Entrevista com Timothy Bancroft-Hinchey

Pergunta: Como acha o Brasil?

Timothy Bancroft-Hinchey (TBH): Eu não acho o Brasil, o avião é que me leva para cá. (Risos). Desculpe, estou a brincar e você está tentando fazer uma entrevista séria. De facto, eu devo dizer que não conheço o Brasil, vou conhecendo, e do pouco que conheço, gosto cada vez mais.

Pergunta: Já cá esteve muitas vezes?

TBH: Não, estive cá três vezes, um total de sensivelmente 30 dias. Estive em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador de Bahia, Recife, Natal, Fortaleza, e algumas vilas e aldeias em Ceará, que conheço melhor, talvez.

Pergunta: E qual foi o lugar que preferiu?

TBH: Todos e nenhuns porque dizer um seria denegrir a imagem dos outros. Estou apaixonado pela maresia em Fortaleza e pela história de Iracema, de José de Alencar, acho São Paulo interessante e acho que a Mãe Natureza foi muito exagerada com o Rio. Bolas, não é justo dar tanta beleza a uma cidade, parece o Paraíso, lindíssima cidade.

Pergunta: E acha que conhece a realidade do Brasil?

TBH: Quem conhece essa realidade? Eu não vou ser pretensioso e não vou fingir que sei coisas que sei que não sei. No entanto, qual é a realidade do Brasil? Será aquela realidade acerca da qual todos falam?

Dos sem terra, dos sem casa, dos meninos da rua, das favelas, da Amazónia? Essas são temas que a imprensa internacional gosta de pegar e examinar sem muitas vezes aperceber daquilo que está a dizer.

Eu não conheço o Brasil, mas estive em várias casas particulares, falei com várias famílias, fiquei com elas até, já passei um Natal no Brasil, com brasileiros, estive em favelas, falei com os sem casa e sem terra, alguns, falei com padres, falei com bêbados, com drogados, com advogados, com engenheiros, com pessoas do campo, com empregadas domésticas e de escritório e não foi esse Brasil que eu vi, nem que eu vejo.

Eu não vejo o Brasil em termos de constantes problemas que os estrangeiros gostam de apontar. Vejo alguns problemas, claro, até vejo muitas problemas mas em geral, o Brasil é um país que está a afirmar-se, que está a crescer, que finalmente está a assumir seu lugar no palco internacional, está a desenvolver um papel cada vez mais crescente dentro da CPLP e está a desenvolver laços cada vez mais estreitos com a Federação Russa.

Pergunta: O Timothy é russo?

TBH: Não, sou produto de várias nacionalidades e sou duma daquelas famílias que nasceram um pouco por toda a parte, mistura de quatro nacionalidades mas trabalho com russos e a Rússia há muitos anos. Por exemplo, trabalho diariamente com russos no meu escritório em Lisboa e estou em contacto com Moscovo talvez 30 ou 40 vezes por dia, todos os dias, e recebo muitos russos em Lisboa, onde eu moro, por isso…vou ganhando algum calo.

Pergunta: Fala russo?

TBH: Como falo português, não. Tenho 25 anos de Portugal , PALOPS e agora o Brasil, e minha esposa é brasileira, mas sei algum russo e estudo todos os dias um pouco para melhorar mais ainda.

(Como fosse de propósito, Timothy atende uma chamada no telefone celular em russo e parece fluente)

Pergunta: Aquilo era russo? O senhor fala muito bem.

TBH: Isso porque você não percebeu o que estava dizendo. OK sei falar russo mas meu português é melhor.

Pergunta: Quantas línguas fala?

TBH: Bem, falar bem é uma coisa, português e inglês, russo mais ou menos. Já falei francês e castelhano, alemão, já esqueci mas sei ler, compreendo o italiano, romeno, um pouco de albanês, holandês e Afrikaans.

Pergunta: Puxa! Comunicar é consigo!

