OSCAR CORRÊA

Tive a honra de conhecer e me tornar amigo de Oscar Corrêa pelos idos de 1950. Dez anos antes, ele já dava mostras de seu invulgar talento e possuía plena consciência de sua pujança intelectual, com largas e fortes estruturas em seu temperamento forte e combativo.

Em tradução do poeta italiano Cecco Angiolieri, alguns de seus versos se justapunham com precisão ao vigor do jovem advogado: "Se eu fosse fogo, queimaria o mundo/ se fosse vento, eu o tempestuaria/ se fosse água, logo o inundaria/ e se Deus fosse, o mandaria ao fundo..." O jovem deputado à Assembléia Constituinte Mineira encontrou entre os pares um homem que por ele possuía verdadeiro encantamento.

Era o deputado pessedista Badaró Júnior, de outra geração, mais sereno, tranqüilo e também dotado dos mesmos traços culturais do jovem colega. Vale recordar que a Constituinte de 47 era composta de homens de boa cultura humanística, jurídica e talento oratório. Nesse meio sobressaia-se Oscar Corrêa, aliando à combatividade e destemor os apetrechos de sua erudição, cultura e eloqüência. Reelege-se Oscar em 1950, coincidindo com a eleição de Juscelino Kubitschek, a quem dedicou severa e intransigente oposição, somente apaziguada quando os anos raleavam e embranqueciam os últimos cabelos.

Entrei para a Faculdade de Direito em 1951 e logo me defrontei com intricada questão de economia política. Oscar havia vencido renhido concurso para a cátedra de economia. O filho do pessedista e também iniciante nas artes do pessedismo, sabedor da amizade do genitor, procura o professor Oscar Corrêa. Tal como meu pai, tornei-me cativo de sua gentileza e encantado por sua inteligência.

Desde então mereci a honra de sua amizade, desfrutando, não raras vezes, o privilégio de sua companhia e atenção. Quando cheguei à Câmara Federal em 1967, de lá já se havia afastado o vibrante parlamentar udenista, em firme e memorável protesto contra os desvios verificados na condução do processo revolucionário.

Sempre a mesma coragem cívica e a indomável bravura pessoal. Em texto escrito em sua homenagem, o jornalista Villas Boas Correia conta ter ouvido de Oscar interessante revelação sobre a sua verdadeira mania de trabalhar. Não conjugava o verbo descansar, aproveitando todos os minutos para estar fazendo alguma coisa de útil.

Acompanhei a trajetória vitoriosa de Oscar Corrêa, apreciando seus discursos, lendo seus artigos e pareceres, permanentemente prisioneiro daquela admiração que se instalou em minha mente e em meu coração a partir do momento em que fui conquistado pela sua sabedoria, eloqüência e, principalmente, seu destemor cívico. Para ele sempre valeu o apotegma da milenar sapiência chinesa de que "o valor e o fogo se assemelham. Em qualquer posição em que se encontram, estão sempre voltados para o alto".

Quando fui eleito para a Academia Mineira de Letras, o antigo professor foi encarregado por Vivaldi Moreira de proferir o discurso de recepção ao novo acadêmico. Esta peça oratória está guardada para sempre em meus escaninhos como inigualável troféu.

Depois de trepidante vida parlamentar e recolhido à tranqüilidade da vida acadêmica, com passagem triunfante pelo Supremo Tribunal Federal, Ministério da Justiça, diversas cátedras universitárias, dedicava à tradução da Divina Comédia, obra que teve seu lançamento um dia após a morte. Com o título de "Viagem com Dante", neste trabalho de fôlego cujo sucesso não pôde prelibar, Oscar revelou outras facetas de seu talento multiforme, a veia poética desabrochada tardiamente tão logo cessaram as trepidações de uma vida devotada ao Brasil, ao direito, à cultura e a sempre honrar sua terra natal.

Vitor Hugo, ao discursar no sepultamento de Balzac, disse que o homem em vida constrói seu pedestal. A posteridade é que lhe ergue a estátua. Oscar terá erguida a dele na grande dimensão de seu patriotismo e dos exemplos de cultura e dignidade que legou.

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Author`s name Pravda.Ru Jornal
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