A Semana Revista

Terrorismo internacional

Na semana anterior às eleições na Chechénia, dois aviões russos caírem em circunstâncias suspeitas. Se bem que não é a tradição da imprensa russa especular sobre o que poderia ter acontecido, e focar naquilo que de facto aconteceu, o que às vezes traz críticas da imprensa internacional que teima em pensar que quem fala primeiro tem o dom da verdade, a ideia que o terrorismo internacional foi um factor comum nos dois acidentes é um fio constante.

No entanto, há que ter todo o cuidado em relatar o que aconteceu, pois não se pode acusar de fazer coisas que não fizeram entidades que são inocentes. As primeiras investigações apontam para a existência de hexogen num dos destroços. Hexogen já foi encontrado em outras ocasiões de atrocidades terroristas perpetrados pelos extremistas chechenos, mas hexogen também pode ser misturado com outras substâncias explosivas fabricadas por exemplo no estrangeiro.

Terá sido os chechenos? Ou terá sido outra entidade a tentar denegrir a imagem dos árabes e dos muçulmanos, que teria tudo a ganhar com isso? Por isso há que ter todo o cuidado no exercício de jornalismo e não criar correntes de opinião subjectivos.

Como temos dito desde o início deste horrível incidente e como iremos sempre dizer enquanto eu for director e chefe de redacção desde jornal, há que esperar, há que saber esperar pelos resultados devidamente autenticados pelas autoridades e depois se pronunciar. É a diferença entre ser Jornalista e um fala-barato lacaio de Washington que simplesmente repete aquilo que os “barões” lhe dizem para repetir.

A verdade é que os e-mails destes nunca estão cheios de ameaças de morte…

VITÓRIA PARA O IRAQUE

Problemas iraquianos resolvidos por iraquianos

A primeira grande vitória para o Iraque e para o povo iraquiano registou-se ontem com o sucesso nas negociações entre o Grande Ayatollah Ali al Sistani e Moqtada al Sadr, na cidade cercada de Najaf.

Após três semanas de lutas intensas entre o Exército Mehdi de al Sadr, as Forças Armadas dos Estados Unidos da América e as Forças Armadas Iraquianas, que deixou centenas de pessoas mortas ou feridas, al Sistani conseguiu persuadir as forças shiitas leais a Moqtada al Sadr a abandonar suas armas, ganhando em retorno passagem livre da cidade, liberdade para al Sadr, compensação para as vítimas da violência, o retiro dos tropas estrangeiros da cidade, a substituição das forças norte-americanas pelos polícias iraquianas como guardiães de paz, lei e ordem, uma declaração que a cidade santa é uma cidade livre de armamento e o compromisso de efectuar um censo antes das eleições.

Testemunhos oculares declararam que a entrega das armas está a ser feita de forma informal, com muitos membros das milícia a levar as suas armas para casa em sacos de plástico e outros a esconderem suas armas mais pesadas em casas particulares.

Fundamentalmente, os “rebeldes” ganharam tudo o que queriam e se isso é uma vitória para Iraque e para o povo iraquiano, também é uma derrota para os Estados Unidos da América, que tem de começar a aceitar que apesar do seu aparato militar e os centenas de bilhões de dólares que gastou na sua campanha assassina e desastrosa no Iraque, não tem a capacidade de quebrar a vontade de lutadores determinados a manter sua liberdade contra um invasor estrangeiro, com pouco mais que armas de mão no seu arsenal.

O facto que os soldados norte-americanos estavam em Najaf a tentar prender al Sadr perto da Mesquita do Imam Ali, um dos sítios mais santos para os Shiitas, é mais um exemplo da cega arrogância que acompanha Washington onde quer que coloque seus pés fora dos confins dos EUA.

Basicamente, Washington perdeu o fio do jogo numa região que desconhece totalmente e nunca entendeu, numa cultura alheia e num país que nunca deveria ter invadido.

O resultado deste acordo entre al Sistani e al Sadr é que as forças armadas dos EUA falharam rotundamente o seu objectivo, de prender o último, e deixam a cidade com o rabo entre as pernas com o Departamento de Estado em Washington a declarar que nem percebe todos os pontos do acordo de paz.

Uma vitória para o Iraque, problemas iraquianos resolvidos por iraquianos com as forças assassinas de Washington a bater uma retirada forçada for elementos estrangeiros. Um bom epitáfio para a política externa de George W. Bush e o clique de elitistas corporativos que gravitam a volta de Washington e que ditam a política externa deste, como a República de Bananas terceiro-mundista que Bush fez dos Estados Unidos da América.

