A psicose da pedofilia

Já tivemos o futebol e a Fátima, só falta agora o fado. Qual será o fado deste pequeno país, cujos líderes de opinião teimam em pensar em escala diminuta?

Visto por fora, Portugal é um paraíso. Tem um clima invejável, tem das melhores praias do mundo, uma excelente rede hoteleira, uma soberba gastronomia, excelentes vinhos e uma paisagem variadíssima e deslumbrante. à primeira vista, parece o Céu na terra.

Raspar o superfície, e o quê é que aparece? Mais nada, infelizmente. Um povo não inculto, mas não cultivado pelos seus líderes, um povo que nunca foi e continua a não ser ensinado ou instigado a pensar, inovar, criar.

O marketing da imagem de Portugal continua na mente da maioria, quer interna quer externamente, a ser limitado ao galo de Barcelos (que história tão absurda, um conto de bêbados) e ao campino, que sem dúvida gosta da pinga e do Benfica e parte os pratos em casa quando perde.

Uma imagem derrotista, de pequenez, de falta de orgulho, falta de incentivos, falta de planos, falta de iniciativa própria, uma obsessão com o passado e não o futuro, uma saudade patológica com o sebastianismo e não o modernismo. Num ano de dificuldade pontual económica, é preciso criar uma onda de confiança, de euforia. O que temos? Fátima Felgueiras e o saco azul e meia dúzia de cidadãos de destaque acusados de pedofilia com crianças da Casa Pia, isso para substituir as conversas de café sobre Paulo Portas e o caso Moderna.

Por lamentável que seja a corrupção e a falta de responsabilidade da classe política, por inaceitável que seja o abuso sexual de qualquer pessoa em geral e das crianças principalmente, ainda por cima estas, numa situação difícil e indefesa, cabe aos tribunais e ao sistema de justiça se pronunciarem sobre a culpabilidade dos réus (embora se possa colocar um ponto de interrogação sobre o alargado prazo da prisão preventiva para pessoas que até serem julgadas, gozam do rótulo de inocentes, por direito).

Em vez de estar a discutir a política, a falta de emprego, os sistemas de saúde e da educação, as pensões de miséria, o analfabetismo, o elevadíssimo custo de vida perante ordenados que seriam um insulto em qualquer outro país, vemos a sociedade portuguesa introspectiva, concentrando patologicamente no seu umbigo, questionando-se sobre quem será o próximo nome de peso a ser acusado de pedofilia.

É esse a soma das preocupações deste povo? Ao que parece de fora, é. E é pena, que na terra onde a Fátima dá esperança e fé a tantas centenas de milhar de pessoas, onde o FC Porto ganhou mais um trunfo para o futebol português, na terra que vai ser anfitrião da UEFA 2004 daqui a um ano, o fado não providencia nada mais relevante ou prestigiante.

Cabe ao governo estimular um clima de optimismo, um arrojado desejo de vencer, um marketing nacional que diz alguma coisa no mundo de hoje e cabe à oposição estimular um clima saudável de diálogo.

A sociedade portuguesa tem essas capacidades. Qual será o fado deste país se temia em não as utilizar?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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