Luciana registra no plenário a truculência da PM em Goiânia

Acabo de chegar da cidade de Goiânia, onde participei da missa de 7º dia dos 2 jovens brutalmente assassinados pela Polícia Militar do Estado de Goiás.

Foram mais de 9 meses de ocupação de um terreno cujo dono não paga IPTU à Prefeitura há mais de duas décadas. Aquelas pessoas construíram ali os seus barracos e, durante as eleições, escutaram do Governador do Estado, Marconi Perillo, e de todos os candidatos à Prefeitura de Goiânia, inclusive do vencedor, Iris Rezende, a promessa de que desapropriariam a área e assentariam as 4 mil famílias.

Os governos cederam às pressões das imobiliárias, e o Governo Estadual, principal responsável pelo massacre ocorrido há uma semana, executou a reintegração de posse ordenada pela Justiça.

É preciso corrigir aqui o que disse o Deputado João Campos, que, não por coincidência, é do PSDB de Goiás. Segundo S.Exa., as organizações de direitos humanos, a Igreja e o Ministério Público acompanharam e aprovaram todo o processo de reintegração de posse. Isso é mentira. As organizações de direitos humanos, o Ministério Público, na figura da Procuradora Laura, e a Igreja estão indignados e perplexos com tamanha violência e brutalidade.

O que ocorreu em Goiânia não foi um confronto entre um grupo de sem-tetos e a Polícia Militar. Foi um massacre. Os 2 jovens que morreram foram executados pela polícia. Além disso, há suspeitas de que muitos outros tenham sido mortos.

Ao longo desta semana, 19 corpos de homens baleados foram achados em terrenos baldios ou na beira das estradas dos arredores da cidade de Goiânia. O IML está averiguando para saber quando morreram essas pessoas, porque há fortes denúncias de que tenham sido mortas durante a desocupação. Muitas testemunhas dizem ter visto pessoas assassinadas, cujos corpos não apareceram.

Hoje as lideranças do movimento estão reunidas com o Ministro Olívio Dutra para reivindicar que o Governo Federal entre no caso para ajudar no processo de reconstrução das casas.

A Prefeitura acena com a possibilidade de desapropriação da área. É preciso que o Governo Federal colabore colocando dinheiro nesse processo. Por isso, amanhã as lideranças do movimento têm audiência com o Ministro da Justiça para reivindicar a federalização da investigação desses crimes. Só assim teremos a mínima possibilidade de que a impunidade mais uma vez não seja a marca de uma ação policial ordenada por um Governo Estadual que não teve absolutamente nenhum constrangimento em jogar no lixo as promessas gravadas de não executar a reintegração de posse.

É preciso também que o crime de Goiânia seja federalizado. A presença do Ministro Nilmário Miranda, na quarta-feira da semana passada, em Goiânia, foi lamentável. E S.Exa. ainda declarou que não houve abuso policial. Houve abuso policial e político, demagogia, falsas promessas, violência e massacre.

É preciso que os responsáveis sejam punidos, que esses trabalhadores que lutam apenas por uma casa para morar tenham a sua reivindicação atendida. O Governo Federal não se pode omitir como tem-se omitido atéo presente momento, na busca pelos responsáveis por esse crimes e por uma política habitacional para Goiânia e para todo o Brasil. Muito obrigada.

Luciana GENRO

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