Os fogos em Portugal

Todos os anos as cenas se repetem.

São milhares e milhares de hectares de matas queimadas.

São milhões de Euros de prejuízos.

É o gado e a caça morta.

Culturas derretidas pelo fogo.

Espécies florestais únicas devoradas pelas chamas.

Famílias que ficam, de um momento para o outro sem nada.

Mas pior que isto tudo, são já as muitas vidas que se tem perdido.

E todos os anos são o mesmo.

As desculpas são as habituais.

Já as sabemos de cor.

O clima. As altas temperaturas. Os incendiários.

Já cansa ouvir sempre o mesmo.

No ano seguinte, as coisas voltam ao habitual…

Não há um responsável.

Nem sequer se pedem responsabilidades.

O clima, as altas temperaturas e uns tantos incendiários – ou menores e, portanto, inimputáveis, ou dementes e inimputáveis também – fazem as honras e justificam, como pretende o poder político, urbi et orbi, as labaredas que nos incendeiam a terra e as almas.

Mas ninguém fala da falta dos meios aéreos.

Ninguém fala do verdadeiro escândalo de os meios aéreos envolvidos no combate às chamas, serem poucos, insuficientes e chegarem sempre tarde e a más horas.

Ninguém diz, por acaso, que em muitos e muitos anos de aluguer de aviões e helicópteros para combate aos incêndios já se gastaram tantos milhares de contos que dava para termos uma frota nossa, nacional, afecta 24 horas por dia, 365 dias por anos ao sistema de protecção civil.

Provavelmente até daria para ter aviões “pintados a ouro”, tantos os milhares de contos já gastos.

Ninguém diz que, caso tivéssemos uma frota nossa de combate a incêndios, o preço por hora de voo ficaria por menos de metade do que agora se paga.

Ninguém diz que, caso as corporações de bombeiros voluntários e aéro clubes fossem envolvidos nesta rede aérea, a hora de voo ainda ficaria mais barata.

E, se calhar, mais efectiva – MUITO MAIS EFECTIVA – da que agora existe.

Ninguém diz quem está a ganhar MILHÕES DE CONTOS com estes alugueres que, para além de serem insuficientes, custam rios de dinheiro e são feitos por firmas quase “fantasmas”.

Firmas com uma ou duas pessoas a trabalhar.

Ou seja;

Gastam-se rios de dinheiro e não se serve o País em condições, não se criam postos de trabalho….NADA!!!!!!!!!!!!!!!

Depois de se pagar, lá fora, ao dono dos aviões e helicópteros os custos do aluguer, o resto – que é muito - é dinheiro para o bolso!!!

Directo!!!!

E, entretanto, Portugal arde.

Mas também ninguém fala nos tais equipamentos para instalar nos C130 que dizem existir na Força Aérea há mais de cinco anos e que nunca foram instalados e que, até, provavelmente, já estarão inoperativos por abandono.

Porque não foram estes equipamentos instalados?

Esta atitude beneficiou a quem?

Aos alugadores de aviões e helicópteros, não foi??? Não é????

Ninguém é responsável nem há coragem política de responsabilizar ninguém.

Talvez porque alguns dos donos dessas empresas estão muito bem instalados ao nível do aparelho político-partidário, será?

Tenho um dedinho mindinho, pequenino e adivinhador que me diz que é…

Será?.

Ninguém abre o bico.

O silêncio é de ouro.

Os milhões voam dos cofres.

A ineficácia é total.

O País arde.

E ninguém venha dizer – para justificar os alugueres muito convenientes para alguns - que estes aviões e helicópteros eram um investimento caro e só utilizável durante o Verão.

Esses meios serviriam, numa rede bem montada de Protecção Civil, para, durante o resto do ano fazer o patrulhamento e vigilância das florestas, evacuar acidentados, fazer buscas e salvamentos, etc….

Nada que os outros países, alguns até bem mais pobres que nós, já não façam há muito tempo.

Mas se, quanto aos meios aéreos o panorama é este, que dizer do escândalo da compra dos veículos para patrulhamento das nossas florestas que, depois de comprados e de se terem gasto muitos milhares de contos, se chega à conclusão que não servem para patrulhar florestas por serem veículos citadinos.

Fiat Punto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E eu, que pensava que para patrulhar florestas, se utilizavam veículos de tracção às quatro rodas!!!

Que parvo sou!!!!

Está bom de ver que, para patrulhar as largas e boas avenidas existentes nas nossas florestas, o veículo ideal é o Fiat Punto, com ar condicionado, ABS e Cd’s palyer….NO MÍNIMO!!!!!

Quem se “lambeu” com o negócio?

Quem é o responsável por isto?

Também não é ninguém?

E que dizer do parque de viaturas de combate a incêndios dos nossos Corpos de Bombeiros?

Que dizer do facto de, a maior parte delas estar velha, cansada e “presa por arames”????

Que dizer do facto de que, quando o Estado vem dizer que ofereceu uma viatura a este ou aquele Corpo de Bombeiros, apenas comparticipou a mesma viatura com um máximo de comparticipação de 80% tendo a referida Corporação de arranjar os restantes 20%, através de peditórios, bailes de Carnaval, etc…

Sabendo nós que as Corporações de Bombeiros são constituídas por gente que de rica nada tem a não ser a riqueza da alma, se compreende porque muitas Corporações nem sequer se candidatam a uma viatura nova….

E que dizer da promiscuidade de gente ligada ao negócio da venda de material de combate a incêndios que é, simultaneamente, das Direcções ou dos Comandos de Corpos de Bombeiros?

Que dizer, também, do escândalo de – contrariando o próprio espírito da Lei e da “Separação de Poderes” , haver Directores que são simultaneamente Comandantes e Comandantes que são, simultaneamente, Directores de Corpos de Bombeiros?

Que dizer da criação ou autorização para a criação de Corpos de Bombeiros apenas para afirmar a força do poder político, fazendo crescer o número de Associações de Bombeiros sem justificação e tornando mais difícil, portanto, a coordenação.

E a coordenação dos Corpos de Bombeiros no teatro de operações que, por ser muitas das vezes um espectáculo de auto afirmação por parte de alguns, chega a ser uma cena deprimente?

E as indefinições entre os bombeiros sapadores, os bombeiros assalariados das Associações de Voluntários e os próprios voluntários, que ninguém quer resolver?

Isto passa-se em Portugal no ano da graça de 2004.

Não se passa em qualquer uma “República das Bananas” como possam estar a pensar!!!!

E que dizer da falta de limpeza das matas, da criação de aceiros, da criação de postos de abastecimento de água e de pistas de emergência nas matas do País?

E que dizer da falta de fiscalização e controlo?

Sei do que estou a falar.

Fui director de uma Associação de Bombeiros Voluntários durante muitos anos.

Era para não escrever nada sobre este tema por ele já me cansa e cria em mim uma raiva enorme por me sentir impotente perante este verdadeiro escândalo.

Mas acho que não me devo calar.

Acho que ninguém se deve calar.

Ao fim e ao cabo, por sermos cidadãos, somos todos responsáveis.

Ou andaremos todos a ser irresponsáveis, sem darmos por isso?

George

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