Justiça Infinita

Se a geografia serve para fazer a guerra, como alguém disse, compreende-se a escolha da mesopotâmia para começar o ataque do Império. Da mesma forma que a geografia escolheu o berço da civilização no cruzamento babilónico, reunião única de três continentes, assim os estrategas fundamentalistas americanos, encontraram cientificamente o fulcro da sua selvática iniciativa. O facínora do Saddam, cleptocrata de serviço e opressor sem nome dos povos da região, serve para nos fazer desviar a atenção das causas desta guerra. O petróleo, a construção do império, a falta de respeito pelo direito.

Da primeira causa é óbvia: o modo de vida americano, consumidor irrealista e anti-ambientalista de energias fósseis, apoia os AliBaba do petróleo, para seu próprio conforto à custa do resto do mundo. A crise desse sistema, vem visível do abrandamento simultâneo das três maiores economias do mundo, pode ser resolvida se mudarmos de vida ou aplicando, ainda outra vez, a mesma receita, a saber a privatização dos serviços públicos. Neste caso as forças armadas americanas, colocadas ao serviço dos interesses particulares que suportam a administração amoral do Bush.

A construção do império e a saída da crise económica está a fazer-se através da rentabilização do sector militar, onde os EEUU investiram, no ano passado, o equivalente a todo orçamento brasileiro. Este ano trata-se de fazer pagar aos países petrolíferos e aos consumidores de produtos derivados do petróleo a factura de tais investimentos, acrescidos dos respectivos lucros: é o saque de guerra. Como qualquer outro investimento empresarial, novas aplicações já estão previstas, nos diversos países do eixo do mal.

E como foi possível chegarmos à actual situação? A respeito do Hitler chegou a explicar-se que tudo se ficou a dever a uma mutilação dos órgãos genitais, o que por sua vez lhe teria subida à cabeça e foi o que se viu. Neste caso também se fala da imbecilidade do presidente, como se falou da loucura de Nero. Tudo serve para não se falar das nossas culpas colectivas na matéria. Porém, há que explicar como é que o nosso primeiro-ministro, em bicos dos pés, se tentou misturar, com respeitinho, com os grandes do pior dos mundos possível. Como é possível que gente religiosa, de países tradicionalmente religiosos, tenham negado a sua própria fé, tão proclamada para outras finalidades, para apoiar o Império, quando todas as religiões do mundo se manifestaram intensamente contra esta guerra?

A moral subiu-lhes à cabeça! Imaginam-se a si próprios inspirados, acima da lei, nacional ou internacional, entendem-se com direito de vida e de morte sobre cada pessoa, como no Texas, e sobre toda a humanidade. A ideia de matar Deus não é, na fé fundamentalista de Bush e Companhia, uma metáfora positivista contra ideologias teocráticas. É um cinismo próprio de empresários que não olham a meios para atingirem os seus lucros, tal e qual Chaplin mimou o Fuhrer.

Que as manifestações contra a guerra não sejam só para lançar culpas contra a Casa Branca mas sejam também uma tomada de consciência que muitos de nós, quando pedimos justiça infinita para os problemas do nosso quotidiano, ou quando aspiramos a ter mais do que os outros sem olhar a meios, estamos a recriar as condições que permitiram que a democracia americana produzisse tal monstro. E a portuguesa ...

António Pedro Dores Portugal

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