TBH: Comunicar é a palavra que mais gosto. Somos todos cidadãos duma aldeia global, somos todos irmãos que vivem à volta dum grande lago, chamado o Oceano. Temos de comunicar uns com os outros para sabermos quais as necessidades e para ajudarmos uns aos outros.

Pergunta: Acha que a Rússia está numa posição de ajudar o mundo?

TBH: A Federação Russa é uma nação que evoluiu da União Soviética. Os primeiros objectivos do Comunismo logrados a cem por cento, nomeadamente o desenvolvimento duma sociedade medieval numa primeira linha de desenvolvimento sócio-económico, científico e cultural em duas gerações, fez com que outro modelo fosse experimentado e penso, aliás, sinto, que a maioria dos russos estão satisfeitos com aquilo que têm hoje, embora o PIB de hoje seja sensivelmente metade daquilo que era no final da URSS.

A Federação Russa segue a mesma linha em termos de política externa que seguia a URSS, nomeadamente a procura da paz e de fraternidade, o respeito pela lei internacional.

Como se vê e como sempre se viu, o grande inimigo deste estado de existência é Washington, os Estados Unidos da América, que acaba de fazer mais um acto de chacina em grande escala e que tenta justificar aquilo que fez com frases do tipo “O mundo este melhor”.

Pergunta: E não está?

TBH: Como? Quando há numa aldeia um homem que bebe e que bate na mulher e quando um dia o vizinho decide pegar fogo à casa do bêbado, matá-lo, matar suas crianças, seu cachorro, destruir totalmente sua horta, vender sua casa ao irmão por um preço de bagatela e violar sua mulher…se pode dizer que as coisas estão melhor?

Pergunta: Soluções para o futuro?

TBH: Para o Brasil, continuar a trabalhar. O Brasil é um país sério, está cheio de boa gente, de pessoas competentes e não aceito que o Brasil é aquela espelunca de que falam os estrangeiros, é um grande país, tem problemas e está a resolvê-los. Problemas brasileiros, resolvidos por brasileiros. Assim é bonito. O brasileiro não é estúpido.

Basta da porcaria de histórias nos jornais acerca da internacionalização do Amazonas. Que disparate. Amazónia é brasileira, foi sempre brasileira e sempre será.

Ninguém vence o Brasil, nem na bola nem em nada, quando o brasileiro começa a pensar a sério, aí, esse país assume o tamanho de continente. Cresce, respira, se assume.

Pergunta: Uma pergunta final…gostaria de viver no Brasil?

TBH: Já tenho cá um pé e vou voltando cada vez mais. Estou liderando um grupo de investimento da Federação Russa no Brasil e estou investigando várias áreas de colaboração. A Rússia gosta do Brasil, aliás quem não gosta?

Pergunta: Os portugueses?

TBH: Não, deixe lá esses coitados, eles nem sabem daquilo que gostam, nem deles próprios gostam, estão sempre a queixar de tudo mas afinal não fazem mal a ninguém.

Pergunta: Mas o Timothy tem sido duro contra a política de imigração deles.

TBH: Com certeza, e continuarei sempre a vigiar, mas lembre que há muitos portugueses que pensam como eu e que trabalham voluntariamente para que o fascismo e estupidez institucional perante os membros do antigo “império português” seja atenuada e que os portugueses comecem a assumir o facto que há muito mais portugueses emigrantes do que imigrantes em Portugal.

Se o Brasil começasse a tratar os portugueses como eles tratam os brasileiros…

Pergunta: Uma palavra final?

TBH: Um abraço para todos os brasileiros. Vos amo, do fundo do meu coração. Levantem esse país, se juntem e tenham orgulho nas vossas comunidades e cidades. Não vão pela via mais fácil, lutem para progredirem e atingirem a verdadeira justiça social.

Melton Nascimento: Muito obrigado

TBH: O prazer foi meu. Quero é uma cópia disso para meu jornal.

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