Personalidade da Semana: Joaquim Chissano

Medir a diferença entre o Moçambique de 1986 e de 2005, respectivamente quando Joaquim Chissano substituiu Samora Machel e entregou as rédeas de governo a Armando Guebuza, demonstra claramente o considerável contributo do segundo Presidente de Moçambique ao seu país, à região, ao seu continente e à comunidade internacional.

Tendo nascido em 22 de Outubro de 1939, em Chibuto, Gaza, Joaquim Chissano estudou no Liceu Salazar em Lourenço Marques (Maputo), seguindo para Lisboa para estudar Medicina. No entanto, devido à sua afiliação no movimento de independência, teve de deixar Portugal e ir a Poitiers, França, onde leccionou em Direito e Ciências Políticas, antes de mudar para Uppsala, Suécia.

Depois de fundar a União Nacional de Estudantes Moçambicanos, Joaquim Chissano se juntou à Frente de Liberação de Moçambique (FRELIMO) em 1962, onde deteve várias posições, tais como Director de Educação (1963-1966), Secretário à Presidência (1966-1969), Responsável pela Defesa (1964-1974) e representante da FRELIMO na Tanzânia (1969-1974). Em 1968, se tornou Membro da Comissão Executiva da FRELIMO e de 1973 a 1974, na véspera da Independência, foi responsável pelos programas de formação.

Primeiro-ministro durante o processo de transição para a Independência (25 de Junho de 1975), Joaquim Chissano se tornou o primeiro Ministro de Negócios Estrangeiros de Moçambique, posição ao qual acumulou a Presidência em 18 de Outubro de 1986, depois da morte de Samora Machel dum desastre de aviação, Presidência da FRELIMO e Chefe das Forças Armadas.

Diplomata com raras capacidades, Presidente Chissano manteve laços próximos com o Bloco Soviético mas ao mesmo tempo abriu as relações com o mundo ocidental e assinou um acordo de não agressão com África do Sul. A transformação do Bloco Soviético em 1989 foi reflectida no Moçambique de Chissano, que assinou o protocolo em que FRELIMO deixou de seguir a linha marxista-leninista (Julho de 1989), assinando outro em Agosto de 1990 que abriu o país a um sistema pluri-partidário, o ciclo completando-se em Novembro de 1990, quando a República Popular de Moçambique se tornou, simplesmente, a República de Moçambique.

A década dos anos 90 foi dedicada à paz a à terminação da sangrenta guerra civil, que ceifou as vidas de cerca de um milhão de pessoas. Em 4 de Outubro de 1992, o Acordo de Paz de Roma foi assinado por Joaquim Chissano, da FRELIMO e Afonso Dhlakama, da RENAMO, construindo os alicerces do Estado de Moçambique moderno.

As primeiras eleições democráticas na história do país tiveram lugar entre 27 e 29 de Outubro de 1994, sendo ganhos por Joaquim Chissano e pela FRELIMO, resultado que foi repetido em Dezembro de 1999 e outra vez em Dezembro de 2004.

Presidente Chissano guiou seu país das profundezas do desespero, no meio da guerra civil e gravíssimos problemas sociais, implantando o estado em vastas zonas do seu país, onde não existia, construindo as infra-estruturas de Moçambique, facilitando a implantação do país na CPLP e na Comunidade britânica, enquanto prosseguia políticas mais latas a nível continental.

Como Vice-Presidente (1999) e depois Presidente (2000) da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Joaquim Chissano teve um papel fundamental no processo de paz da RD Congo antes de ser eleito o primeiro Presidente da União Africana em 2003.

Presidente Chissano fez uma importante contribuição na luta contra a SIDA e será lembrado por ter sido capaz de trazer paz, segurança e desenvolvimento sustentável a uma região onde as vidas de dezenas de milhões de pessoas beneficiaram devido aos seus poderes consideráveis de persuasão e organização na senda da sua carreira ao serviço público do seu país, da sua região, do seu continente e da comunidade internacional.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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