O POPULISMO E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Este histórico do Partido Comunista Português considera que as próximas eleições presidenciais poderão ser ocasião de um ataque à democracia política, numa referência à previsível candidatura de direita do antigo primeiro-ministro Cavaco Silva. As eleições locais portuguesas estão a ser marcadas este ano pelas candidaturas de 4 caciques envolvidos em suspeitas de corrupção que, preteridos pelos seus partidos, optaram por concorrer como independentes. E a quem as sondagens dão, a todos os quatro, fortes possibilidades de virem a ser vitoriosos, recorrendo a campanhas populistas. Entretanto, o país está já de olhos postos nas eleições presidenciais que irão ter lugar em Janeiro próximo. Com um governo de maioria absoluta do Partido Socialista em acentuada queda de popularidade, e já com uma demissão do ministro das finanças pelo meio, ao fim de apenas seis meses no poder. Na área do centro-esquerda estão já com 5 candidatos no terreno: os lideres do Partido Humanista, do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda. E dois do Partido Socialista, o antigo presidente da República Mário Soares, apoiado pela direcção do partido, e o vice-presidente do parlamento Manuel Alegre, numa posição de dissidência na ala mais à esquerda do partido. Na área da direita prevê-se apenas uma candidatura, ainda não oficializada, mas preparada há muito tempo, do antigo primeiro-ministro Cavaco Silva. Sublinhe-se que a direita ainda nunca conseguiu obter o cargo de presidente da República desde as primeiras eleições livres, em 1976. É neste pano de fundo que uma figura destacada do PCP, Aurélio Santos, o ex-director da Rádio Portugal Livre que nos anos 1960/70 emitia, a partir da Roménia, para um Portugal então submetido à ditadura fascista, escreveu um artigo sobre populismo no jornal do seu partido. Aurélio Santos visa o cenário das eleições presidenciais, quando aponta que "além dos pequenos e médios populistas" que agora concorrem ao poder local, "temos de ter em conta também os casos de populismo e «poder pessoal» montados em grande escala, e que visam já não só o poder pessoal em pequenas comunidades mas sim em escala nacional e subordinados por regra a projectos de poder «ultra-pessoais» de grupos ou classes sociais". Aurélio Santos vai à História buscar vários exemplos para ilustrar a sua tese: "Não se abrigou a nobreza feudal, na sua fase de decadência, por detrás da figura do Rei-Sol da monarquia absolutista, como a classe patrícia romana se abrigou à sombra dos Césares, Imperadores e deuses)? E a grande burguesia alemã e italiana, numa fase de forte contestação no após 1ª Guerra Mundial, não fizeram de Hitler e Mussolini os totens para reforço do seu poder e aplicação das suas ambições imperiais? E não foi Salazar a figura tutelar do capital financeiro e da burguesia latifundista na sua política de domínio ditatorial do país?"

Prossegue Aurélio Santos: "Nestes tempos, em que as formas de relação com o público são fundamentalmente estabelecidas por via mediática, vemos muitos casos de populismo fabricados «à pressão», com receitas de laboratório, e uma preparação de terreno a médio e longo prazo. De Color de Melo a Fujimoro abundam exemplos. Mas o processo de personalização do poder (de fulanização do poder político, como também já se lhe chamou) desenvolve-se também em larga escala nas chamadas «democracias ocidentais». O modelo político de bipolarização no poder em alternância de partidos com nomes diferentes mas aplicando uma mesma política, esvazia a representatividade democrática do seu conteúdo político, defraudando a representatividade eleitoral. A escolha apresentada aos eleitores não é já entre políticas diferentes, entre projectos de sociedade. Num esquema de fulanização política, parece só deixar ao eleitor a escolha entre os personagens «com possibilidade de ganhar» como gestores do sistema. E à medida que este esquema, com o distanciamento dos eleitores, perde o indispensável consenso social de que necessita para assegurar a estabilidade dos interesses instalados, cresce e fomenta-se a esperança num «líder carismático» que restabeleça o «diálogo com o povo» - para reforçar o poder dos grupos (ou classes) dominantes, evidentemente..."

Aurélio Santos conclui implicitamente que, em Portugal, com a previsível candidatura de Cavaco Silva, "os grupos e classes que recuperaram o poder económico, depois de destruírem a vertente económica e mutilarem a vertente social da democracia criada com o 25 de Abril, empenham-se agora no ataque à democracia política". Fica a questão se a profusão de candidaturas à esquerda, incluindo a do partido de Aurélio Santos, será a melhor forma de combater uma tal ameaça. E se tais candidaturas saberão disparar sobre o inimigo principal e comum e não umas sobre as outras... Luís Carvalho PRAVDA.Ru

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