P-SOL sobre Eleições Municipais

Aqui vão alguns elementos iniciais para debatermos e um primeiro levantamento (em anexo) dos resultados eleitorais em relação a 126 cidades do país.

1.Os números do 1º turno indicam um fortalecimento do PT como principal partido político do país, foi o mais votado em nível nacional, com um crescimento expressivo no número de prefeituras e vereadores eleitos (de 186 em 2000 para 400 prefeituras em 2004 no 1º turno e 3.600 vereadores eleitos). Também saiu fortalecido o PSDB como principal partido de oposição ao PT e ao governo, oposição de direita é certo, mas é identificado e capitaliza o voto contra o PT ou o anti-PT.

Não é possível ainda definir quem de fato é o grande ganhador ou beneficiário deste processo eleitoral, porque a disputa em São Paulo pode mediar o peso de uma vitória eleitoral do PT ainda que vença na maioria dos locais onde vai disputar o 2º turno (são 9 capitais e 15 cidades grandes com mais de 200 mil eleitores). O mesmo vale para o PSDB.

Mas é fato que não só houve um fortalecimento expressivo do PT (e do governo, portanto), como também dos partidos mais próximos da atual base governista (PL, PTB e mesmo o PPS), com exceção do PCdoB, que sofreu derrotas importantes em Fortaleza e em São Paulo (na eleição para vereadores). De outro lado, essa eleição sinaliza para uma “oficialização” de que a oposição burguesa ao governo Lula gira em torno do PSDB.

2.A recuperação econômica do país e a conseqüente retomada da popularidade do governo em relação ao 1º semestre ajudaram o PT a se recompor na reta final de campanha e entrar com força na disputa de grandes cidades do país, ainda que tal crescimento não tenha evitado importantes derrotas como Ribeirão Preto e Campinas, o fiasco no Rio de Janeiro e a derrota em 1º turno em São Paulo. A figura em especial do governo Lula, que tem uma credibilidade hoje bem superior ao governo, foi usada diretamente nas campanhas municipais como a de São Paulo e isso beneficiou o PT na reta final, embora os temas nacionais não tenham polarizado esta eleição, marcada que foi pela municipalização do debate sob a ótica de quem é o melhor administrador.

Uma expressão disso, é que o voto no PT não foi um voto de esquerda, ou de mudança como nos processos anteriores, com raras exceções, talvez Fortaleza.

3. As eleições ocorreram sob enorme calmaria e apatia militante, centradas em disputas de enormes máquinas eleitorais/estatais. Por exemplo, o dispêndio de verbas federais para as prefeituras do PT ou aliadas, ou a utilização do peso e da máquina estadual do governo Alckmin em São Paulo em favor de Serra, os boqueiros pagos, a institucionalização de um financiamento de campanha pela via de grandes empresas.

Mas é exatamente esse componente de apatia, de normalidade eleitoral, mesmo em uma conjuntura também atravessada por greves salariais, que expressa uma consolidação do regime democrático-burguês, do mecanismo eleitoral/parlamentar como a via natural por onde se julga os governos e o legislativo. Não há, desse ponto de vista, nenhuma mudança qualitativa na consciência da maioria da população em relação ao regime, em que pese a conjuntura de retomada de lutas sindicais e do início da experiência com o governo.

4. Não está ainda claro qual é o patamar de fortalecimento e hegemonização que vão alcançar o PT e o PSDB como principais partidos do país ou se tal polarização vai ser a marca do processo em 2006. Mas há um evidente enfraquecimento de partidos burgueses e de setores das oligarquias ou da burguesia. Não fosse a vitória de César Maia no Rio de Janeiro (que nunca se sabe em que partido estará na próxima eleição) o fiasco do PFL seria absoluto. O malufismo em São Paulo foi pulverizado, pela primeira vez Maluf esteve isolado, perdeu metade da sua base eleitoral na capital, elegeu apenas 4 vereadores de 55 na Câmara. Assim como ACM, que continua sua trajetória de decadência política (iniciada sob o governo FHC) a ponto de hoje sequer ser hegemônico no PFL. Assim como também foi fragorosamente derrotado o clã Sarney no Maranhão. Ou seja, os partidos tradicionais de setores da burguesia e das oligarquias estão indo a um processo maior de regionalização e sendo obrigados a se alinharem com o governo ou a aceitarem a hegemonia do PSDB no campo da oposição burguesa.

De outro lado, as siglas burguesas que oscilam entre a base governista e surtos de oposição (PSB e PDT) mantém-se cada vez mais como legendas regionais, sem uma cara definida nacionalmente, mas com capacidade expressiva de disputa em vários locais e regiões do país a depender de que setor controla a legenda em um Estado ou mesmo em um cidade. Devem se manter em geral como satélites da base governista em geral, salvo dissidências regionais.