A POLÍTICA EXTERNA TENDENCIOSA DE WASHINGTON

Washington é pro-Israel e anti-árabe, sejam quais forem suas desculpas e justificações da política externa

Há um velho ditado que diz “Mostre-me os teus amigos e eu digo-te quem és”. Relativamente a Washington, só se tem de dar uma olhada para Israel para ver que a política externa imperiosa dos Estados Unidos da América, supostamente baseada em princípios de liberdade e democracia, é uma farsa, uma palhaçada e uma montanha de mentiras desde o princípio até ao fim.

O diário duma professora palestiniana, Wafa Abu Shmais, publicado online pelo Couples Company, editado por Nancy Horn e com comentários adicionais por Laura Dawn Lewis, providencia uma visão chocante da crueldade e brutalidade do estado de Israel, um estado que Washington defende cegamente, enquanto simultaneamente chacina árabes em campanhas baseadas em mentiras e tortura prisioneiros árabes detidos ilegalmente em condições chocantes e desumanas.

Soldados na Minha Casa é o título do diário da professora de inglês, Wafa Abu Shmais, mãe de quatro crianças, um diário que conta a história da invasão de Nablus em Abril de 2002 e o massacre em Jenin, em que casas cheias de civis aterrorizados, a gritarem histericamente, apavorados, foram deitadas abaixo por bulldozers D9 de Israel.

Na Quarta-feira dia 3 de Abril de 2002, lembra Wafa, helicópteros Apache vendidos pelos Estados Unidos da América a Israel, foram utilizados para atacar residências civis com mísseis na cidade palestiniana de Nablus, onde o primeiro alvo das forças armadas de Israel foi o fornecimento de electricidade à população (tal como os Estados Unidos da América escolheram como alvos os sistemas de fornecimento de água, de electricidade e de gás e a rede sanitária no Iraque…excelentes alvos militares, grandes ameaças às forças invasoras assassinas de Washington).

Na manhã seguinte, Wafa dá um exemplo típico do tipo de tratamento dado pela IDF (Força de Defesa de Israel), o protegido de Washington, à população palestiniana que vive nos seus territórios, nas suas casas. “Os ocupantes foram instruídos a saírem das suas casas com as mãos no ar e deram-lhes até dez segundos. Nós conseguíamos ouvir o soldado a contar, 10, 9, 8 e quando ele chegou a 1, todo o inferno eclodiu de repente, caíram obus de todos os lados, cheirava-se dinamite e poeira”.

A política adoptada pelo IDF foi uma de total desrespeito pelos civis e uma de total desprezo pela vida humana, seja esta a vida dum adulto masculino palestiniano, duma mulher, duma criança ou dum bebé recém-nascido. Deitaram-se abaixo residências familiares por bulldozers, arbitrariamente, deram às famílias dez segundos para saírem, só que também não era bem assim, como vamos ver. Outras casas foram atacadas com hardware militar fornecido ao estado de Israel pelos Estados Unidos da América.

Não é esta uma versão suspeita por uma fonte mentirosa. Moshe Nissi, israelita, operador dum bulldozer D9 durante o massacre de Jenin, fala abertamente acerca do seu comportamento, como se fosse da maior naturalidade e como se fosso orgulhoso: “Para deitar abaixo uma casa, destruí algumas mais. Os residentes foram avisados por altifalante para saírem da casa antes de eu vir, mas não dei hipótese a ninguém sair porque não esperei”. Estava bêbado.

Como pode Washington defender a política agressiva e assassina de Israel, que continua hoje o que sempre praticou na sua ocupação ilegal das terras palestinianas, no seu desrespeito bradante para a lei internacional, na sua construção dum estado apartheid, no uso de equipamento militar contra alvos civis, na sua construção de colonatos em terras roubadas e que recusa a devolver aos verdadeiros donos?

Mas também, Washington, a Rainha dos Mentirosos, quer lá saber. O quê é que se pode esperar dum país que baseia um acto chocante de chacina em mentiras, que deita bombas de fragmentação em áreas civis, que massacra dezenas de milhares de pessoas inocentes, perpetra os actos mais bárbaros de tortura vistos desde Auschwitz e Dachau e depois tenta justificar as suas acções reclamando que fez a coisa justa e que o mundo está melhor como resultado?

