975 com L'assassin musicien (The Musician Killer), com base em uma novela de Dostoyevsky. Tem trabalhado com as estrelas do cinema francês, como Isabelle Huppert, Sandrine Kiberlain e Léa Seydoux e também fez seu nome dirigindo TV, documentário e ópera. Em 1996, A Single Girl foi exibida no Panorama da Berlinale. Seu drama de época Les adieux à la reine (Farewell My Queen) estava na competição internacional do Festival de Berlim, Berlinale, em 2012, e sua adaptação de romance Journal d'une femme de chambre  foi exibida na Berlinale de 2015.  Filmes: 1975L'assassin musicien (The Musician Killer) 1990 La désenchantée (The Disenchanted) 1995 La fille seule (A Single Girl) 1997 Le septième ciel (The Seventh Heaven) 1998 L'école de la chair (The School of Flesh) 1999 Pas de scandale (Keep it Quiet) 2000 Sade 2001 Tosca 2002 Adolphe 2004 A tout de suite 2006 L'intouchable (The Untouchable) 2009Villa Amalia 2010 Au fond des bois (Deep in the Woods) 2012 Les adieux à la reine (Farewell My Queen) 2014 3 cœurs (3 Hearts) 2015 Journal d'une femme de chambre (Diary of a Chambermaid) 2017 Eva.

Elenco:

Isabelle Huppert (Eva)
Gaspard Ulliel (Bertrand)
Julia Roy (Caroline)
Marc Barbe (Georges)
Richard Berry (Regis)

Rui Martins está em B erlim, convidado pelo Festival Internacional de Cinema.

 

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