O preço de cada um

As palavras não são minhas, são de Pedro Simon, senador e herdeiro dos grandes ideais libertários dos pampas gaúchos: “Quando o governo Lula chegou ao poder, acreditamos que o balcão de negociatas instalado no Congresso havia sido fechado... mas o que se vê é que agora ele está em pleno funcionamento, só comparável tamanho movimento com a época da compra da reeleição do Fernando Henrique”.

Ricardo Kotscho e Frei Beto - os antigos e verdadeiros companheiros de Lula - vendo naufragado o grande ideal petista, abandonaram a barca corrompida e corroída pela usura do poder, e deixaram o mar da injustiça aberto para navegar além fronteiras a barca estrelada, seguindo as determinações do timoneiro Luis Inácio.

A prefeita de São Paulo atribuiu ao governo Lula a grande responsabilidade pelo seu suplício eleitoral no último pleito. Carlos Lessa, depois de fazer piquete contra a política entreguista do poder central, foi alijado do governo que não comporta os que são autênticos, verdadeiros em suas convicções. João Pedro Stedile e todo MST já começam a colocar as cartas na mesa, na CUT, outro braço de Lula, a grita por mais abafada que seja, já ressoa aqui e ali. É a falência moral do grande sonho nacional.

Agora vem a constatação vergonhosa do governo que não é dos trabalhadores, estampada nas páginas dos jornais: “depois de pressionado pelo PMDB – veja só isso – Lula promete estudar alternativas para o aumento do salário mínimo em 2005”. Não dá nem para acreditar. Quem votou no Lula, votou realmente na mudança. Primeiro, foi o vice-presidente da República, José Alencar, do PL mineiro, tendo e exigindo posições mais progressistas do governo eleito com um discurso de esquerda. Agora, o PMDB que apoiou a continuação do governo de FHC. Lula realmente foi eleito para mudar: de lado, de convicções. Não tem razão nenhuma para Lula, PT e asseclas manterem um governo assim, feito de poucos para muito poucos.

E se fosse só isso... dentro do próprio PT, já começa a ser implantada a política do toma lá-dá-cá, com correligionários do Partido dos Trabalhadores pedindo por mudanças e, ainda assim, seguindo cabisbaixos os caminhos traçados pelo governo. Como eles conseguem isso?! Bom, cada liderança do partido mantém seus indicados no governo federal. E aí, quando alguém quer falar o que pensa, o governo acende a luz vermelha e diz que ele está ali não para pensar, mas para votar. E no final, todos se confraternizam depois de assistiram ao enterro de nossa última quimera.

De negociata em negociata, assim vai indo o governo do companheiro Lula, um governo igual ou pior que todos os outros. Não posso deixar de lembrar da canção que embalou o hit-parede de outrora, aquela que dizia assim: “Luis Inácio avisou: são 300 picaretas com anel de doutor”. Falta perguntar ao Lula, quantos seriam hoje.

Petrônio Souza Gonçalves jornalista e escritor

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