5. Dos grandes partidos tradicionais da burguesia, o PMDB é o que se mantém - ainda que de forma muito contraditória por ser um grande partido-federação de setores e políticos regionais e com quase nenhum perfil nacional definido - como um grande partido, uma espécie de fiel da balança em relação ao que seria um cenário de polarização consolidada entre os dois grandes partidos nacionais cercados de satélites. O PMDB foi o partido que mais elegeu prefeitos no país (a esmagadora maioria em cidades pequenas, é verdade), tem o maior número de vereadores e um razoável poder de barganha na disputa nacional (no Congresso Nacional, por exemplo) e nas disputas regionais. Tende a ficar na base governista (até porque tem ministro no governo Lula), mas com muitas tensões regionais, tensões que já impediram, por exemplo, a aliança nacional para essas eleições, que vinha sendo costurada pelo governo Lula quando da reforma ministerial.

6. Em geral, a esquerda foi derrotada nestas eleições. Por esquerda, entenda-se setores da esquerda do PT e as alternativas de esquerda externas ao PT (PSTU, PCO e PCB).

A ausência do P-SOL nestas eleições como uma alternativa de oposição de esquerda firme e com uma política de frente de esquerda com algum peso para fazer a disputa, não permitiu medir qual é um espaço real de oposição de esquerda no país.

Some-se a isso as dificuldades de setores combativos da esquerda petista em concorrer com a máquina oficial, a não realização de uma campanha de oposição de esquerda por setores da esquerda petista que não se atreveram a tal desafio, o sectarismo do PSTU e também do PCO e temos uma situação onde não foi possível ver o espaço eleitoral de esquerda nestas eleições.

Uma exceção parece ser o caso do PT de Fortaleza, A candidatura de Luizianne capitalizou um voto contra o aparato nacional do PT e do governo que rifou sua candidatura. Ainda que houve uma contradição nessa campanha, na medida em que Luizianne foi apoiada também por cinco ministros do governo Lula e mais o presidente da Câmara, João Paulo Cunha.

Anexo -- Números das eleições no 1º turno

Este levantamento parcial foi feito em um total de 126 cidades, sendo 26 capitais, 46 cidades grandes com mais de 200 mil eleitores (que podem ter 2º turno) e 54 cidades médias e algumas pequenas (com menos de 200 mil eleitores).

O universo eleitoral abrange 49 milhões de eleitores, que estão nos centros urbanos do país, cidades do interior populosas ou com alguma importância econômica ou comercial.

Capitais definidas em 1º turno e partido

Rio de Janeiro (RJ) PFL

Belo Horizonte (MG) PT

Aracajú (SE) PT

Recife (PE) PT

João Pessoa (PB) PSB

São Luis (MA) PDT

Campo Grande (MS) PMDB

Palmas (TO) PT

Macapá (AP) PT

Rio Branco (AC) PT

Boa Vista (RR) PPS

Totais 1º turno por partido

PT 6

PFL 1

PMDB 1

PSB 1

PDT 1

PPS 1

Capitais com 2º turno

São Paulo (SP) PSDB x PT

Vitória (ES) PSDB x PT

Porto Alegre (RS) PT x PPS

Florianópolis (SC) PSDB x PP

Curitiba (PR) PSDB x PT

Goiânia (GO) PMDB x PT

Cuiabá (MT) PT x PSDB

Salvador (BA) PDT x PFL

Maceió (AL) PDT x PSB

Fortaleza (CE) PFL x PT

Natal (RN) PSDB x PSB

Terezina (PI) PSDB x PMDB

Belém (PA) PTB x PT

Manaus (AM) PFL x PSB

Porto Velho (RO) PT x PSB

Observação: São capitais que já eram dirigidas pelo PT: São Paulo, Porto Alegre, BH, Recife, Aracaju, Belém, Goiânia, Macapá.