A segunda Guerra Mundial foi travada e perderam-se milhões de vidas, incluindo as de seis milhões de judeus, para que este tipo de comportamento nunca mais poderia acontecer. Senhores Bush e Sharon, juntos, conseguiram denegrir a memória colectiva destes muitos milhões de pessoas que sacrificaram as suas vidas para tornar o mundo num sítio melhor e mais decente.

Voltamos ao roubo de territórios, a actos de tortura, de falta de respeito pela lei, actos de chacina, violação, estupro institucional. E George W. Bush está a pensar em candidatar-se para a re-eleição? Não deveria estar num tribunal ou num manicómio? Ou pelo menos, num hospício para diminuídos mentais.

ENTREVISTA COM TIMOTHY BANCROFT-HINCHEY

Aprendi que o mundo é uma aldeia e que somos todos irmãos

Melton Nascimento é jornalista freelancer, baseado em Rio de Janeiro. Apresentamos a transcrição da sua entrevista com Timothy Bancroft-Hinchey, Director e Chefe de Redacção da versão portuguesa da PRAVDA.Ru, em 21 de Agosto de 2004, em Rio de Janeiro.

Pergunta: Como acha o Brasil?

Timothy Bancroft-Hinchey (TBH): Eu não acho o Brasil, o avião é que me leva para cá. (Risos). Desculpe, estou a brincar e você está tentando fazer uma entrevista séria. De facto, eu devo dizer que não conheço o Brasil, vou conhecendo, e do pouco que conheço, gosto cada vez mais.

Pergunta: Já cá esteve muitas vezes?

TBH: Não, estive cá três vezes, um total de sensivelmente 30 dias. Estive em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador de Baia, Recife, Natal, Fortaleza, e algumas vilas e aldeias em Ceará, que conheço melhor, talvez.

Pergunta: E qual foi o lugar que preferiu?

TBH: Todos e nenhuns… porque dizer que um é predilecto, seria denegrir a imagem dos outros. Estou apaixonado pela maresia em Fortaleza e pela história de Iracema, de José de Alencar, acho São Paulo interessante e acho que a Mãe Natureza foi muito exagerada com o Rio. Bolas, não é justo dar tanta beleza a uma cidade, parece o Paraíso, lindíssima cidade.

Pergunta: E acha que conhece a realidade do Brasil?

TBH: Quem conhece essa realidade? Eu não vou ser pretensioso e não vou fingir que sei coisas que sei que não sei. No entanto, qual é a realidade do Brasil? Será aquela realidade acerca da qual todos falam?

Dos sem terra, dos sem casa, dos meninos da rua, das favelas, da Amazónia? Essas são temas que a imprensa internacional gosta de pegar e examinar sem muitas vezes aperceber daquilo que está a dizer.

Eu não conheço o Brasil, mas estive em várias casas particulares, falei com várias famílias, fiquei com elas até, já passei um Natal no Brasil, com brasileiros, estive em favelas, falei com os sem casa e sem terra, alguns, falei com padres, falei com bêbados, com drogados, com advogados, com engenheiros, com pessoas do campo, com empregadas domésticas e de escritório e não foi esse Brasil que eu vi, nem que eu vejo.

Eu não vejo o Brasil em termos de constantes problemas que os estrangeiros gostam de apontar. Vejo alguns problemas, claro, até vejo muitas problemas mas em geral, o Brasil é um país que está a afirmar-se, que está a crescer, que finalmente está a assumir seu lugar no palco internacional, está a desenvolver um papel cada vez mais crescente dentro da CPLP e está a desenvolver laços cada vez mais estreitos com a Federação Russa.

Pergunta: O Timothy é russo?

TBH: Não, sou produto de várias nacionalidades e sou duma daquelas famílias que nasceram um pouco por toda a parte, mistura de quatro nacionalidades diferentes…mas trabalho com russos e a Rússia há muitos anos. Por exemplo, trabalho diariamente com russos no meu escritório em Lisboa e estou em contacto com Moscovo talvez 30 ou 40 vezes por dia, todos os dias, e recebo muitos russos em Lisboa, onde eu moro, por isso…vou ganhando algum calo.

Pergunta: Fala russo?

TBH: Como falo português, não. Tenho 25 anos de Portugal , PALOPS e agora o Brasil, mas sei algum russo e estudo todos os dias um pouco para melhorar mais ainda.

