Brasileiro é engraçado

O clamor que acompanhou a eleição de Lula quase se ouviu em Portugal. Finalmente, após anos de governo de direita, que levou o povo à beira do desespero, entrou um raio de esperança no Palácio do Planalto. A menos que um ano na presidência, Lula agora se vê rodeado por tantos Cassius e Brutus que nem lhe deram tempo para produzir o que prometeu.

Se o PSDB acha que pode governar tão bem, se o PSDB é de repente a nova esperança do Brasil, se o PSDB tem tantas políticas inovadoras, se o PSDB tem tantos planos para a saúde, então por quê é que este partido não produziu nada em tantos anos no poder?

Se o PSDB é tão bom, se o PSDB tem o cidadão brasileiro no seu coração, por quê é que Luiz Inácio Lula da Silva está no Planalto e não José Serra?

Finalmente, o Brasil tem um presidente que percebe da vida e que transpira da sua pele o suor suado por todo o povão brasileiro. Pela primeira vez, temos um homem que não vivia numa redoma política, confortavelmente aconchegado em Brasília, a léguas da realidade do dia a dia do cidadão comum.

Finalmente, o Brasil tem um presidente com um programa socialmente relevante, um programa audaz e inovador. Finalmente o Brasil tem um presidente que tem a sensatez de não dizer NÂO aos Estados Unidos da América, mas também não dizer sim. Finalmente o Brasil tem um presidente que luta para criar uma força regional, como contrapartido ao poderio de Washington.

Finalmente Brasil tem um presidente com um discurso credível Latino-Americano, com um discurso que transborda as fronteiras do país. Finalmente Brasil tem um presidente em que o povão, não só do Brasil, acredita.

Mas o que faz a esquerda? Divide-se, como sempre. Uns porque Lula não é suficientemente da esquerda, outros porque é da direita, outros porque...nem se sabe por quê.. Esta tendência suicida da esquerda teve repercussões catastróficas em França na última eleição presidencial, quando uma esquerda fragmentada deu a hipótese do Fascista Le Pen discutir as presidenciais com Chirac.

Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento político saberá que Lula não pode entrar de rompante no Planalto e satisfazer seus desejos pessoais. Como o homem de Estado que soube ser, Lula tem de gerir um país, que comparado com outros, é já um Continente.

Mantendo o poder financeiro de São Paulo no seu lado, trabalhando com Nestor Kirchner para criar um eixo de poder nesta parte da América Latina, Lula concentra a riqueza do país nas mãos dos brasileiros e faz com que Washington e a sua ALCA falam com o Brasil nos seus termos.

Será tão difícil a esquerda no Brasil perceber isso, e será tão difícil perceber que Lula precisa de tempo para apresentar obra feita?

O brasileiro é engraçado. Cada vez que entra um raio de esperança na casa, ele bate com a porta e se suicida. Se a esquerda continuar assim, o Brasil enfrentará outra vez 30 anos de governos de direita. Tão curta que é a memória.

Márcia MIRANDA PRAVDA.Ru

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