Totais em disputa no 2º turno por partido

PT 9

PSDB 7

PSB 4

PFL 3

PMDB 2

PDT 2

PPS 1

PP 1

PTB 1

Cidades com mais de 200 mil eleitores definidas no 1º turno

Guarulhos (SP) PT

Jundiaí (SP) PSDB

São Bernardo (SP) PSB

São José dos Campos PSB

Mogi das Cruzes (SP) PSDB

São Vicente (SP) PSB

Carapicuíba (SP) PSDB

Belfort Roxo (RJ) PMDB

Petrópolis (RJ) PSB

São Gonçalo (RJ) PFL

Serra (ES) PDT

Vila Velha (ES) PDT

Canoas (RS) PSDB

Joinvile (SC) PSDB

Feira de Santana (BA) PFL

Aparecida de Goiânia PFL

Olinda (PE) PC do B

Total por partido

PSDB 6

PSB 3

PFL 3

PDT 2

PMDB 1

PT 1

PCdoB 1

Cidades com mais de 200 mil eleitores com 2º turno

Campinas (SP) PSDB x PDT

Diadema PT x PSDB

Mauá (SP) PT x PV

Osasco (SP) PT x PSDB

Ribeirão Preto (SP) PSDB x PMDB

Santo André (SP) PT x PSDB

Santos (SP) PT x PMDB

Sorocaba (SP) PSDB x PFL

Bauru (SP) PDT x PSDB

Piracicaba (SP) PSDB x PPS

S. José Rio Preto(SP) PPS x PFL

Niterói (RJ) PT x PMDB

Duque de Caxias (RJ) PMDB x PDT

Nova Iguaçu (RJ) PT x PMDB

S. João do Meriti (RJ) PMDB x PTB

Campos (RJ) PMDB x PDT

Contagem (MG) PT x PSDB

Juiz de Fora (MG) PTB x PSDB

Montes Claros (MG) PPS x PMDB

Uberlândia (MG) PP x PL

Cariacica (ES) PT x PSDB

Caxias do Sul (RS) PT x PMDB

Pelotas (RS) PT x PPS

Londrina (PR) PT x PSDB

Maringá (PR) PT x PP

Ponta Grossa (PR) PT x PSDB

Anápolis (GO) PT x PSB

Jaboatão (PE) PSDC x PMDB

Campina Grande (PB) PSDB x PMDB

Total por partido na disputa 2º turno

PT 15

PSDB 14

PMDB 11

PDT 4

PPS 4

PFL 2

PTB 2

PP 2

PSB 1

PV 1

PL 1

PSDC 1

Observações:

a)São cidades que eram dirigidas pelo PT antes das eleições: Guarulhos, Santo André, Campinas, Mauá, Ribeirão Preto, Diadema, Piracicaba, Niterói. Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Caxias do Sul, Pelotas, Campina Grande.

b) O PMDB (Moreira Franco) se retirou da disputa do 2º turno em Niterói. A disputa será com o PDT que chegou em 3º.

Resultados em cidades médias com menos de 200 mil eleitores

Aqui se tirou uma mostra de parte das cidades entre 100 e 200 mil eleitores, cidades médias. Há algumas exceções, cidades com menos de 100 mil eleitores, mas que têm alguma importância por serem pólos industriais ou portuários, ou focos de tensão de luta pela terra, etc.

Foram levantadas aqui 54 cidades.

Araraquara (SP) PT

Embu (SP) PT

Franca (SP) PSDB

Jacareí (SP) PT

Presid. Prudente (SP) PTB

Pres. Venceslau (PT) PT

São Caetano (SP) PTB

São Carlos (SP) PT

Taubaté (SP) PSDB

Taboão da Serra (SP) PFL

Itaquaquecetuba (SP) PL

Suzano (SP) PT

Limeria (SP) PDT

Barueri (SP) PPS

Guarujá (SP) PDT

Volta Redonda (RJ) PV

Magé (RJ) PT

Nova Friburgo (RJ) PSB

Betim (MG) PSDB

Gov. Valadares (MG) PSDB

Ipatinga (MG) PMDB

Uberaba (MG) PL

Sete Lagoas (MG) PMDB

Timóteo (MG) PT

Patos de Minas (MG) PP

Nova Lima (MG) PT

Divinópolis (MG) PTB

Gravataí (RS) PT

Novo Hamburgo (RS) PMDB

Passo Fundo (RS) PDT

Sta. Maria (RS) PT

São Leopoldo (RS) PT

Viamão (RS) PT

Rio Grande (RS) PT

Blumenau (SC) PFL

Criciúma (SC) PT

Itajaí (SC) PT

S. José Pinhais (PR) PSDB

Foz do Iguaçu (PR) PDT

Cascavel (PR) PPS

Paranaguá (PR) PDT

Ilhéus (BA) PT

Camaçari (BA) PT

Itabuna (BA) PFL

Vitória ConquistaBA PT

Caruaru (PE) PFL

Petrolina (PE) PPS

Paulista (PE) PPS

Juazeiro Norte (CE) PMDB

Mossoró (RN) PFL

Santarém (PA) PT

Ananindeua (PA) PMDB

Dourados (MS) PT

Rondonópolis (MT) PPS

Totais 54 cidades médias por partido

PT 20

PSDB 06

PMDB 05

PDT 05

PPS 05

PFL 04

PTB 03

PSB 02

Pl 02

PP 01

PV 01

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