Obter um visto em Portugal

Se as autoridades portuguesas acham que os imigrantes são bem tratados pelo Serviço de Estrangeiras e Fronteiras, seria melhor visitar os locais onde os imigrantes estão atendidos.

Vamos tomar por exemplo o edifício da SEF na Rua Eduardo Galhardo em Lisboa. Já às nove horas da manhã a fila é interminável e o tempo de espera, ao sol, é um mínimo de três horas, só para entrar no edifício, onde a espera é de mais duas ou três. Um dia de trabalho perdido só para receber uma senha para marcar a data da renovação do visto de permanência.

Há mais: quem não for aos centros da SEF dez dias antes do visto terminar para marcar este encontro é multado. O pior é que as pessoas não são informadas e na maior parte das vezes, sabem das regras através de boatos.

Não é só nos edifícios da SEF que os imigrantes são mal tratados pelas autoridades portuguesas. Um jornalista da Pravda.Ru assistiu a um incidente em primeira mão no aeroporto de Lisboa em Janeiro que o deixou de boca aberta. Estava de regresso a Portugal, viajando com uma amiga africana, que foi retida pela alfândega.

O jornalista ficou por perto para ver como era tratada a amiga. Revistaram-lhe a mala de roupa, retiraram tudo, mexeram nas roupas interiores, revistaram a bolsa de mão e mandaram-na despir-se, antes duma examinação íntima feita por uma funcionária. Esta professora duma escola primária saiu a chorar e disse que queria voltar atrás, jurando nunca mais colocar um pé em Portugal, país que veio visitar de férias. Tão traumatizada ficou, que nunca saiu da minha casa, regressando a Cabo Verde uma semana depois sem ter visto nada do programa interessante que eu tinha desenhado.

Este jornalista fui eu. A partir de hoje, será o meu prazer receber, investigar e publicar quaisquer reclamações de qualquer imigrante em Portugal. Basta enviar a reclamação a [email protected], devidamente documentado com hora, data, nomes, sitio e pormenores sobre a reclamação.

Em Portugal, há uma frase que se usa neste tipo de situação: quem não está bem, muda-se, fruto duma arrogância e estupidez que caracteriza quem a usa. Se há imigrantes em Portugal, há também emigrantes portugueses no estrangeiro e há que lembrar às autoridades que o imigrante não é filho do Diabo, é um ser humano que está a tentar melhorar a sua vida através duma troca honesta: trabalho por dinheiro.

Já basta a exploração e hostilidade com que muitos são recebidos no país que se preza em ser hospitaleiro. “Há aqui pretos?” foi como um amigo meu foi recebido numa aldeia no interior do país. “O quê é que esta puta vem por aí a fazer?” foi como uma amiga angolana foi recebida numa esquadra de polícia quando foi fazer uma reclamação. "Ladrões de merda, vão para a sua terra, seus cabrões", foi a recepção dum grupo de professores e engenheiros da Ucrânia quando entraram num autocarro fretado pela Pravda.Ru para irem visitar pontos de turismo em Lisboa.

Hospitaleiro? Se hospitalidade é fazer as pessoas estar em pé durante três horas ao sol arrasador e perder um dia de trabalho para depois perder outro daqui a uns meses, acho bem as autoridades pensarem muito seriamente se queriam que os emigrantes portugueses fossem tratados da mesma maneira.

Há muito por fazer e muito por melhorar, embora deve dizer-se que nos últimos 20 anos, se viu muitas melhorias, principalmente no atendimento público e na organização dos serviços da SEF.

Porém, reina ainda um ódio e desprezo subjacente no atendimento do imigrante em Portugal, com uma arrogância que descreve normalmente a pequenez do indivíduo inadequado, totalmente desajustado para desempenhar funções de relações humanas.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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