(Como fosse de propósito, Timothy atende uma chamada no telefone celular em russo e parece fluente)

Pergunta: Aquilo era russo? O senhor fala muito bem.

TBH: Isso porque você não percebeu o que estava dizendo. OK sei falar russo mas meu português é melhor.

Pergunta: Quantas línguas fala?

TBH: Bem, falar bem é uma coisa, português e inglês, russo mais ou menos. Já falei francês e castelhano, alemão, já esqueci mas sei ler, compreendo o italiano, romeno, um pouco de albanês, holandês e Afrikaans.

Pergunta: Puxa! Comunicar é consigo!

TBH: Comunicar é a palavra que mais gosto. Somos todos cidadãos duma aldeia global, somos todos irmãos que vivem à volta dum grande lago, chamado o Oceano. Temos de comunicar uns com os outros para sabermos quais as necessidades e para ajudarmos uns aos outros.

Pergunta: Acha que a Rússia está numa posição de ajudar o mundo?

TBH: A Federação Russa é uma nação que evoluiu da União Soviética. Os primeiros objectivos do Comunismo logrados a cem por cento, nomeadamente o desenvolvimento duma sociedade medieval numa primeira linha de desenvolvimento sócio-económico, científico e cultural em duas gerações, fez com que outro modelo fosse experimentado e penso, aliás, sinto, que a maioria dos russos estão satisfeitos com aquilo que têm hoje, embora o PIB de hoje seja sensivelmente metade daquilo que era no final da URSS.

A Federação Russa segue a mesma linha em termos de política externa que seguia a URSS, nomeadamente a procura da paz e de fraternidade, o respeito pela lei internacional.

Como se vê e como sempre se viu, o grande inimigo deste estado de existência é Washington, os Estados Unidos da América, que acaba de fazer mais um acto de chacina em grande escala e que tenta justificar aquilo que fez com frases do tipo “O mundo este melhor”.

Pergunta: E não está?

TBH: Como? Quando há numa aldeia um homem que bebe e que bate na mulher e quando um dia o vizinho decide pegar fogo à casa do bêbado, matá-lo, matar suas crianças, seu cachorro, destruir totalmente sua horta, vender sua casa ao irmão por um preço de bagatela e violar sua mulher…se pode dizer que as coisas estão melhor?

Pergunta: Soluções para o futuro?

TBH: Para o Brasil, continuar a trabalhar. O Brasil é um país sério, está cheio de boa gente, de pessoas competentes e não aceito que o Brasil é aquela espelunca de que falam os estrangeiros, é um grande país, tem problemas e está a resolvê-los. Problemas brasileiros, resolvidos por brasileiros. Assim é bonito. O brasileiro não é estúpido.

Basta da porcaria de histórias nos jornais acerca da internacionalização do Amazonas. Que disparate. Amazónia é brasileira, foi sempre brasileira e sempre será.

Ninguém vence o Brasil, nem na bola nem em nada, quando o brasileiro começa a pensar a sério, aí, esse país assume o tamanho de continente. Cresce, respira, se assume.

Pergunta: Uma pergunta final…gostaria de viver no Brasil?

TBH: Já tenho cá um pé e vou voltando cada vez mais. Estou liderando um grupo de investimento da Federação Russa no Brasil e estou investigando várias áreas de colaboração. A Rússia gosta do Brasil, aliás quem não gosta?

Pergunta: Os portugueses?

TBH: Não, deixe lá esses coitados, eles nem sabem daquilo que gostam, nem deles próprios gostam, estão sempre a queixar de tudo mas afinal não fazem mal a ninguém.

Pergunta: Mas o Timothy tem sido duro contra a política de imigração deles.

TBH: Com certeza, e continuarei sempre a vigiar, mas lembre que há muitos portugueses que pensam como eu e que trabalham voluntariamente para que o fascismo e estupidez institucional perante os membros do antigo “império português” seja atenuada e que os portugueses comecem a assumir o facto que há muito mais portugueses emigrantes do que imigrantes em Portugal.

Se o Brasil começasse a tratar os portugueses como eles tratam os brasileiros…

Pergunta: Uma palavra final?

TBH: Um abraço para todos os brasileiros. Vos amo, do fundo do meu coração. Levantem esse país, se juntem e tenham orgulho nas vossas comunidades e cidades. Não vão pela via mais fácil, lutem para progredirem e atingirem a verdadeira justiça social.

Melton Nascimento: Muito obrigado

TBH: O prazer foi meu. Quero é uma cópia disso para meu jornal.

