O poder da palavra

Um belo exemplo do poder da imprensa e da palavra é providenciado em Portugal, onde alguns diários com mais circulação ganharam o hábito de referir aos imigrantes com termos xenófobos, pintando quadros negros e propagando uma imagem negativa que nem é digno das normas deontológicas do jornalismo nem vai de mãos dadas com a famosa hospitalidade dos portugueses.

Na sequência da manifestação da Plataforma das Associações dos Imigrantes em 20 de Março, quando se reuniram várias associações representativas para reclamar contra um sistema que cria uma espécie de escravatura para alguns dos cidadãos, têm aumentado em flecha as referências às origens de delinquentes ou perpetradores de crimes sempre que não são portugueses e mais recentemente, vinha o título num jornal de referência em Portugal, que os imigrantes aumentam a mendicidade infantil.

Mas não será por causa da política de imigração existente em Portugal, que essas crianças são excluídas do sistema educativo? Ou por causa desta política que os pais têm medo de perguntar a alguém quais os seus direitos por receio de serem expulsos? Ou mesmo que tentassem saber, todos nós sabemos como funcionam as coisas em Portugal relativamente à prestação de serviços: três semanas para instalar uma linha de telefone, um mês para ter um serviço de Internet, e por aí fora. Vamos testar o sistema, imaginando que somos pais ilegais procurando informações para nos guiar.

Um telefonema ao número do Gabinete da Secretaria do Estado da Administração Educativa, o primeiro número que aparece na lista, resulta em 23 toques sem resposta antes da chamada cair. Outra chamada à Secretaria Geral, o segundo número na lista, resulta em dez toques, depois uma linda voz a dar as boas-vindas ao Voice Mail, para a seguir declarar que não pode receber mensagens por Voice Mail por ser uma linha gratuita, agradecer a chamada e depois…cai a ligação.

Uma espécie eletrónica de mandar uma bujarda na cara, insultar minha mãe e desligar.

Voltando ao assunto em foco… por quê é que esses “jornais” da imprensa “livre” referem a origem do criminoso quando é imigrante e não quando é português? Não se lê “Mulher de origem portuguesa assassina filha, esquarteja-a e a enterra na Espanha”. Se fosse cabo-verdiana, imaginem!

Baste ser meio português, meio estrangeiro, para ser rotulado como “luso-brasileiro” se cometer um crime mas se ganhar um prémio internacional de publicidade, nem se menciona a parte brasileira. É cá dos nossos, como a bagaceira.

Falando em bagaço, este tipo de reportagem cria um clima de xenofobismo que não é português, que vai contra o bom trabalho por muitos portugueses que sentem os problemas dos imigrantes e tentam resolvê-los, contra a grande vontade de tanta gente que dão seu tempo gratuitamente, trabalhando em organizações voluntárias para ajudar os menos protegidos.

Mais grave, demonstra o pior que há em Portugal, nomeadamente a existência de meia dúzia de cagões cuja pequenez em termos de pensamento e estupidez intelectual, aliado a um índice cultural de menos seis, é tão baixo em termos de valores humanos que chega a contaminar o muito que há de bom neste país.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X