QUO VADIS, PORTUGAL?

Uma análise após 18 anos na União Europeia

Quando o Primeiro-Ministro Mário Soares anunciou no início da década dos anos 1980, que os portugueses tinham de “apertar o cinto” se queriam entrar na então chamada Comunidade Económica Europeia, a população em geral encarou este sacrifício como um investimento no futuro.

Depois de quase vinte anos como membro do “clube da elite” muitos foram os sucessos mas muitos também são os desafios, que poderão servir de exemplo para os novos países membros e para os membros futuros da União Europeia.

Quem olha para as cifras leva um balde cheio de pessimismo por cima da cabeça. Se Portugal estava bem implantado em 15º lugar da Europa dos 15, meses depois da adesão dos novos dez membros, já conseguiu deslizar-se para 17º lugar em termos de salário (uma média de 1. 125 € por mês) e também em termos de poder de compra, igual à Malta e atrás de Grécia e Chipre.

Quanto ao desemprego, Portugal ocupa o 15º lugar dos 25, com uma taxa de 6,2% mas entre a população mais jovem, da faixa etária dos 15 aos 24 anos, a taxa é o dobro (13,6%), colocando o país em 18º lugar.

Em relação aos outros países da EU, os portugueses estão entre os mais sacrificados, trabalhando uma média de 40,1 horas por semana, representando o 9º lugar, enquanto os preços nos supermercados estão entre os mais altos.

Em fim, trabalhar mais, receber menos, ter menor poder de compra e ver o país a descer anualmente na tabela classificativa da “primeira liga”, da qual Portugal só não fica despromovido se houver um constante aumento de “clubes” menores.

No entanto, Portugal tem inegáveis qualidades, que proporcionaram a sua independência como estado. Por qualquer razão Portugal é um estado independente e Escócia não, nem Catalunha.

Comparando o Portugal de 1986 (altura da adesão à CEE) com o Portugal de hoje, a enorme divisão entre cidade e campo desapareceu com a substancial melhoria das redes de auto-estradas e de transportes públicos. Quando há 20 anos levava quase um dia de viagem tortuosa para chegar a alguns lugares do interior, hoje em dia se faz em poucas horas.

Chegado lá, há duas décadas se recebia uma verdadeira lição de história, pois em alguns casos o estilo de vida era igual e inalterado há centenas de anos. Hoje em dia, não. Poucas são as aldeias que não têm electricidade (e a subsequente invasão de electrodomésticos, facilitando a vida das pessoas e trazendo aquele grande comunicador, a televisão), poucas são as aldeias que não têm redes telefónicas, de saneamento ou de abastecimento de água.

Com este nivelamento de estilos de vida e com a melhoria dos meios de transportação, veio a possibilidade de deslocação. As pessoas do interior podiam vir para as cidades trabalhar e as pessoas nas cidades podiam visitar seus familiares na “província” com mais frequência, estabelecendo laços comerciais mais facilmente e criando as condições para um desenvolvimento das áreas mais desfavorecidas.

No entanto, com tanta melhoria, o que falhou? A resposta é muito simples: ausência de capacidade de liderança política, o que quer dizer também incompetência e falta de planeamento. Perguntar a um português o que quer dizer “ordenamento do território” provoca normalmente um encolher dos ombros.

Quer dizer “planeamento do espaço nacional”. Para fazer planos, é preciso organização e para organização é preciso comunicação e é precisamente aqui onde Portugal tem falhado rotunda e completamente.

Para fazer um plano nacional, é preciso envolver todos os sectores – privado e público, governo e municípios, associações de residentes e classe empresarial. Para organizar, é preciso formular uma estrutura que abrange mais do que os próximos quatro anos (a vida dum parlamento). Para comunicar, é preciso ter uma atitude democrática.

Infelizmente, colectivamente, a classe governativa de Portugal não tem nenhum destes atributos. A meta é vencer as próximas eleições, colocar os amigos e familiares em lugares de destaque e tentar aproveitar ao máximo da posição, mantendo em aberto sempre um lugar profissional com um salário bem acima da média para tempos de travessia do deserto político.

Por isso e com esse cenário em vigor, não faz sentido comunicar com aqueles que estão fora do mesmo círculo político. Sem comunicação, não há organização e sem organização, não há plano.

Talvez por aí Portugal possa servir de exemplo para os novos estados membros a Leste, exemplo a não seguir. Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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